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domingo, 9 de agosto de 2020

Livro aberto

 


Me beije se você estiver a fim

Me pegue se você estiver na vibe

Não culpe meus relacionamentos inexistentes

Para justificar sua falta de atitude

Eu sou, assim, livro aberto e alma leve

Se você tanto quer, então me carregue

E me faça feliz, me faça sorrir

Se você conseguir, serei toda sua

Se não, estarei por aí, do meu jeito

Desapegada, sossegada, bem resolvida

Pulando de galho em galho

Descendo de estação em estação

Até descobrir alguém que, de verdade

Desnude e decifre o meu coração


sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Tesouro

 

Eu não te amava nem poderia

Quando te conheci, ainda de outra pessoa gostava

Talvez eu ainda goste, não sei ao certo

O que sei é que, de tempo em tempo,

De momento em momento

Você ganhou meu miocárdio

Você passou a ser presença onde só havia ausência

Então, ao menos por justiça, dei a você o benefício

Não o da dúvida, ainda era muito cedo

Mas sim o da desconfiança, o da curiosidade

E você soube explorar o vácuo, soube penetrar a pele

E, sem perceber, eu já queria seu corpo cada vez mais

Queria seus beijos sem nada por detrás

E, logo, você me cativou de fato

E não mais quero viver sem você para abraçar

Meu fim de dia só é melodia quando seu sorriso me canta

E quando meu corpo te encontra

Aí sei que, enfim, encontrei o elo perdido

Aquela pessoa especial que tanto me encanta

A corrente que me prende ao tesouro escondido

De volta

 

Só quero sair daqui
Só quero respirar um ar puro
Mas tudo lá fora parece impuro, imundo
Quero minha vida de volta
Quero sorrisos nos rostos, leveza no olhar
Quero bares cheios, baladas pulsantes
Mas, cheios mesmos, estão os hospitais
E também as instituições sociais
Temos fome e temos uma doença
Não há cura para tanto mal
Que, pelo menos, então
Possamos segurar nas mãos de Deus
E acreditar que ainda dá para resistir
E na luta inglória seguir
Porque essa batalha está longe de acabar
Estamos desafiando o vírus e o verme
E, com eles a bordo, não há o que prospere
Mas que tenhamos a sabedoria e a paciência
Tudo vai mudar, vai melhorar
Mas dessa vez em definitivo
Porque, de nós, os sonhos ninguém pode mais roubar


quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Coveiros

Que tristeza, que dor de cabeça

Não sei se é o fim do mundo ou o pandemônio

Só sei que certezas não há mais

Não há mais o amanhã, a segurança do despertar

Tudo agora é nebuloso, turvo, tácito

Nada preside a providência da ação

Estamos ilhados, acéfalos, acrônicos

Estamos nos alimentando do próprio caos

Nos tornando células de nossas próprias células

Estamos canabalizando, banalizando o mal

E, assim, de assopro em assopro

Geramos o tornado letal, o vendaval

Que nos toma e nos tomba aos milhares

Não mais em dezenas e sim em centenas

Estamos em guerra, mas não com outra nação

Sim com nossa própria noção de civilidade

E, qualquer que seja o resultado, muito se sabe

Somos nós, brasileiros, os maiores derrotados

Ceifados pelas nossas próprias lanças

Destruídos por nossa própria sombra

Coveiros de nossa própria tumba