Eu não sei o que é olhar para trás. Não que
eu nunca tenha feito, mas, quando o fiz, não me fez bem. Olhar a vida pelo
retrovisor é perigoso, causa vertigens e arrependimentos. Ninguém está livre
dos erros e do espírito perfeccionista que se apossa de nós quando investigamos
as pegadas de nossa história. Passado serve para nos dar orgulho e prover
lições. Nada além disso.
Estabelecer um
fetiche pelo que já foi nos faria procurar de forma obcecada por uma forma de voltar
atrás e corrigir tudo. No entanto, não há corretivo; a vida é escrita à tinta e
não à grafite. Se há remorso, que isso seja o ponto de partida para não
repetirmos os mesmos vícios; se algo ainda não foi feito, faça já, imediatamente;
se quer ajudar alguém, não espere por um pedido ou grito de socorro; se o
porvir é preocupante, desde já se prepare para ele.
A
vida é assim, não dá para rebobinar ou dar pause, não dá para sentar sobre a calçada
esperando o ano virar ou a semana começar. A vida é urgência, é para já, ou
melhor, para ontem.
Sendo
assim, não viva de planos, viva de realizações. Faça o que quer, pois o tempo é
curto demais para ficarmos agradando pessoas que não nos significam nada. É
esse o recado: pé na porta e mão na massa. Quem faz o grandioso chegou lá
porque não se preocupou em agradar ninguém além de si mesmo e de sua própria
vocação.
Do
contrário, passaremos o resto da vida cantarolando os versos de Heaven knows I´m miserable now e
choramingando pelo tempo perdido: “...Oh,
why do I give valuable time/To people who don´t care if I live or die?..” (...Oh,
não sei por que gasto precioso tempo com pessoas que nem ligam se eu estou vivo
ou morto...).