A noite do dia quatro de maio de 2011 promete ser inesquecível para o futebol brasileiro. Em uma só tacada, quatro representantes do futebol canarinho foram eliminados da Taça Libertadores da América.
Em Sete Lagoas, o Cruzeiro, invicto e franco favorito ao título, viu as chances de faturar mais um troféu escaparem nos dois gols sofridos por Fábio. Embora muito mais time do que o Once Caldas, da Colômbia, a equipe celeste derrapou no próprio nervosismo. Não soube apresentar o vistoso futebol da primeira fase e muito menos o pragmático recurso de segurar o resulto que lhe é favorável. Apático e descontrolado, o time de Belo Horizonte foi sofrendo gols e perdendo a vantagem obtida após o êxito por 2 a 1 fora de casa. Tenso, o técnico Cuca não soube transmitir serenidade nem mexer na equipe de forma eficiente. As alterações surtiram poucos efeitos e os colombianos, com muito brio, asseguraram o resultado de 2 a 0, que lhes garantiu passagem para a próxima fase. Trata-se, com certeza, do mais duro revés na série de traumas que Cuca acumula em sua carreira.
O Fluminense, que construiu boa vantagem no jogo de ida após vitória por 3 a 1, abusou da tática de se defender, de jogar atrás da linha da bola, procurando afastar os perigosos cruzamentos e chutes de média distância. Encurralado em seu campo, o tricolor carioca testemunhou um bombardeio à meta defendida por Ricardo Berna. Em uma das tantas tentativas do Libertad, uma bola venenosa acabou alcançando as redes, com generosa contribuição do arqueiro carioca. A partir daí, o Libertad insuflou-se e passou a jogar inteiramente no campo de ataque. Tamanha insistência deu resultado e já quase aos 40 do segundo tempo, um belo arremate em uma sobra de bola colocou a vaga no colo dos paraguaios. Vulnerável e sem desenho tático, o Fluminense ainda assistiu a mais um gol dos donos da casa. O placar de 3 a 0 foi uma merecida lição para um time não teve ousadia para atacar nem organização tática para defender-se.
No estádio Beira Rio, em Porto Alegre, o Inter-RS exibia o elegante Falcão no papel de treinador já classificado para as quartas de final do torneio após o empate por 1 a 1 no campo do adversário. Mas faltou combinar com o elenco do Penãrol. Com disposição, os uruguaios, que começaram perdendo, viraram o placar e não saíram mais da dianteira. O resultado de 2 a 1 fez muito torcedor Colorado refletir se esse era mesmo o momento de lançar um técnico sem grande experiência em uma competição tão dura. Restou, então, a frustração de dar adeus tão cedo, mesmo sendo o Inter-RS uma das maiores forças do futebol sul-americano.
Já o Grêmio, jogando no Chile obrigado a reverter a derrota por 2 a 1 sofrida em casa, mostrou-se sem recursos para surpreender o aplicado time do Universidad Católica. Sem dificuldade, os andinos controlaram a partida e acabaram superando os gaúchos pelo placar de 1 a 0. A eliminação não foi um espanto, mas a fragilidade do elenco gremista ficou evidente, preocupando torcedores e dirigentes em relação ao Campeonato Brasileiro. O fantasma do rebaixamento não pode ser esquecido, ainda mais por um clube que já viveu por duas vezes o inferno de disputar a série B.
Justificativas
Entre as razões que justificam tantos fracassos, está com certeza o péssimo trabalho de algumas diretorias. A do Inter-RS, por exemplo, segurou Celso Roth depois do vexame no Mundial de Clubes, ano passado, contra o Mazembe. Insistiu com um técnico desgastado até o ponto de ter de demiti-lo na véspera de jogos decisivos, tanto da Libertadores quanto do Campeonato Gaúcho. Para agravar a situação, escolheu como substituto um nome promissor, mas sem experiência, que é tão fundamental em jogos de vida ou morte. Lançado à fogueira, Falcão já se queimou com a eliminação precoce na Libertadores. E se vier uma nova decepção com o título gaúcho ficando nas mãos do Grêmio? Haverá mesmo clima para manter o garboso treinador?
O Grêmio é também vítima da miopia de seus diretores. Alucinados, os homens fortes do futebol tricolor sonharam com Ronaldinho Gaúcho, mas o que trouxeram na realidade foram jogadores que não estão à altura de uma Libertadores, como Lins, Carlos Alberto e Rodolpho. Nomes mal escolhidos não permitiram a Renato Portaluppi reeditar o bom trabalho realizado em 2010.
Os cartolas do Fluminense, por incrível que pareça, também fizeram de tudo para abreviar a permanência do clube na competição sul-americana. Escolheram um técnico interino para comandar o time no mais importante torneio do calendário e não apresentaram o mínimo de traquejo político para lidar com as divisões internas entre os jogadores. Tantas fofocas e tantas incertezas só poderiam levar mesmo a mais uma eliminação tricolor na Libertadores.
Exceção
A diretoria do Cruzeiro foi exceção nessa lista. Organizada, a cúpula da Raposa entregou ao técnico Cuca um elenco competitivo e uma ótima estrutura de trabalho. Para os cruzeirenses, a lição a ser tirada é a de que não se pode jogar um torneio tão complicado com jogadores poupando-se em disputas de bola por já se julgarem classificados ou partindo para ataques apavorados quando o placar é adverso. Sempre, em qualquer circunstância, futebol se joga com intensidade, com força máxima nas divididas e também com toque de bola, com triangulações, inversões, ultrapassagens, passes rápidos e dribles. O Cruzeiro, que vinha fazendo tudo isso, no único jogo em que não fez, pagou caro, com juros e correção monetária.