Sim, esse texto usa a série “13 Reasons Why” como
trampolim. E claro que isso aconteceu porque a série chegou a sua temporada
derradeira. E eu sei que é foda falar de
uma série que aborda suicídio, estupro, bullying, drogas, violência, entre
outros temas draconianos. É realmente uma atmosfera pesada e sangrenta que
permeia todos os episódios. Tudo ali gira em torno da ideia de morte. Os
personagens, estudantes do ensino médio, não lutam para chegar ao assento
universitário e sim para sobreviver. Exageros à parte, é uma narrativa que
oferece muito espaço para discussão. Em especial com a faixa etária da
sociedade em idade escolar. Mas não vou falar disso. Não é esse o objetivo.
Como educador e professor, é evidente que tenho autoridade para discorrer sobre
esse tema. Mas não foi essa minha intenção quando abri a tela do Word para
digitar. A motivação foi a série em si e o como as mudanças da narrativa
acompanharam mudanças na minha vida. Quem não percebeu como Clay Jensen mudou?
Aquele menino assustado e injustiçado da primeira temporada se transforma, no
fim, em um líder rebelde, praticamente um John Connor, da franquia “O Exterminador
do Futuro”. Acontece muita coisa, claro, entre uma parte e outra do processo.
Se marcarmos temporalmente, a primeira temporada aparece como novidade em 2017 e acaba, lindamente, em 2020. Vocês se lembram como era a
vida de vocês em 2017? Conseguem estabelecer uma relação de análise entre
processo-produto para entender o que está acontecendo agora em 2020? Para
muito(a)s, talvez pouco tenha se alterado entre esses quatro anos. Mas para
outro(a)s, tudo pode ter mudado, como uma reviravolta, como uma revolução. Para
mim, foi assustador e nostálgico chegar ao fim da série. Quando cheguei lá,
automaticamente, rebobinei os pensamentos até a primeira temporada, quando
ainda tudo se dava em torno de Hannah Baker. Minha vida também, àquela época,
girava em torno de uma pessoa. Por minha culpa, tudo mudou e a minha Hannah
também saiu de cena, embora, graças a Deus, esteja muito bem. Dali em diante,
tudo mudou muito rápido para mim. Assim como também foi para Clay. Por razões
diversas entre si, perdemos nossas Hannahs e tivemos que reaprender a caminhar.
Acredito que para Clay tenha sido bem mais difícil do que para mim. Ele estava
inseguro, perdido, apaixonado por um fantasma. Eu, ao menos, sabia que minha
Hannah estava a um telefonema de distância. Passadas as temporadas (a primeira
e a última, épicas, a segunda, bem aquém, e a terceira, um pouco melhor),
percebi que eu e Clay não éramos mais os mesmos. Estávamos diferentes, moldados
pelo sofrimento, chegando a um fim de túnel que não necessariamente representa
um lugar melhor do que aquele de onde partimos. Mas ainda assim, chegar ao fim
do túnel e ao fim da série dá esperança de que talvez tenhamos aprendido,
colhido as duras lições que só as dores entregam. Talvez Clay e eu possamos
respirar aliviados, não por saber que a história chegou ao fim, mas por saber
que ainda virão novos episódios e novas páginas pela frente. Nossas Hannahs
sempre serão lembradas com muito amor e com muita saudade, mas, através delas,
saberemos que podemos e devemos ser melhores, como homens, como seres humanos.
Então, que assim seja, que todos nós homens; homens iguais a Clay, homens
iguais a mim, possamos todos nos reinventar, nos aperfeiçoar. Enfim, crescer
para o Futuro. Devemos agora largar as rodinhas e sustentar a bicicleta da Vida
com o nosso próprio equilíbrio. Não será fácil. Nunca foi. Mas é possível e
devemos tentar até conseguir. Porque, seja como for, todos nós temos nossas “Razões”
para seguir adiante e acreditar. Que hoje todos possamos nos espelhar em Clay
Jensen e em sua esperançosa visão de um mundo melhor.
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