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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A morte de uma geração


            Os tempos, os novos e os novíssimos, acabam de decretar a morte de uma geração. Não, não estou dizendo que o mundo vai acabar no dia 21/12/12 ou que haverá um terremoto ou tsunami que vai trucidar a juventude nos próximos meses.

            Estou dizendo, na verdade, que uma geração muito promissora já está destinada ao esquecimento e à frustração. Falo, evidentemente, da geração atual de jovens e dos adultos economicamente ativos. Essa parcela da população sofre e continuará a sofrer com a falta de plenos empregos e de espaços/incentivos para desenvolver seu potencial humano.
            
           É um problema que a sociedade atual, individualista e competitiva, não quis encarar. Nossos jovens estudam, se formam e continuam se preparando para o quê? Para nada, digo sem nenhuma sombra de medo de estar errado. Não há empregos à altura e os que existem são preenchidos de uma maneira misteriosa, em grande parte avessa à mensagem que se vendeu por anos, segundo a qual o mercado estaria em busca dos melhores.
            
       Outra verdade amarga: o mercado não está e nunca esteve atrás dos melhores. As empresas, cada uma de acordo com seus rebaixados padrões éticos e morais, estão à cata de quem melhor se encaixa para fazer o “serviço sujo” pelo menor preço. As empresas não querem qualidade, mas quantidade.
            
            Isso explica o absolutismo dos números, dos gráficos e das estatísticas sobre uma análise racional e reflexiva a respeito da realidade. Gerentes, dirigentes e supervisores se prendem à objetividade para não ter o trabalho de pensar. Optam pelo boçal simplismo que lhes assegura o contracheque.
            
           Pior ainda são os empresários e proprietários. Arrogam-se uma origem monárquica, não aceitando qualquer tratamento em contrário. São, de fato, bobos da corte na função de pequenos déspotas. Adulados de frente, viram motivo de piada e chacota pelas costas. É assim o mundo empresarial: uma fogueira de vaidades com nuances de comédia pastelão.
            
           Pobre dessa geração que tem de passar pelo crivo desses tais “líderes” para ter o “direito” de trabalhar. Esse fator, evidentemente, tornou confusa e desesperançosa uma promissora legião de jovens. Arrisco-me a dizer que essa é a mais criativa e ativa renovação que a sociedade já produziu. O potencial dessa rapaziada é algo fora de série. Isso pode ser atestado na independência de blogs, sites, comunidades, revistas, jornais e grupos artísticos. É muita gente boa que não encontra espaço para desenvolver o que sabe fazer de melhor.
            
            Eu disse lá em cima: o melhor não interessa. Logo, nossos talentos se obrigam a largar o que fazem com maestria para fazer algo enfadonho que paga um subsalário. A longo prazo, esse processo adoece e enfraquece as raízes e as bases de nossas crenças e valores.
            
             Inconscientemente, passaremos esse ranço de mágoa e decepção para nossos sucessores; eles nascerão deprimidos, tendo de carregar o fardo de buscar uma felicidade que deveria ser instintiva e inata.
            
         Eu deveria reconsiderar o que disse no primeiro parágrafo: pode ser mesmo que o mundo acabe em 21/12/12. Pelo menos para uma geração de jovens que acredita em um planeta melhor, mais justo e que vive como “se não houvesse amanhã”.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Direito à ingenuidade



Sofro por ser idealista. Sofro por acreditar mil vezes na mesma mentira, por dar sucessivas chances a quem não faz por merecê-las. Sofro por acreditar na beleza que só os olhos veem. Sofro por ser incorrigível, um romântico incorrigível. Sofro por que tenho a crença de que há bonanças e benesses para além das tempestades e trovoadas.

Sofro por querer alguém especial, indivisível. Sofro por chorar as lágrimas que nunca existiram. Sofro porque não quero dar força à amargura e à frustração.
A cada ilusão perdida, sonho com uma nova, a cada ciclo interrompido, sonho com um recomeço ainda melhor.

Minhas doses cavalares de otimismo e de esperança são fonte de alienação. Fazer o quê? Não levo fé em que ser feliz seja sinônimo de ignorância, mas nem sempre devemos dar olhos e ouvidos a tudo que circula. Nem sempre devemos transformar um fato em fenômeno e fenômeno em apocalipse.

No fundo, só quero que o destino aconteça. Quero apenas que as coisas sigam seu rumo natural, que os rostos sejam talhados pelo tempo, que a vida seja esse mosaico de partos e partidas que tanto nos fascina e ilumina.
Quero sofrer talvez por acreditar no que nem mesmo é crível. Quero olhar nuvens e montanhas e enxergar existência, quero dar significado a palavras ocas e opacas, quero assistir ao final torcendo pelo início.

Seja como for, seja com que for, seja para onde for; não importa. Quero apenas preservar meu direito à ingenuidade, quero apenas preservar essa vã filosofia que dá crédito a mistérios e ao falível “no fim tudo vai dar certo”. Se não der, quero apenas acreditar que ainda não acabou e assentar minhas veleidades sobre a rocha dos desejos enquanto espero o milagre.