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terça-feira, 20 de outubro de 2015

Entre dois mundos


Estou perdido entre dois mundos
De um lado, o faz-de-conta, a fantasia
De outro, a dureza, o concreto, a realidade
Estes dois mundos são duas casas
Quando canso de uma, me refugio na outra
Quando me frustro, mudo logo as paredes, as cortinas
E assim vivo, existo, me habito
Como um exilado de si mesmo
Como náufrago por opção, que vive ali, só
Na ilha deserta, à deriva, à espera
Mas sabendo que logo ali tem um barquinho
E que pode voltar à civilização quando bem entender
Sou assim, eu e meus dois mundos
Vivendo essa orgia, essa poligamia
Sem medo de me prender a tabus
Sem medo de estar certo ou errado
Carregando no peito,
Às vezes aberto, às vezes fechado
Única e unívoca certeza
Ser feliz é o que o importa

O resto é outro mundo

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Força Maior


O badalar de um sino vigilante
Tira de nós a perspectiva expectante
Nos eleva à condição ativa,
Nos assenhora das decisões de vida
Vamos em frente, despertando os inanimados,
Marchando intrépidos pela roda vida
Combatendo ferozmente toda a mortal tirania,
Toda a ferida aberta da traição implícita
Não vamos desistir, não vamos permitir que as forças ocultas se levantem
Que o mal desça à Vila para trazer desespero e rebeldia
A Força Maior nos guiará para vitória profetizada em versos e melodia

Estrada escarlate


Beijo, segredo, tesão
Sob o véu da noite
Nossos corpos se condensam,
Desmancham-se, derretem por completo
Entre paixões e faíscas, fogos e cortinas
Meu suspiro tangencia seu orgasmo
Seus dedos me atingem o ponto fraco
E a esse delírio, frenesi, nos entregamos
Sem mais o medo do antes ou do agora
Nesse pulsar tão poderoso e tântrico
Não mais nos importamos com nada
Nem mesmo com a possibilidade do flagra
O ruído da tranca se abrindo
A chave penetrando a fechadura
A maçaneta girando febril
E a iminência do inesperado
O corpo prometido em outras mãos
A boca exclusiva em outros lábios
Os dorsos marginais encruzilhados
E agora nada mais importa
Nem mesmo que estejamos sendo observados
Nem mesmo o grito agudo e o choro do outro lado
Não extraviaremos nosso prazer
Não deixaremos de trilhar até o fim

Essa estrada escarlate de luxúria e pecado.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Soberano



Sou do tempo dos pés descalços
Dos beijos e abraços por acaso
Sem muitos motivos ou juízos
Sou do tempo em que palavra bastava
Que assinatura não era necessária
Hoje vejo que tudo é descartável
A declaração de amor, a notícia no jornal
No virar do dia, no virar da página
Nada mais tem o valor exato ou de antes
Sinto um pouco essa insegurança, essa incerteza
Por que será que nada mais é tão sólido?
As convicções, os planos, as conquistas
Tudo parece ser perder, se desmanchar
Feito um castelo de cartas ou poeira ao vento
O aperto de mão nada mais significa?
O beijo na boca é só um instante, um momento?
E a garantia de que tudo seria para sempre?
Será mesmo que somos apenas carbono?
Matéria animada a caminho do inanimado?
Imagino e acredito, de coração, que não.
Seja por teimosia, seja por fantasia
Mas sou como manto alvinegro pendurado no varal
Que luta heroicamente contra a tempestade vindoura
Faço fé no futuro, mas jamais menosprezo o passado
Dar as costas à história é jogar contra nossa própria construção
Que identidade tem quem nega sua origem ou não se firma?
Tomar posição é tomar as rédeas do Destino, ou pelo menos tentar
É assim que vejo tudo, é assim que enfrento meu escuro
É tateando nas sombras que valorizo a luz da sabedoria
Os perigos da vida é que me dão o valor da família
Enfim, embora muito fique para trás para tantos
O que ficou, para mim, ainda está lá, para sempre
E com essa lágrima saudosa escorrendo o olhar
Eu faço respeitosa homenagem a quem comigo batalhou
Tudo o que construímos é perene e inalienável
Tudo o que edificamos é obra da eternidade
E isso me enche de tanto orgulho e esperança
Que vou em frente e à luta
Na plena confiança de que estamos no hoje
Prestando honras ao ontem e lapidando a estrada
Para que o amanhã seja soberano e pleno para todos.

Entre tantos e poucos


Eu quero liberdade, eu quero mais do que vaidade
Quero ser lindo, mais por dentro do que por fora
Quero ser vivo, ativo, bem-vindo
Quero braços abertos, sorrisos e gritos
Eu quero ver toda a gente cantando
Mesmo que saia desafinado ou sem ritmo
Quero calor humano, fogo amigo
E assim se vive, com amor, com perigo
E essa aventura maluca chamada vida
Não tem fim, não tem começo
Ela é apenas o meio, o looping
É a metáfora do nada
Metonímia de um todo
É a vida, ela é linda e radiante
E dela quero tudo a cada dia, a cada despertar
Vida, amor, poesia, boemia...
Nessas esquinas entre tantos e poucos
Nos encontramos, nos amamos, nos perdemos
Mas esse é um jogo delicioso, imprevisível
Porque nele todos ganham, todos são vencedores
Isso é o amor, o jogo aberto
Pelo meio, pelos flancos, por fora, por dentro
Jogo que se joga sem medo, sem preconceito
A única regra é a honestidade, sinceridade
Então é isso, faça seu jogo, se movimente
E entre no clima cada vez mais quente
Talvez em algum recôndito
A gente se encontre, se lembre
E talvez nesse ponto, nessa circunstância
Nossos sorrisos se confundam, se iludam
E nossos rostos se encontrem no infinito de um segundo

E seja para sempre aquele beijo que para todos nunca aconteceu...

Não seja um rascunho


Ela tem medo, mas medo de que?
Ela tem sonhos, mas sonha com o que?
Ela tem uma vida, mas vive para que?
Para realizar sonhos ou se esconder do medo?
E você? Vivar a sonhar ou a temer?
Vive como quem se joga de um avião
Ou como quem se esconde sob o edredom?
E aí? Como é, como fica, como será?
Vai ficar mesmo nas sombras, fora do jogo?
Isso é uma lástima, tanta gente querendo brincar
E você se perdendo entre os monstros invisíveis
Não seja tímida, não seja um rascunho
A vida é um passeio, uma viagem ao redor do mundo
Então é isso, se arrisque, se jogue, ouse e aposte
Nada pode mudar o que você fez, 
Nada pode apagar sua marca.
Mas se você não sai à caça, à luta
Sempre haverá aquela dor de consciência
Lhe culpando, torturante, com o indicador em riste.

Se eu fosse um Beatle


Se eu fosse um Beatle, iria amar intensamente, iria amar a cada dia mulheres, homens, jovens, vividos, enfim, todos que pudessem escutar e dançar minha música, renovados e frescos amores. Eu iria voar pelos palcos, semear paixões, despertar a melodia que habita cada coração amargurado. Se eu fosse um Beatle, beberia ainda mais, farrearia, teria muitos amigos e menos juízo. Ah, se eu fosse um Beatle, não teria muito tempo para família e coisas corriqueiras da vida, tudo seria tão importante e emergente que nada mais faria além de tocar para o mundo e fazer dinheiro. Dinheiro esse que certamente eu queimaria com garotas, rapazes, drogas, luxos, sussurros e vazios. Sendo um Beatle, não veria meus filhos crescerem, perderia as primeiras palavras, os primeiros passos, o primeiro nado, o primeiro tombo de bicicleta. Se um Beatle fosse eu, quem seria a minha pessoa? Quem amaria por mim, quem escreveria minhas letras e viveria minha história? John, Paul, George ou Ringo? Pensando bem, não queria ser um Beatle, prefiro assim: eles lá a cantar e eu aqui a aplaudir. E assim é, simples, basta que eu seja o meu melhor, esse é o caminho para cada um de nós ser o seu próprio Beatle. 

Procura


Tudo o que você quer deve ser pensado, pensado se é mesmo necessário, útil e produtivo e não apenas impulso, espasmo de mero consumismo, capricho. Não digo que não devemos ter, mas isso não é o mais importante, o essencial. De nada adianta a matéria se nosso coração não carrega nada, há muito o Mestre nos ensinou que o tesouro da Terra valor nenhum carrega perante os portais dos Céus. Então, em verdade, lhe pergunto, vale a pena tanto se matar para ter algo que pode escorregar por entre os dedos, por entre os poros? Vale mesmo tanto sacrifício em prol de algo que pode se perder tão facilmente, com tanta fragilidade? Sabe o que nunca se perde? O Amor conquistado, os Sentimentos semeados e a Família construída. Tudo isso vamos carregar para onde formos, onde nossos pés espirituais alcançarem. Então fica essa reflexão, esse pensamento sobre o que são prioridades e necessidades. Ame, abrace, expresse seus sentimentos, revele suas intenções. Deus tem muito para nos oferecer, basta que saibamos o que tanto procuramos.

Saudade...


Saudade, é dar algo a mais, é deixar um sorriso para trás, é dizer algo que faz alegria, é ir além da pura melancolia, ah, saudade, sem forma, cor ou cheiro, mas em nós traz uma sensação de vazio que só a presença requerida torna tudo de novo um recheio, receio?, tenho não, tenho apenas essa larga impressão de que algo nos falta, nos salta aos aos olhos mesmo sem estar ali, ali onde? ali quem? ali mesmo, num cantinho do coração, aquele pedacinho que ficou de quem tanto nos marcou pelas dores, amores, sabores e frescores; ao final de tudo, talvez não haja algo a dizer, tudo a ser dito se tornaria repetitivo, monótono, redundante, mas que porra é essa? que medo é esse de dizer em voz alta a falta que faz uma pessoa? que medo esse de perder o que não se tem, de se afastar daquilo que já está longe? saudade não é mesmo racional, talvez seja um diabinho a rir de nossos desencontros e desesperanças; mas temos fé, fé inabalável no que brotou ruidosamente em nossos peitos, naquilo que nasceu criança e se tornou gigante, tantas palavras e ainda assim a distância entre a seta e o alvo continua a mesma, continua absurda, abissal; que vontade de voar, remar, teletransportar pelo cosmo tempo-espaço, só pelo gosto saudoso de um abraço que a eternidade se encarregou de alojar na pedra bruta que nosso miocárdio representa... saudade, essa danada vaidade que refletimos no alheio, no que está ali entre o fim e o meio, entre o que nos significa e nos silencia, saudade dói, mas também nos cura porque dá um motivo simples para seguirmos em frente, apesar de toda treva ao derredor; obrigado, saudade, obrigado por ser assim: um tanto remédio e um tanto veneno; obrigado por nos fragilizar e por nos ensinar que ainda há algo de bom no coração de cada ser humano.

Ser mulher


Beijos e abraços fazem mais sentido em pé ou na horizontal? Por que nunca nos falaram que amar vai além do ato, das falsas promessas e da amizade colorida? Confesso, não sou bom com as coisas do amor. Tenho um olhar de cão para os sentimentos, não enxergo assim tantos tons, já as mulheres, elas sim enxergam tudo, enxergam as tantas cores e as tantas nuances, todos os tons e suas matizes. Só mesmo as mulheres para enxergarem cinquenta tons no cinza, enxergarem gradações na mistura do preto com o branco (carbono, grafite, prata, chumbo, cinza-metálico...); para mim e para a maioria dos homens, cinza é cinza e pronto. Como podemos ser tão estúpidos, retilíneos, previsíveis? Sei que somos mais felizes por sermos mais ignorantes, por sermos menos inteligentes emocionalmente falando. Mas isso, no fundo, me incomoda. Sou homem, seu disso, gosto de mulheres com roupas curtas, de cerveja gelada, carros possantes e futebol. Mas é só isso? Não posso mais me aperfeiçoar, aprender a ser menos raso? Às vezes, sinto que se uma mosca se jogasse em mim, ela nem se afogaria, pois tenho a profundidade de um pires. Mulheres choram e não entendo. Mulheres querem algo sem dizer e sofremos junto com elas por não descobrir o quê. Elas querem um abraço sem pedir, um telefonema inesperado, uma palavra de apoio, mesmo quando parecem sólidas e implacáveis. Quero esse poder telepático delas, esse poder que as fazem nos entender tão bem e sofrer tanto com nossa incompreensão. Enfim, quero aflorar esse meu lado feminino, chafurdar nas águas do que vai além do lógico e óbvio. Enfim, quero aprender a ser mulher para me tornar um homem melhor.

Soberano tempo


Tempo há para tudo, até mesmo para a falta de tempo. Há o tempo de aprender, de ouvir, de arriscar. O tempo passa, mas nunca deixa de ser o tempo um peso a nosso favor. Pouco mais, ali na frente, chega o tempo da sabedoria, das decisões, das reflexões exaustivas antes de um passo frio e calculado. É esse o tempo em que paixão vira projeto e amor uma rotina. É o tempo da construção dos valores, da formação da família e do pragmatismo absoluto. O tempo passa, voa um pouco adiante, deixando suas marcas e seus escritos, nos transformando em heróis de nosso próprio desconhecido. Chega o novo tempo, o tempo em que há muito tempo e não mais tanto vigor. As dores físicas chegam, mas com ela chegam também a vontade de ensinar e compartilhar. Histórias são tantas e a saudade também vira uma peça a mais na estante de nosso próprio museu. Cada momento nesse tempo é especial e valorizado ao máximo. Nesse tempo, nos damos luxos e também apostamos mais, largamos a correia do arrependimento para dar um passo além, sem tanto medo, sem tanto aprisionamento. O tempo passa, o tempo chega e a verdade é uma só: esse tempo que vem, que vai, que carrega, sobrecarrega, que castiga e depois alivia, sempre terá sua vez e sempre teremos com ele muito mais a aprender do que a ensinar, pois, no fim de tudo, nada há mais do que o pleno e soberano tempo.

Braços abertos


Mal nos conhecemos e ela me disse que iria viajar. Viagem longa, coisa de meses. Não sei ao certo se foi só por aquilo, mas senti o peito apertar e uma súplica irresistível de lhe ver mais uma vez. Ela disse que poderíamos nos ver, não seria fácil. Havia muita coisa a organizar, empacotar e despachar. Também havia o incontáveis amigos, as famílias e os tantos eventos para se despedir adequadamente de cada um. Fiquei esperançoso, forcei a agenda, achatei compromissos e encontrei um tempo que seria impossível achar na matemática do relógio ou do calendário. Avisei a ela. Aquele dia eu estaria disponível. Um dia que também seria livre para ela. Sim, eu estudei todas as possibilidades, pensei em tudo, nada escapou às minhas elucubrações. Mas ela disse que não podia, arranjou uma desculpa qualquer e se perdeu entre meus dedos chorosos. Aí eu percebi que uma coisa sim escapou dos meus cálculos: a vontade dela. Sim, quando se trata de seres humanos, não é só nossa vontade, nossa força de realização que vale; a outra metade também precisa se interessar, estar a fim, se sintonizar. Ficou na saudade o último abraço, o último beijo, mas eu entendi, enfim, algo muito valioso: uma pessoa não entra à força no coração de outra, esse processo é naturalmente químico, não adianta tentar ser perfeito e certinho, se a outra pessoa não quer, simplesmente não rola, não acontece. E, depois disso, uma outra lição importante vem à tona. Somos valiosos do jeito que somos, se houve rejeição, beleza, é do jogo, vamos sacudir a poeira e seguir em frente. Enquanto algumas viajam, outras continuam em terra firme e de braços abertos para nos receber.

Jornada universal




A mais pura fantasia é tão fácil ser vivida
Mais fácil do que se imagina e do que possa imaginar
De tão torpe que vivemos perante o passar do tempo
Estamos, na verdade, absorvendo essa vida devagar
E na minha sobriedade eu vivo a mocidade
Cuidando para que no futuro, quando a idade chegar
Que chegue na janela, com formosura bela
Feito donzela perdida a me inebriar
Peço, acima de tudo, com fé, foco, firmeza
Que nas jornadas física, mental e espiritual
Deus me abençoe e me empenhe
Nas lutas as quais tenho de travar
Para eu não mais me abandonar, olhar para trás
E que, daqui até o final, seja tudo pleno e plácido
Como um jogo, como um clássico
Onde cada emoção é vivida intensamente, com paixão
Onde cada gesto é de amor e leva à paz
Assim sendo, não mais me entendo triste ou desiludido
Meu caminhar é longo, mas a certeza tenho de que não mais farei isso só
Pois muitos estão comigo e muitos ainda estarão
Esse é apenas o começo de mais uma linda e poética história
De superação universal, do homem contra seus próprios inimigos
Seus amargos e intrínsecos instintos


Eduardo Brugiolo e Daniel Macário