Eu tenho medo de ir mais longe porque a distância me
assusta. O que haverá além do horizonte, que canções o mar me cantará depois do
infinito? Eu não sei e temo. Temo porque não conheço, temo porque amo a quem
fica. Não consigo ir sem olhar para trás.
Meu coração
me ancora e me apavora. Fico trêmulo pelo calafrio de poder nunca mais voltar,
nunca mais rever minhas origens e replantar minhas raízes.
Que coisa
esse medo. Colombo não o teve assim como Da Vinci. Sou realmente desse jeito:
medroso, cagão e provinciano. Acho a distância perigosa, dangerosa. Meu Dumont
perde com força para meu Drummond. Esqueço que tenho asas e, se lembro, entro
em pânico por usá-las.
É besta ser
assim, mas não tenho vergonha. Vou ser assim para sempre. E se não houver o
sempre? E se tudo for só uma questão de por enquanto? E se música parar porque
há sim um final definitivo nos esperando?
Ah, quer
saber? Chega de ser gauche, chega de ser ghost. Eu vou arriscar tudo, apostar
alto. Minhas fichas estão na mesa e minha bagagem à mão. Só não abro mão de
levar quem eu amo para esse longe que tanto me acossa e assusta. A distância
deve ser um anjinho de chifres ou uma diabinha com cara de santa.