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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Calcinha bege


         Sim. A calcinha bege. Essa peça é criminosa, marginal, pois me  roubou uma preciosa e promissora noite. Roubou-me uma deliciosa história de sexo e sinestesia.
         Em um furtivo início de madrugada, com uma bela garota loura a tiracolo, aquecemos as turbinas de nossa aeronave transoceânica. Roupas desmaterializaram-se. Desejos tornaram-se mais pesados do que o céu. Seria um nirvana amoroso, com pétalas de paixão e êxtase a sobrevoar a atmosfera.
         Entretanto, quando tudo afunilava para uma explosão inédita de luxúria e pecados, surge a auréola de uma calcinha bege. Algo capaz de exorcizar a mais profana libido, o mais intenso furor. 
        O magnetismo de nossos corpos evaporou-se, um Muro de Berlim edificou-se do vácuo. Nossas bocas e mãos desencontraram-se, nossa insanidade pagã recolheu-se em absurdo casulo de moralidade. Uma real e indeclinável comédia da vida privada. 
         Tornamo-nos incompletos, ausentes de nossa própria essência. Nosso incêndio indomável e selvagem  foi sabotado pela mais providencial tempestade. O céu gargalhou de nosso desastre. No passado bíblico, a maça destruíra a virtude. Dessa vez, só foi preciso uma calcinha bege.

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