Lago escuro
sombras e cinzas
Um corpo flutuando
no ar, no rio, nos
sonhos
Um vácuo desdobra
meu peito
A existência e a
decadência
reunidas, assistidas
A criança caída e o
silêncio
O escândalo e a
indecência
Flashes, fotos,
fúria
Não encontro razão
Em meus livros e
bíblias
em minhas cartas e
tintas
Não ocorre, não
socorre
apenas olha a
imensidão
De sentimentos e
vícios
de entimemas e ócios
Estou encurvado
espinha dorsal
arqueada
perante essa
sensação
vaga e fugaz
de que não há causas
e não há
consequências
Cursos e decursos
são apenas a ressaca
De uma noite mal
pensada
De um pesadelo em
consciência
De uma morte sem
óbito
Carrego esse cadáver
para todo lado
Carrego essa culpa
em meu colo
Cuido para que não
me mate de súbito
respeitando o meu
inalienável direito
a um fim gradual,
frio e calculado
na dosagem cruenta
de um conta-gotas