Total de visualizações de página

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Caverna



Um dia nossos desejos irão se encontrar depois de, por tantos anos, se desencontrarem tão voluntariosamente. Mas, afinal, do que fugíamos? Para onde íamos? São perguntas inquietantes e provocantes. A mim, me cala a teoria de um medo de encontrar em você a vontade terminal, o antegozo seminal, a esfera orgástica. Sinto quase olfativamente que você também temia em mim a razão do fim de suas noites tão dançantes quanto inebriantes. Mas não é medo de ser feliz, medo de ficar em estado zen por toda e plena eternidade. Nosso receio era de nos frearmos mutuamente, de sermos a zona de conforto um do outro. Naquela altura da vida, tudo para nós eram badalação, sexo e sinergia. Não havia espaço para sentimentos rosáceos ou delírios shakespearianos. Nossa onda era o balanço por trás de corpos febris e línguas curiosas. Isso nos parou e nos congelou. Agora, já não somos mais os mesmos, não somos mais a mesma matéria ou mesmo conteúdo. Somos a sombra daquele medo, o lado fosco de todo aquele brilho que nos pulsava para tantos horizontes e tantas madrugadas. Agora, sentimos falta de colo, saudade de abraços. Sentimos carência e até mesmo dormência quando as horas avançam rumo ao clarear do dia. Então, não é essa a hora de nos realizarmos, de nos encontramos? Isso seria mais simples se não estivéssemos em outros braços, não casados, mas acossados pelo louco desejo de ter alguém a repartir um espaço. Mas meu espaço, mesmo preenchido, continua vazio, continua um vácuo. Pode ser você a equacionar esse caso, mas não sei. Ainda temos tanto medo, não mais de encontrar quem é a cara certa, mas sim a de encontrar aquela que parece a certa, até deixar para trás mais um coração partido e amargurado. Agora, temos outro medo, ainda assim um medo que nos mantém afastados e aprisionados dentro daquela caverna tão platonicamente real.

Nenhum comentário:

Postar um comentário