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segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Apocalipse


A sensação é de que houve um apocalipse. Só vejo ruas destruídas, prédios desmoronados e corações despedaçados. Como quem não entende onde se meteu, me pego com as mãos ensanguentadas e com a poeira cobrindo meu rosto. São os sinais de culpa, de autoria criminal. Mesmo sem compreender, fiz parte de todo esse processo destrutivo, de toda essa corrupção emocional. Fui inconsequente, deixei o arroubo de um momento transformar toda minha obra em ruínas existenciais. Tudo por que lutei exterminado por meus próprios dedos, como se eu fosse um louco que rasga dinheiro e quebra cristais. No reflexo de um espelho, só vejo vergonha e vazio, sentimentos esses que nem de longe me acompanhavam em outras eras do meu passado. Talvez eu seja apenas o esboço, o rascunho mal feito de algo de que tanto me orgulhava. Agora, me sobram os restos e as raspas, os pedaços desmembrados daquilo que foi outrora tão límpido e invejável. As lágrimas não mais adiantam, o arrependimento não mais comove. Apenas revelam a tristeza por trás de quem escolheu a autossabotagem como destino de seus próprios desatinos. É a hora de se levantar e de começar a reconstrução, isso não sem antes colher as lições da amargura e os aprendizados do descaminho. O recomeço vem do reconhecimento do erro, do reexame de tudo que foi sacrificado. Não é possível marchar para frente sem observar a rastro de enxofre que ficou no horizonte. Para acertar, é preciso antes parar de errar. Tão fácil na teoria e tão dificultoso na prática do dia real. Mas que assim seja então: um acerto por turno, um infortúnio que não se completa. É desse modo, peça por peça, que grandes feitos são erigidos. Vamos, então, começar e não mais tardar. A vida segue, seja como pesadelo recordado, seja como jornada de trabalho aproveitado. A escolha é de cada um.

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