Um dia nossos desejos irão
se encontrar depois de, por tantos anos, se desencontrarem tão voluntariosamente.
Mas, afinal, do que fugíamos? Para onde íamos? São perguntas inquietantes e
provocantes. A mim, me cala a teoria de um medo de encontrar em você a vontade
terminal, o antegozo seminal, a esfera orgástica. Sinto quase olfativamente que
você também temia em mim a razão do fim de suas noites tão dançantes quanto
inebriantes. Mas não é medo de ser feliz, medo de ficar em estado zen por toda
e plena eternidade. Nosso receio era de nos frearmos mutuamente, de sermos a
zona de conforto um do outro. Naquela altura da vida, tudo para nós eram
badalação, sexo e sinergia. Não havia espaço para sentimentos rosáceos ou
delírios shakespearianos. Nossa onda era o balanço por trás de corpos febris e
línguas curiosas. Isso nos parou e nos congelou. Agora, já não somos mais os
mesmos, não somos mais a mesma matéria ou mesmo conteúdo. Somos a sombra
daquele medo, o lado fosco de todo aquele brilho que nos pulsava para tantos
horizontes e tantas madrugadas. Agora, sentimos falta de colo, saudade de
abraços. Sentimos carência e até mesmo dormência quando as horas avançam rumo
ao clarear do dia. Então, não é essa a hora de nos realizarmos, de nos
encontramos? Isso seria mais simples se não estivéssemos em outros braços, não
casados, mas acossados pelo louco desejo de ter alguém a repartir um espaço.
Mas meu espaço, mesmo preenchido, continua vazio, continua um vácuo. Pode ser
você a equacionar esse caso, mas não sei. Ainda temos tanto medo, não mais de
encontrar quem é a cara certa, mas sim a de encontrar aquela que parece a
certa, até deixar para trás mais um coração partido e amargurado. Agora, temos
outro medo, ainda assim um medo que nos mantém afastados e aprisionados dentro
daquela caverna tão platonicamente real.
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