Essa semana, como em todas as outras, deu-me certa vergonha de ser jornalista. Não das minhas condutas e práticas, pois delas me orgulho muito. Até mesmo os erros são valiosos, pois foram pedagógicos em sua maioria.
No entanto, a condição de jornalista me traz algum desconforto quando observo os “colegas” (nem sei se merecem tal qualificação) das mesas-redondas esportivas. Em sua maioria, são uns verdadeiros malas a repetir aquele discurso enfadonho e entediante de sempre.
Esses, embora motivo de vergonha para a classe, tornam-se figuras caricatas e folclóricas, alguém de quem se ri, sem nunca se levar a sério.
Todavia, existe um grupo de profissionais que causa mais preocupação ao jornalismo enquanto atividade social. São os jornalistas doutores em estatísticas e em análises esportivas. Esses caras, que nunca devem ter praticado esporte algum na vida, julgam-se no direito de dizer o que os jogadores e atletas devem fazer e deixar de fazer. Sempre com dados, cuja origem constitui um verdadeiro mistério, defendem interesses e pontos de vista em alguns momentos esdrúxulos e em outros patéticos.
Porém, por trás de tamanha estranheza, esconde-se um jogo de preferências e desamores. Em outras palavras, esses “jornalistas” usam números para encobrir e respaldar seu lado “torcedor”. Jamais se assumem, mas também nunca deixam de defender o clube de coração quando estão “a trabalho”.
Por via de regra, esses profissionais são arrogantes e “donos da verdade”. Adoram contestar, mas não toleram opiniões contrárias. Sempre dispostos a provar suas preferências, distorcem informações e maltratam os fatos. Esqueci alguma coisa? Ah, sim, os estereótipos e os preconceitos. É um recurso tão frequente para esses profissionais que até mesmo me esqueço de que a realidade vai muito além disso.
Querem exemplos? Vamos a eles. O Atlético-MG é um time azarado e de torcedores incapazes de fazer uma análise lógica do jogo. O Botafogo é um time de chorões, de gente traumatizada que se julga perseguida (nas infelizes palavras de um desses “jornalistas doutores”, existe a figura do “botafoguense típico”. Flamenguistas, vascaínos e tricolores são torcedores plurais, compreensivos e muito bem resolvidos, não é mesmo?). O São Paulo é um clube de jogadores e dirigentes arrogantes e convencidos. O Cruzeiro só está preocupado em vender jogadores. Inter-RS e Grêmio são equipes que têm menor cobertura jornalística porque são formados por torcedores “elitizados”. Flamengo e Corinthians nunca são beneficiados pelo apito amigo.
Agora, vamos aos estereótipos pessoais. Cuca é um técnico azarado e frágil, incapaz de ser campeão. Muricy é o melhor técnico do Brasil, jamais cabendo desconfiança e críticas a seu trabalho. Luxemburgo prefere jogar cartas a treinar seu time. Neymar é um jogador “cai-cai”. Jóbson é irrecuperável. Fred sofre muitas contusões porque é “baladeiro”. Rivaldo é velho demais para jogar futebol profissionalmente.
E assim caminha a humanidade, não é? Não. A humanidade deve ser pautada por imparcialidade e igualdade. Não se devem dirigir discursos e opiniões, de cunho público e imparcial, de acordo com as preferências pessoais ou da maioria. Não é assim que a banda toca.
Dessa forma, sinto uma profunda vergonha de gente como aquela duplinha dinâmica da Globo que transmitiu Atlético-PR e Flamengo, ontem, em Curitiba. Receber um atleta do Flamengo na cabine de transmissão, no intervalo do jogo, foi de um agudo desrespeito ao time paranaense.
Que o povo de lá saiba dar a resposta devida no Ibope. Aliás, que o povo de todo o Brasil saiba dar a esses “torcedores” com crachá de imprensa uma resposta aos seus programas “pífios e patéticos”.