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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A manhã seguinte

Encontro-a esperando na soleira da porta. Seu corpo esconde-se sob um roupão cor de vinho. Coincidência eu ter nas mãos uma garrafa, justamente de vinho. Um abraço e depois entramos os dois em seu apartamento. O cheiro, o aroma, tem tudo a ver com ela. Trata-se de uma textura perfumada, com um toque de incenso e de cigarro. Um estouro e a garrafa se abre. Ainda tenho a rolha nas mãos, quando ela se aproxima. Nossos olhos se encontram no infinito. Nossos lábios não. Ela sorri e me delicio em pensar como seria ousar uma aproximação. Porém, não o faço. Minutos depois, sentamo-nos à cama. A televisão está ligada. Na programação, algum tipo de série ou filme. Nem sei mesmo dizer se é fruto de nossa indústria cultural ou se é algum enlatado que passou pela alfândega. Não importa. Para mim, ela é mais bonita do que aquelas atrizes engessadas por trás de tanta maquiagem e botox. Ela é mais divina do que as imagens canonizadas que circundam o ambiente. Minhas mãos seguram-lhe o rosto, mas, novamente, sem o encontro labial. Ela torce o pescoço e liberta-se de meus dedos de fauno. Eu sorrio, tentando seduzi-la. Ela me empurra, com os pés contra meu peito. Eu sorrio, ela desenha uma curva tênue nos lábios. Quero beijá-la, ela, em dúvida. Sem que eu peça, minha taça se enche mais uma vez. Mais uma vez, tento beijá-la. Ela rola pelo colchão, afastando-se com um sorriso. Eu mergulho, tentando agarrá-la, mas ela me escapa. Apenas tenho nos braços, um travesseiro. Ela me atira alguns outros. Largo todos eles e parto em direção a ela. Ela evapora-se entre as colunas de concreto. Prefiro então tomar mais uma taça. Outra taça depois e logo ela reaparece. Abraça-me pelas costas, fazendo-me sentir a maciez de seus seios contra meu dorso. Uma dose estimulante de carinho e libido. Novamente, viro a taça. Deitamo-nos e nada mais me vem à memória. Na manhã que se segue, acordo nu, entre os lençóis, sem saber se de fato houve algo, se de fato eu deitei-me ali com alguém. Apenas vejo a garrafa vazia e sinto, carregado pela brisa matinal, o sabor de um incenso do passado.

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