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sexta-feira, 17 de julho de 2020

Entre motivos e razões



Sim, esse texto usa a série “13 Reasons Why” como trampolim. E claro que isso aconteceu porque a série chegou a sua temporada derradeira.  E eu sei que é foda falar de uma série que aborda suicídio, estupro, bullying, drogas, violência, entre outros temas draconianos. É realmente uma atmosfera pesada e sangrenta que permeia todos os episódios. Tudo ali gira em torno da ideia de morte. Os personagens, estudantes do ensino médio, não lutam para chegar ao assento universitário e sim para sobreviver. Exageros à parte, é uma narrativa que oferece muito espaço para discussão. Em especial com a faixa etária da sociedade em idade escolar. Mas não vou falar disso. Não é esse o objetivo. Como educador e professor, é evidente que tenho autoridade para discorrer sobre esse tema. Mas não foi essa minha intenção quando abri a tela do Word para digitar. A motivação foi a série em si e o como as mudanças da narrativa acompanharam mudanças na minha vida. Quem não percebeu como Clay Jensen mudou? Aquele menino assustado e injustiçado da primeira temporada se transforma, no fim, em um líder rebelde, praticamente um John Connor, da franquia “O Exterminador do Futuro”. Acontece muita coisa, claro, entre uma parte e outra do processo. Se marcarmos temporalmente, a primeira temporada aparece como novidade em 2017 e acaba, lindamente, em 2020. Vocês se lembram como era a vida de vocês em 2017? Conseguem estabelecer uma relação de análise entre processo-produto para entender o que está acontecendo agora em 2020? Para muito(a)s, talvez pouco tenha se alterado entre esses quatro anos. Mas para outro(a)s, tudo pode ter mudado, como uma reviravolta, como uma revolução. Para mim, foi assustador e nostálgico chegar ao fim da série. Quando cheguei lá, automaticamente, rebobinei os pensamentos até a primeira temporada, quando ainda tudo se dava em torno de Hannah Baker. Minha vida também, àquela época, girava em torno de uma pessoa. Por minha culpa, tudo mudou e a minha Hannah também saiu de cena, embora, graças a Deus, esteja muito bem. Dali em diante, tudo mudou muito rápido para mim. Assim como também foi para Clay. Por razões diversas entre si, perdemos nossas Hannahs e tivemos que reaprender a caminhar. Acredito que para Clay tenha sido bem mais difícil do que para mim. Ele estava inseguro, perdido, apaixonado por um fantasma. Eu, ao menos, sabia que minha Hannah estava a um telefonema de distância. Passadas as temporadas (a primeira e a última, épicas, a segunda, bem aquém, e a terceira, um pouco melhor), percebi que eu e Clay não éramos mais os mesmos. Estávamos diferentes, moldados pelo sofrimento, chegando a um fim de túnel que não necessariamente representa um lugar melhor do que aquele de onde partimos. Mas ainda assim, chegar ao fim do túnel e ao fim da série dá esperança de que talvez tenhamos aprendido, colhido as duras lições que só as dores entregam. Talvez Clay e eu possamos respirar aliviados, não por saber que a história chegou ao fim, mas por saber que ainda virão novos episódios e novas páginas pela frente. Nossas Hannahs sempre serão lembradas com muito amor e com muita saudade, mas, através delas, saberemos que podemos e devemos ser melhores, como homens, como seres humanos. Então, que assim seja, que todos nós homens; homens iguais a Clay, homens iguais a mim, possamos todos nos reinventar, nos aperfeiçoar. Enfim, crescer para o Futuro. Devemos agora largar as rodinhas e sustentar a bicicleta da Vida com o nosso próprio equilíbrio. Não será fácil. Nunca foi. Mas é possível e devemos tentar até conseguir. Porque, seja como for, todos nós temos nossas “Razões” para seguir adiante e acreditar. Que hoje todos possamos nos espelhar em Clay Jensen e em sua esperançosa visão de um mundo melhor.

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