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sábado, 3 de julho de 2010

Arrogância e despreparo arruínam o hexa


A princípio, torci bastante para nossa seleção. Dunga disciplinou a equipe, peitou a poderosa Rede Globo e conquistou resultados expressivos. Radical, o capitão do tetra preconizou a realização de um trabalho diametralmente oposto ao que se viu em 2006. E assim foi.
No entanto, se as vitórias ocultam erros e falhas, os fracassos também podem encobrir virtudes. No caso de 2006, o descontrole total e a falta de comprometimento apagaram a majestosa qualidade técnica de jogadores como Ronaldo, Adriano, Kaká, R. Gaúcho, Robinho, Juninho Pernambucano e outros. O Brasil não perdeu porque tinha atletas talentosos, mas sim porque não soube explorá-los. Equívocos que foram debitados da conta de Parreira, mas que deveriam se estender a gente como Rodrigo Paiva, Américo Faria e, sobretudo, Ricardo Teixeira.
Ao execrar tudo feito na Copa da Alemanha, Dunga deveria ter aberto uma exceção aos virtuosos. Aqueles capazes de pegar a bola e mudar o roteiro de uma partida. Mas Dunga se debruçou sobre uma rigorosa cartilha que pontifica ser o talento apenas um detalhe em um projeto que se desejava exitoso. Dunga, certamente, se esqueceu de que, além da entrega, a conquista de 94 dependeu diretamente do brilho de Romário e Bebeto. Dunga esqueceu que, para vencer no futebol , é preciso saber jogar futebol.
A seleção desembarcou na África com um grupo irreconhecível para quem ostenta 5 estrelas no uniforme. Felipe Melo, Júlio Baptista, Kléberson, Grafite, Gilberto e Doni soavam como personagens de uma anedota sem graça. Magia e genialidade não combinavam em um caldeirão que só ardia na fé de que era possível ganhar uma Copa sem talento, só no nome, no louvor e na cara amarrada.
Nas entrevistas, lances de ira, de ódio, de gratuito rancor. Em campo, nenhum lance que encarnasse a mística de uma camisa que já vestiu Pelé, Garrinha, Nilton Santos, Didi, Zagallo, Gerson, Tostão, Rivelino, Jairzinho, Romário, Bebeto, Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho.
O despreparo técnico se processou dos campos de concentração da CBF para os gramados. Atuação tortuosa contra a Coreia do Norte, vitória burocrática sobre Costa do Marfim e partida sem alma diante de Portugal. Uma classificação sem sustos, mas também sem encanto. Um jogo fácil nas oitavas, contra uma criança chilena de quem se subtraiu a guloseima com autoridade e sem riscos.
Diante de uma Holanda, já duas vezes vice-campeã do Mundo, o Brasil entrou apostando no peso do escudo e na confiança de um elenco com 3 atuais campeões da Champions. Mas os Laranjas também tinham um campeão europeu e dois outros que entraram em campo na final disputada em Madrid. O time de Dunga começou melhor, encontrou inspiração, Luis Fabiano, Kaká e Robinho triangularam.  O gol saiu, duas vezes. Só o segundo valeu. A demonstração de força, contudo, emparedou os holandeses que não assustaram uma vez sequer na primeira etapa. Foram os melhores 45 minutos da era Dunga.
Na volta dos túneis, parece que alguém já havia aberto uma champanhe em comemoração à classificação antecipada às semifinais. O Brasil voltou desligado, desplugado. O sintoma de que algo ruim viria. Dunga esbanjou destempero e falta de experiência. Duelou com a estrutura metálica do banco de reservas, vociferou e transmitiu insegurança aos comandados. Deveria, no lugar dos berros, mexer a equipe antes dos gols da Holanda e da expulsão. Mas não o fez. Arrogante, testemunhou com privilégio seus preceitos técnicos serem demolidos pela grotesca falha de Júlio César e pelo coma profundo que imperou sobre a zaga brasileira. Felipe Melo assinou o atestado de óbito do time ao pisar em Robben e cavar a própria sepultura de sua história na seleção brasileira. Decretou-se o fim (da era) para Dunga.
Depois de comprar brigas gratuitas, desgastar-se perante aliados e distribuir cumprimentos aos cavalos, Dunga encerra seu ciclo na CBF de forma amarga, azeda. Prometeu uma revolução na forma de se pensar e conduzir o futebol fora de campo, mas, no fundo, ao obter os mesmos resultados de seu antecessor, Parreira, apenas reescreveu uma narrativa destinada ao fracasso. Como canta uma banda gaúcha,  para respeitar as raízes de nosso ex-treinador: “a história se repete, mas a força deixa a história mal contada”. Dunga repetiu Parreira, mas acrescentou linhas de deselegância, destempero e falta de civilidade. Merece vaias, contestações e muitas críticas no seu retorno ao país. Julgou-se acima dos mortais e terminou abaixo do estrato dos vermes.

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