Há cinco, seis anos atrás, o compromisso de uma possível paternidade me assustava escandalosamente. Ser pai significaria estar a palmos de distância do inferno ou do Alasca. Com a sucessão dos anos, acumulei dores, aflições, frustrações, amores e algum amadurecimento.
Hoje, do alto dos meus quase 30 anos de existência, sinto-me diferente. Sinto que algo acontece no meu coração. Uma mistura da aflição de não ter uma vida profissional e financeira sólidas com a emoção de sentir que o caminho com as próprias pernas já é real e irreversível.
A sensação de que o menino se transfigurou em homem me vem com os hematomas acumulados pelas decisões erradas que tomei. O soco no queixo que a vida constantemente me dá é sinal de que já sou um pugilista preparado para encarar o ringue e os rounds. É uma luta que está longe do fim, por isso não sei se perderei por pontos ou por nocaute. Mas também sei que posso ganhar, que posso acertar um cruzado ou um gancho e endereçar esse adversário cruel à lona.
E, esse momento em que nos abre um clarão na guarda inimiga depois de sofrermos uma saraivada de golpes, me veio em um momento fortuito. Semana passada, caminhava sossegado pelas ruas do bairro São Mateus, quando vi um rapaz com o filho no colo. A mesma circunstância, anos atrás, provocaria em mim confusão e medo. No entanto, quando vi aquele rapaz com filho, não tremi nem me encolhi. Consegui perfeitamente me exercitar mentalmente, colocando-me no papel de pai. Não houve pavor. Apenas a sensação maravilhosa de que ter um pedacinho de mim a meu lado será encantador. É evidente que não é um plano imediato. É algo que acontecerá daqui a alguns anos. E será ótimo.
Como poucas vezes em minha vida, percebi a guarda aberta. E investi contra meu oponente com fúria e vontade de viver. Ele assustou-se. Percebeu que agora já não sou aquele combatente medroso que reza pelo gongo. Ele sabe que vou enfrentá-lo. Ele agora sabe que posso vencê-lo. Ele sabe que agora já tenho por quem lutar.
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