Craque que é craque é
craque, com qualquer camisa, sob qualquer escudo e com qualquer sotaque. Ser craque é ser por inteiro
e não pela metade, é carregar a bola e fazer o gol, mas também é abrir espaço e
dar o passe. Ser craque é ser mais do que ser decisivo, é ser útil, é, muitas vezes,
abrir mão do protagonismo para ajudar a equipe, é ser um coadjuvante de luxo,
para que o coletivo possa brilhar e sair vencedor. O craque erra, mas, acima de
tudo, se redime, faz as pazes com a torcida, seja com uma jogada genial, um gol
de placa, um falso deslocamento que puxa a marcação enquanto o companheiro fica
de frente para gol e decide a partida. O craque não tem medo nem se vitima por
um erro de jogo. Ele range os dentes, bufa ruidosamente e volta à luta para
virar o placar. Para o craque, o jogo é natural, flui como música, seja em Copa
do Mundo, seja na pelada entre amigos. A maior pressão que um craque sofre é a
dele mesmo, é a cobrança por vitórias e conquistas, é a pressão não de ser o
melhor sempre, mas de ser o elo entre seu time e a respectiva vitória. O craque
não corre das faltas nem das botinadas alheias; na verdade, as usa em favor da
própria equipe, acumulando cartões e faltas perigosas contra o conjunto
adversário. Para o craque, o relógio é aliado, os minutos não separam o tempo
de jogo do fim de uma jornada excruciante, defensiva, sofrida na base da
retranca; os minutos, em essência, distanciam o craque da glória, as mãos do
troféu. O craque pode perder um gol feito, pode isolar uma cobrança de falta no
final da partida, mas jamais pode baixar a cabeça e fingir que nada aconteceu,
o craque não deve se isolar, se alienar, se assenhorear de uma dor que não é
exclusiva, mas sim de toda a equipe. O craque deve se solidarizar com seu time,
seja na luta, seja no luto, seja no triunfo, seja na degola. O craque é ponto
de referência, mas não é o símbolo, o semblante definitivo de um destino,
enquanto os bons jogadores não entenderem tudo isso, jamais serão craques,
jamais serão os maiorais, é preciso muito mais do que dribles e flashes, é
preciso muito mais do que nomes em camisas e em jogos de Playstation. Para ser
craque, é preciso ser diferente, mas diferente por uma simplicidade decisiva e
não por jogadas cinematográficas que até podem valer um gol, mas jamais valerão
o título, se o mérito não for compartilhado pelos outros dez jogadores que
compartilham o símbolo estampado no uniforme.