Total de visualizações de página

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Braços abertos


Mal nos conhecemos e ela me disse que iria viajar. Viagem longa, coisa de meses. Não sei ao certo se foi só por aquilo, mas senti o peito apertar e uma súplica irresistível de lhe ver mais uma vez. Ela disse que poderíamos nos ver, não seria fácil. Havia muita coisa a organizar, empacotar e despachar. Também havia o incontáveis amigos, as famílias e os tantos eventos para se despedir adequadamente de cada um. Fiquei esperançoso, forcei a agenda, achatei compromissos e encontrei um tempo que seria impossível achar na matemática do relógio ou do calendário. Avisei a ela. Aquele dia eu estaria disponível. Um dia que também seria livre para ela. Sim, eu estudei todas as possibilidades, pensei em tudo, nada escapou às minhas elucubrações. Mas ela disse que não podia, arranjou uma desculpa qualquer e se perdeu entre meus dedos chorosos. Aí eu percebi que uma coisa sim escapou dos meus cálculos: a vontade dela. Sim, quando se trata de seres humanos, não é só nossa vontade, nossa força de realização que vale; a outra metade também precisa se interessar, estar a fim, se sintonizar. Ficou na saudade o último abraço, o último beijo, mas eu entendi, enfim, algo muito valioso: uma pessoa não entra à força no coração de outra, esse processo é naturalmente químico, não adianta tentar ser perfeito e certinho, se a outra pessoa não quer, simplesmente não rola, não acontece. E, depois disso, uma outra lição importante vem à tona. Somos valiosos do jeito que somos, se houve rejeição, beleza, é do jogo, vamos sacudir a poeira e seguir em frente. Enquanto algumas viajam, outras continuam em terra firme e de braços abertos para nos receber.

Nenhum comentário:

Postar um comentário