Sejamos hipócritas. Vamos fingir que não há um déficit absurdo de policiais para enfrentar os bandidos, de verdade, que saem às ruas, armados, para assaltar, matar e torturar. Vamos fingir que o Brasil não é o país em que policial faz greve e corpo mole por aumento salarial. Vamos fingir que o crime institucional progressão de pena não acontece por falta de vagas nos presídios. Vamos fingir que a liberdade condicional não devolve à sociedade criminosos perigosos, como aquele que sequestrou recentemente a própria prima, em Minas Gerais. Vamos fingir que o principal problema do Brasil são os motoristas potencialmente alcoolizados. Vamos fingir que serão admitidos via concursos novos policiais para se ocuparem da fiscalização de motoristas noturnos. Vamos fingir que os bandidos não ficarão contentes com a polícia preocupada em vigiar cidadãos, enquanto eles poderão ter mais tempo para promoverem seus “arrastões”. Vamos fingir que a preocupação de um ministro da Justiça é o trânsito noturno, enquanto o caso do “Mensalão” corre risco de passar em branco no STF por prescrição. Vamos fingir que gastar policiais e recursos do Estado investigando o “crime de embriaguez ao volante” não afetará as outras investigações, envolvendo infrações com repercussões muito mais amplas, que se arrastam nas delegacias. Vamos fingir que o Estado brasileiro está preparado para mais esse encargo judicial. Vamos fingir que já não existe uma lei que pune os motoristas embriagados. Vamos fingir.
No país do faz de conta e dos cidadãos que não fazem nada para proteger seus mínimos direitos, vale mesmo colocar a polícia no encalço de quem nunca cometeu crime algum; afinal, há tanta tranquilidade nas ruas e nos espaços públicos, há tanta produtividade judicial que o maior problema do Brasil é o motorista de fim de semana.
Crimes hediondos, bandidos perigosos, prescrição de processos, impunidade, falta de presídios, greve policial, tráfico de drogas ilícitas: isso é agrura de país subdesenvolvido como Japão, Coreia do Sul, Suécia, Noruega e Holanda.
No país do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT-SP), cadeia é coisa para motorista. Há quem concorde ele, como certa emissora de TV paulista que emprega ofensor de garis e animal condenado por homicídio culposo em acidente (?) de trânsito. Parabéns a eles, pois se merecem em suas idiossincrasias e distorções da realidade.
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