O ano era o de 2007. Alguns dias antes ou depois do meu aniversário. Não importa a data exata. O importante foi a ligação dela, dizendo que não estávamos mais juntos. De imediato, megulhei num abismo sem fim, rodeado pelas sombras e pelo nada. A situação se agravou ainda mais a curto prazo, pois meu antigo emprego, com sua escala calcada na mais absurda exploração, me afastou daqueles que pensei serem meus amigos. Do mar de certezas, me sobrou apenas o deserto acre das dúvidas e da angústia.
Pela primeira vez, minha vida se chocava contra o profundo sentimento de estar só. Nas raras horas de folga, nenhum telefonema, nenhum convite. Nada. Nas festas e nos encontros, meu nome era esquecido. Para alguns, foi como se eu nunca tivesse existido. Essas dores, particulares e íntimas, me ensinaram a entender a importância de uma amizade sincera, de uma presença voluntária. Minha família e pessoas queridas não se afastaram. Não me abandonaram. Apesar desse apoio fundamental, tive de encontrar por mim mesmo os atalhos para escapar desse labirinto. Tive de rastrear as chaves e escancarar as portas.
Escrevo sobre isso porque me lembro com saudade e aflição de uma amiga. Ela não falava, não me ligava nem me acolhia nos braços quando eu enfrentava a tristeza. Mas ela estava sempre ali, sincera, fiel e carinhosa. Sempre disposta a dar o melhor de si para que sorrísemos. Era um ser incrível, generoso e repleto de docilidade.
Em um ano ruim (2009), de colheitas malditas, ela foi carregada pelos anjos dos ceús. Tornou-se um deles, pois carrega consigo todos os pré-requisitos para o cargo. Minha amiga deixou uma lacuna em aberto, um espaço em branco que não pode ser preenchido. A partida dela me fez lembrar de toda minha via crucis, na mais amarga solidão. A partida dela me fez entender como é bom amar e ser amado, ter amigos e compartilhar alegria. Tudo isso derrama lágrimas sobre meu teclado, mas não me impede de reverenciar essa grande companheira, imortal em nossos corações e pensamentos.
Te amo, Grandona. Amigos e pessoas queridas, amo de peito aberto todos vocês. Todos estão na minha alma e nas minhas lágrimas.