Total de visualizações de página

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Querubim



Parecia até um enredo de comédia romântica, mas era vida real. Minha vida, aliás. A mocinha, linda e plena, conhece um rapaz tímido, mas do bem. E aí eles se envolvem em um arco elétrico, tântrico e único. Apaixonam-se e fazem juras. Só que toda comédia romântica que se preze oferece um anticlímax. Alguém para ameaçar a harmonia do casal feliz. E esse alguém era uma pessoa indeclinável. Bonito, jovem, bem-sucedido. Um cara do esporte e que pratica benevolência. Um cara atlético, mas também muito culto. Um querubim com o corpo de uma divindade grega. Como competir com esse cara? Com entrar no campo de jogo para desafiá-lo? Ele riria e a puxaria pelas mãos me deixando sozinho e desolado. E assim foi, só que não desse jeito. Ele, educado e respeitador, foi conversando aos poucos, sem muito interesse. Mas depois foi do interesse para o flerte e do flerte para os lençóis. E nessa história quem acabou tomando o maior lençol fui eu. Tive que vê-la se mudando para a cidade dele, vivendo para com ele ficar. E eu fiquei sozinho, perturbado, angustiado. Ela não responde mais minhas mensagens, não me segue em rede social e ainda me bloqueou em todos canais. E agora, como faço, como me viro? Eu não tive essa resposta por um bom tempo, coisa de meses, até que o telefone tocou. Primeiro, sem voz, apenas uma respiração frágil e trêmula. Depois, as primeiras palavras vieram e, por fim, um convite para um encontro fortuito. Do fortuito, fomos para a paixão resgatada dos recônditos da saudade. Novas lágrimas, novos orgasmos, novas dúvidas. Com quem ela vai ficar? Quem ela quer, afinal? O jogo virou para mim ou perdi de goleada? Quer saber? Nem me importo mais. A vitória para mim é poder tê-la, mesmo disputando contra o time mais forte que já enfrentei. Se eu perder, vai ser de peito aberto, atacando o tempo todo. Mesmo que prevaleça a lógica das casas de apostas e de quem já entrou em campo com o todo o favoritismo a seu lado. Ainda assim, ficarei de cabeça erguida e muito vivo. Afinal, a vida não precisa ser sempre uma comédia romântica, mesmo que às vezes, insistentemente, assim queira ser.



Nenhum comentário:

Postar um comentário