Se for para ir, eu vou com tudo. E até o fim, até o fundo. A
conversa aqui jamais é pela metade. Tudo que vivo é no plural e com
intensidade. Copo meio cheio, meio vazio? Deixa disso. Eu encho até o topo e
esvazio em uma virada. É assim que se brinda e assim que se vive. Sou desses
que dão a cara à tapa e que jamais fogem dos desafios. Nem mesmo dos impossíveis.
Aceito até um “não”, mas jamais “nunca”. Meu pessimismo termina quando abro os
olhos de mais um dia de trabalho. Até porque trabalhar é divirto e eu me viro
bem com o que tenho. Minha ambição é ser feliz e não rico. A riqueza que me
basta é a de saúde e a de espírito. Vou indo assim: às vezes caminhando, às vezes
correndo e sempre sorrindo. Que seja sempre assim. Como o Rio Nilo, como a vida
por trás do vidro. Vidros de carros, vidros de janelas, vidros de uma
existência enredomada. Como é bom pular por trás da lógica, dos tabus, das
convenções. Eu gosto de quebrar paredes, desmoronar preconceitos e ruir juízos.
Aliás, juízo que anda em falta, mas não por fazer merda o tempo todo e sim por usá-lo
para não fazê-las. É assim que existo: pensando, socando, suando e jogando. A
vida é esporte, então precisamos marcar pontos. A vida é uma arte, então
devemos representar lindamente. Até mesmo fingir que é dor a dor que deveras
sentimos. Ah, esse Pessoa, tão pessoal em minha e em tantas pessoas. Que bom
chegarmos até aqui. É meio de caminho? Eu ainda acho tudo tão inicial e
enigmático que minha curiosidade se atiça e se atreve a enxergar por baixo do
tapete e atrás da cortina. Que males se escondem? Que segredos se disfarçam? Eu
não estou nem ligando. Desde que haja um mato para admirar, uma mão para
segurar e uma taça para derramar; de resto está tudo certo e tudo belo. A vida
e os dias de vida estão aí para serem apreciados e degustados. Como uma boa
safra de vinho, como uma esplendorosa poesia. Que saibamos saborear as uvas e
letras de todas as horas. Só isso mesmo. Ser feliz é mais simples do que fazer regra
de três. É virar a chave e deixar a correia girar. É mudar o chip e para o amor
ligar. Bora, então; minha gente, ou é preciso desenhar?
Esse blog é uma gota de meu sangue, um plasma de meus sentimentos. Poesia, humor, política, dor, frustrações. É um espaço onde sou o que deveria ser ou o que nunca fui. É um lugar onde sou um personagem e uma entidade em vida. Sou um rio e também as pedras. A angústia perdida ou um sorriso espontâneo. Sou eu em múltiplas formas ou em forma alguma.
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sexta-feira, 6 de dezembro de 2019
quinta-feira, 5 de dezembro de 2019
Mensageiro do futuro
Vai tomar no cu. Vai se foder. Não tem futuro, caralho. Vocês, com sua ganância e arrogância,
destruíram tudo. Não tem mais floresta, não tem mais ar. Para sobreviver nessa
merda, a gente tem que usar cilindros de oxigênio, carregar como se fosse uma
mochila. E essas porras são caras demais. Só tem quem é rico. Eu sou pobre e
fodido. E aí? Como fico? Água? Seus filhos da puta, vocês poluíram todos os
rios e todos os mares. Tratar água é um luxo. Água potável custa mais do que
petróleo. É servida em banquete de babaca. A gente que é fodido só toma água de
torneira e fica torcendo para não passar mal ou ficar doente. Porque, se ficar,
ferrou. Hospital não atende quem não tem plano e também não tem mais médico
cubano. E se gente for lá reclamar, a polícia chega e mete esculacho. É assim.
Tudo para poucos e nada para tantos. Não tem emprego, só subemprego, onde os patrões
escolhem quais direitos vão respeitar. Escola? Só se você tiver o voucher, que
é limitado e distribuído na base da propina ou do “quem indica”. Se era isso
que vocês queriam, parabéns. Deu tudo certo. Os pobres foram exterminados. Só
sobrou gente de dinheiro e podre de pensamento. Essa carta vem do futuro, mas
poderia vir também da Idade Média. Para quem não tem grana, são realidades
muito parecidas. É isso. É o fim. Venceram o darwinismo social e o apartheid
religioso. Aplausos para os envolvidos.
Brasil, 31 de dezembro de
2022
A Terra e a Vida
A Terra não é plana. A Vida também não é. Então seriam elas
redondas? Prefiro dizer que são profundamente dialéticas. E isso, por si só, já
nos impulsiona, nos pressiona e nos transforma. Vale de incentivo para quem
está por baixo, desolado, excluído. Isso porque, de giro em giro, a Terra e a
Vida podem levar os perdidos a um outro patamar. É a prateleira dos vencedores,
dos gloriosos, daqueles que alcançaram o triunfo. Mas isso não vem de graça. É
preciso se mobilizar, se esforçar, correr atrás. O mesmo se diz para quem está
no privilégio. Por essas voltas e revoltas da existência planetária, o seu
lugar também pode mudar. O topo da pirâmide pode não ser um lugar para sempre.
Inércia e soberba abalam de morte o todo conquistado; os privilegiados de antes
podem se tornar os futuros esquecidos. Antes, o que era luz e flash pode ser em
pouco tempo apenas penumbra e frio. É assim que funciona. A Vida e Terra são
uma gigante gangorra. Elas viram e reviram certezas, verdades e crenças. Entre
a tese e síntese, passando pela antítese, muito pode acontecer e tudo vai
mudar. Podem ter convicção disso. Mesmo sem as provas. E, no fim, o que era
para ser lavado, se tornou vazado; o que era para ser o certo, se tornou o
errado. Hegel não era apenas um filósofo, ele era, muito antes disso, um
profeta, um apóstolo. O que ele escreveu foi a mais universal das leis. “Nada
do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”, é um lindo verso que
parafraseia versículos dialéticos. E fica a lição: a Terra não é plana e a Vida
não é quadrada, mesmo mudando para algo que não é mais como antes, elas se
tornam figuras geométricas de alguns ângulos cada vez menos retos. Ainda sobre
elas, muito vale o que nos ensinou muito sabiamente Tales de Mileto: “todas as
coisas, incluso as inanimadas, estão cheias de vida”. A realidade respira e o
trem volta para a estação, mas diferente, porque diferentes são os passageiros
de cada viagem. “É pau, é a pedra, é o fim do caminho. É um resto de toco, é um
pouco sozinho. É um caco de vidro, é a vida, é o sol. É uma noite, é a morte, é
um laço, é o anzol.” É tudo e nada, passando pelo todo. Sim. Tom Jobim foi mais
um dialético, mais um maluco das incertezas cilíndricas e das letras
orbiculares. Talvez ele já saiba o quanto estamos fodidos. Mas que pelo menos
saibamos que em tudo há Vida e que tudo volta, primeiro como tragédia e depois
como farsa. Ou seja, não há zona de conforto nem mesmo para quem se acha acima
do bem e do mal, além do corpo achatadamente celestial. É a Vida que nos ensina
que a Terra pode até ser muito mais complexa do que surfistas caindo no abismo
do horizonte, do que plantações de maconha em câmpus universitários ou do que
canções dos Beatles doutrinando novos comunistas.
terça-feira, 3 de dezembro de 2019
Querubim
Parecia até um enredo
de comédia romântica, mas era vida real. Minha vida, aliás. A mocinha, linda e
plena, conhece um rapaz tímido, mas do bem. E aí eles se envolvem em um arco
elétrico, tântrico e único. Apaixonam-se e fazem juras. Só que toda comédia
romântica que se preze oferece um anticlímax. Alguém para ameaçar a harmonia do
casal feliz. E esse alguém era uma pessoa indeclinável. Bonito, jovem, bem-sucedido.
Um cara do esporte e que pratica benevolência. Um cara atlético, mas também
muito culto. Um querubim com o corpo de uma divindade grega. Como competir com
esse cara? Com entrar no campo de jogo para desafiá-lo? Ele riria e a puxaria
pelas mãos me deixando sozinho e desolado. E assim foi, só que não desse jeito.
Ele, educado e respeitador, foi conversando aos poucos, sem muito interesse.
Mas depois foi do interesse para o flerte e do flerte para os lençóis. E nessa
história quem acabou tomando o maior lençol fui eu. Tive que vê-la se mudando
para a cidade dele, vivendo para com ele ficar. E eu fiquei sozinho,
perturbado, angustiado. Ela não responde mais minhas mensagens, não me segue em
rede social e ainda me bloqueou em todos canais. E agora, como faço, como me
viro? Eu não tive essa resposta por um bom tempo, coisa de meses, até que o
telefone tocou. Primeiro, sem voz, apenas uma respiração frágil e trêmula.
Depois, as primeiras palavras vieram e, por fim, um convite para um encontro
fortuito. Do fortuito, fomos para a paixão resgatada dos recônditos da saudade.
Novas lágrimas, novos orgasmos, novas dúvidas. Com quem ela vai ficar? Quem ela
quer, afinal? O jogo virou para mim ou perdi de goleada? Quer saber? Nem me
importo mais. A vitória para mim é poder tê-la, mesmo disputando contra o time
mais forte que já enfrentei. Se eu perder, vai ser de peito aberto, atacando o
tempo todo. Mesmo que prevaleça a lógica das casas de apostas e de quem já
entrou em campo com o todo o favoritismo a seu lado. Ainda assim, ficarei de
cabeça erguida e muito vivo. Afinal, a vida não precisa ser sempre uma comédia
romântica, mesmo que às vezes, insistentemente, assim queira ser.
Malditos felinos
Eu sempre fiz caretas para os gatos. Acho que são criaturas
narcisistas, egoístas e extremamente indiferentes. A única vez na vida em que
tive gato terminou mal, e rápido. O danado fugiu de casa sem dar pistas ou
deixar rastros. Depois disso, só abrimos nossas portas para cães. E vieram
muitos: Lady, Pamela, Kita, Raisha, Jeremias e, por fim, Furiosa. Todos bichos
muito singulares entre si, mas bastante amáveis e zelosos. E assim minha vida
se desenhou canina e muito feliz. Recentemente, porém, tive a chance de
conhecer melhor dois bichinhos muito especiais. Jack e Zog (na verdade é Zig,
mas eu chamo de Zog porque eu gostei do nome e para irritar a mãe dele, claro).
Jack é um bebê ainda, mas muito arisco e ousado. Ele, mesmo bem vigiado, se
pendura em beirais, faz estripulias e se aventura nas cobertas e varandas dos
prédios vizinhos. Praticamente um ginasta peludo ou então um adepto do parkour.
O Zog é outro esquema. É criado bem solto, com a porta de casa entreaberta para
sair e voltar quando quiser. Ele passa noites fora e dias inteiros sonecando na
superfície de um sofá bem macio. É manhoso e agarrado com a mãe, como não
costumam ser esses bigodudos. Quase um cachorro que mia, como bem define sua
cuidadora. Demorei para me permitir. Mas
esses felinos me ganharam. Primeiro, com alguns miados tímidos. Depois, com a
ousadia de quem me sobe os ombros como se papagaio fosse. Ainda prefiro os
cães, mas sem dúvidas o Jack e o Zog me fizeram olhar para esses bichinhos um
pouco menos desconfiado e bem mais apaixonado. Eles venceram, enfim. Malditos
felinos.
Segundo sol
Dizem que o astro-rei é único e soberano. Aquela estrela
dourada e fulgorosa que aquece nossos dias é insubstituível e inabalável. Pode
até ser. Também se diz que a virgindade só se perde uma vez. A experiência da
primeira sexualidade e o rito de passagem só podem ser vivenciados em uma única
oportunidade. Não é mentira. Mas podemos questionar essas duas verdades: tanto
a existência de um único sol, como também a vivência de apenas uma virgindade
quebrada. A astronomia, em breve, pode descobrir sim a presença de um novo
corpo solar. E as pessoas podem sim redescobrir uma virgindade e perdê-la
novamente. Já aconteceu comigo, tanto como sendo revirginado quanto como
estando com alguém nessa condição. Explico-me. Fui noivo anos atrás e, depois
do rompimento, me isolei e fiquei por mais de sete meses sem sexo. Quando
aconteceu, foi como um furacão. Conheci uma pessoa legal em uma balada, nos
seduzimos e nos permitimos uma noite de luxúria. Para ela, talvez eu fosse só
mais um. Mas para mim ela foi um momento incrível e especial. Lembro muito bem
de todos os detalhes. Foi uma nova virgindade que se desfez. Como também foram
desfeitas minhas inseguranças e medos de um neófito nas questões da intimidade.
Depois disso, minha rotina sexual voltou ao normal. Porém, tempos recentes me
levaram a conhecer uma mulher muito interessante. Ela, recém-separada, vinha
com todos os ressentimentos e desconfianças de quem encerrou uma relação longa
e complicada. Falamos muito disso. Só que, além das conversas, também tivemos
vontades sexuais, lascivas, voluptuosas. Também falamos disso e resolvemos nos
permitir um mergulho por entre as linhas de nossas intimidades. Não sem antes
conversar de novo. E aí ela me disse que se sentia revirginada, assim como
aconteceu comigo antes. Eu tentei ser o mais empático possível. E tudo
aconteceu maravilhosamente. Um alívio de ambas as partes. Da dela, por
finalmente voltar ao jogo sexual. Da minha, por ter conduzido tudo da melhor
forma, sem criar novos traumas ou neuras. Agora, estamos bem. Conversamos, de
vez em quando nos vemos, sem muito peso ou cobrança. E assim segue a vida.
Sempre nos permitindo novas descobertas, seja ela um sol inesperado ou uma
virgindade que volta à porta como se nunca tivesse deixado de existir. Seja como
for, estejamos preparados e de braços abertos às oportunidades que a vida, por
vezes; maliciosamente, nos traz.
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