Já tentei muito nessa vida. Tentei
ser um jornalista ativo e atuante, reconhecido e provocador. Faltaram visão de
mundo e empatia para entenderem meus pontos de vista e meu potencial. Sei que
também faltou, da minha parte, coragem para talvez largar tudo e partir rumo ao
desconhecido. Não sei no que daria. Valeria a pena descobrir.
Ainda assim, o que pouco que conquistei nessa
área acre e restrita foi muito valoroso, pois se deveu unicamente a talento e
perseverança. Jamais tive padrinhos ou amigos influentes, por essa razão as
coisas foram muito difíceis e transmitiram uma noção muito equivocada sobre
minha pessoa.
Eu sou jornalista, pois tenho
formação (em todos os sentidos), vocação, diploma e experiência. Não tenho é
facilidade para fazer amizades que não me acrescentam nada, que não vão além de
interesses específicos. Não sei mesmo transformar relações sociais em um balcão
de negócios, em um escambo profissional.
Bom
para quem conseguiu ser assim e se deu bem; melhor ainda para quem - com um
pouquinho de sorte, porque também faz parte - conseguiu triunfar nessa
profissão por méritos e exclusivamente por eles. A esses, dedico meus sinceros aplausos por
terem conquistado algo que realmente é muito difícil.
Então minha história com as redações
acabou? Não, morrerei sendo jornalista, nas formas e moldes que eu puder.
Morrei acumulando meus empregos com as funções que o jornalismo me permite
exercer. Morrerei jornalista, atuando como um e, acima de tudo, acreditando no
jornalismo independente e sério como um divisor de águas, uma instância capaz
de aperfeiçoar as instituições e os poderes, levando-nos além dos vícios e do
casuísmo.
Ser um educador também faz parte
do que eu sou. Estudei muito para conseguir me formar, para ser um professor e
um transformador. Muito me orgulha ter dado mais de 100 aulas, de ter
participado da educação de mais de 1000 estudantes. Sei que muitos colegas já
ultrapassaram - e por muito - essa marca. Mas ela não deixa de ser expressiva e
motivo de júbilo.
Encontrei muita coisa errada,
muitas práticas que deseducam e desconstroem. Não me rendi a elas, continuei
insistindo, batendo cabeça e ganhando galos, calos, cicatrizes, decepções...
Não importa. Lutei pelo que
acreditei e manterei a política. Educação é o fio condutor da grande revolução
do pensamento. Enquanto eu puder, acenderei aquela fagulha de conhecimento em
mentes obscuras. Enfrento, sim, desinteresse, apatia, falta de suporte, mas o
que é isso diante de um sonho, diante de uma missão divina? É como educador e
professor que morrerei, orgulhoso do que fiz e desgostoso pelo que deixei de
fazer.
Morrerei tentando ser um escritor
reconhecido pelo que escrevo e não por eventuais bobagens ditas e feitas. Escrevo e escrevo muito. São incontáveis
poemas, contos e crônicas que poderiam ser divididos em alguns volumes. Também
existem os romances. Alguns finalizados, outros em andamento e muitos ainda em
pensamento.
Não importa o quanto eu escreva.
No momento, as portas do universo literário ainda estão trancadas. Para
abri-las, é preciso atravessar quilômetros de trâmites burocráticos. Depois da
burocracia, dependerei da boa vontade e da cosmovisão de editoras. Terei de me
encaixar em moldes comerciais para ser aceito.
E, para ser sincero, não estou
disposto a tudo para chegar até esse ponto. Desfigurar minha obra já quebra
toda a intenção com a qual a concebi. Dessa forma, terei de estar preparado
para ouvir e dizer um “não” bem sonoro.
Se esse momento chegar, o do
“não”, jogarei tudo para o alto? Não, continuarei tentando, seguirei sendo o
escritor independente que já sou. Vou morrer, de fato, escrevendo e
desenvolvendo essa dádiva com que Deus me brindou.
E quando à ética e à idoneidade?
No Brasil do “jeitinho”, vale a pena ser correto? No país em que celulares
achados não são devolvidos aos verdadeiros donos, em que carteira com dinheiro
não é entregue a quem a perdeu, em que piada gratuita se torna alvo de ações na
Justiça repletas de má intenção e revanchismo, o que fazer?
Bom, eu morrerei sendo o mais
justo e correto que eu puder. Morrerei sendo esse idealista “careta”, esse
“mané” que acredita em independência social, em escola de qualidade para todos,
em um país em que se poderá, um dia, dormir de portas abertas. Morrerei
devolvendo os celulares e as carteiras que eu encontrar, morrerei, sim,
apontando o dedo para quem se faz de humilde para justificar as próprias
marginalidade e pobreza de espírito. Morrerei dizendo que alagoanos e
maranhenses não são pobres coitados, pois, se votam no Collor e no clã Sarney,
é porque estão satisfeitos com o que têm. Morrerei sem querer fazer média,
sendo sincero e honesto até em minhas opiniões.
Morrerei ainda sendo botafoguense,
em qualquer divisão, morrerei tentando entender o kardecismo (embora eu seja
espírita, o que envolve um leque mais amplo de credos e crenças), morrerei
lutando para incutir em meus sobrinhos e filhos (que ainda virão) espírito de
independência e autorrealização. Morrerei sendo o que eu sou e acreditando no
que me faz seguir em frente todos os dias.
E vocês? O que pretendem ser
quando morrerem?
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