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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Voo


Neve ao meio-dia, minhas calotas desmancham diante da furiosa indiferença com que me objeta. Estou indeciso, não sabendo em que acreditar nas suas verdades ou nas minhas mentiras Estou sem companhia, a solidão me abraça e o fracasso me beija os pés. Minhas vigas não sustentam mais nem meu corpo nem seus sermões. Sou um copo vazio, cacos de vidro, minhas interrogações são degraus para a mais profana poesia, para a mais neandertal melancolia. Me deixe em paz, me deixe só, me deixe, vivo, morto, alcoolizado. Não quero mais brincar, não quero mais saber. Me basta apenas a terra fria, inorgânica, saborosa. Me basta um fim, um limite. Sou apenas uma estrela sem tela, um artista sem obra, um barco sem vela, um navegador sem paraíso. Se fosse Colombo, perdido estaria, pelos mares, pelas torres, pelos bares. Se fosse Hitler, o nazismo seria apenas livre devaneio. Gutemberg, se meu corpo habitasse, jamais chegaria à imprensa. Morreríamos sem a explosão de letras que pariu nossa aldeia global. É muito cedo para morrer, é tarde para sofrer. Me deixe no chão, mas traga veneno. Uma última taça antes do voo seminal.

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