Sofro por ser idealista. Sofro por
acreditar mil vezes na mesma mentira, por dar sucessivas chances a quem não faz
por merecê-las. Sofro por acreditar na beleza que só os olhos veem. Sofro por
ser incorrigível, um romântico incorrigível. Sofro por que tenho a crença de
que há bonanças e benesses para além das tempestades e trovoadas.
Sofro por querer alguém especial,
indivisível. Sofro por chorar as lágrimas que nunca existiram. Sofro porque não
quero dar força à amargura e à frustração.
A cada ilusão perdida, sonho com uma
nova, a cada ciclo interrompido, sonho com um recomeço ainda melhor.
Minhas doses cavalares de otimismo e
de esperança são fonte de alienação. Fazer o quê? Não levo fé em que ser feliz
seja sinônimo de ignorância, mas nem sempre devemos dar olhos e ouvidos a tudo
que circula. Nem sempre devemos transformar um fato em fenômeno e fenômeno em
apocalipse.
No fundo, só quero que o destino
aconteça. Quero apenas que as coisas sigam seu rumo natural, que os rostos
sejam talhados pelo tempo, que a vida seja esse mosaico de partos e partidas
que tanto nos fascina e ilumina.
Quero sofrer talvez por acreditar no
que nem mesmo é crível. Quero olhar nuvens e montanhas e enxergar existência,
quero dar significado a palavras ocas e opacas, quero assistir ao final
torcendo pelo início.
Seja como for, seja com que for, seja
para onde for; não importa. Quero apenas preservar meu direito à ingenuidade,
quero apenas preservar essa vã filosofia que dá crédito a mistérios e ao
falível “no fim tudo vai dar certo”. Se não der, quero apenas acreditar que
ainda não acabou e assentar minhas veleidades sobre a rocha dos desejos
enquanto espero o milagre.
Adorei o texto.Bem escrito com palavras de sentido forte.
ResponderExcluirPeguei um trecho para mim..
bjs
RL