Ele
nasceu em um mundo redondo, da barriga encurvada de uma mãe zelosa. Foi
amamentado pelos seios espiralados de um amor eternal. Cresceu vendo que a vida
é cíclica, retornando ao começo para uma nova tentativa. Ele entendeu que a
dialética não é papo furado de livros sobre filosofia. Ele se encantava com as
praias cariocas, com os corpos sensuais das garotas de biquíni e com as ondas
girando em direção à areia. Ele estudou e fez amigos. Percebeu que as relações
humanas não caminham em linhas, mas em curvas e desvios complexos e ricos. Ele
enfrentou o status quo porque não aceitou que ideias devam ser impostas por
tanques e armas como um horizonte plano que desaba sobre nossas cabeças. Ele
viajou, conheceu o mundo e percebeu que não existe fim de linha, mas apenas o
reinício de uma volta. Ele transpôs as belezas sinuosas para sua arte,
transformou um ofício de funcionalidade em uma ode à criação e à produção. De
fato, ele fez algo novo, inédito, revolucionário. Viveu para colher os frutos
de seu engenho, inspirou uma geração de sonhadores e profetas. Desafiou a vida
e driblou por muitas vezes o esquife. E tinha razão para tal. Sempre era
possível aprender e assimilar algo engrandecedor com essa mente extraordinária.
Incrivelmente, seu corpo envelhecia, mas a maestria de sua psique se renovava
infinitamente. Até a virgindade de um guardanapo se via ameaçada quando caía
nas mãos desse gênio indomável. Pronto, jaz um pedaço de papel para o
nascimento de mais um projeto mágico. Até na despedida, tudo é diferente. É
difícil chorar porque ele vai com o dever de casa rabiscado, assinado e aprovado.
Na verdade, a hora é de reverência, é de nos curvarmos em respeito e admiração a quem
reinventou a vida, entortou a morte e, agora, se prepara para um novo trabalho
em um lugar que realmente há de merecer toda a argúcia de seus planos e traços.
“Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura,
inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e
sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos
seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito
todo o universo, o universo curvo de Einstein”
Oscar Niemeyer
Perfeito. Dá pra adivinhar que eh sobre Niemeyer mesmo se não estivesse tão em voga a morte dele. Adorei a sinuosidade que você mostra no texto, que também faz parte da nossa vida... E ainda mais a maneira como você escreveu.
ResponderExcluir