Os artistas sem obra agora passaram ter sua própria galeria, seu próprio ateliê. Os descamisados não são mais vagabundos, não são desocupados; agora eles são galãs da novela das 19h. Apresentadores espirituosos? Não mais. No formato atual, são rotundos e boquirrotos ou então narigudos e aloirados. Os anônimos de mentes vazias e corpos vitaminados são as estrelas das câmeras. São os referenciais da propaganda e do consumo. Os executivos não são mais os estudantes brilhantes, os líderes arrojados. São hoje os rostinhos bonitos de frente para o manager roboticamente performático.
Interpretar a si mesmo deixou de ser um defeito, é, em verdade, uma virtude indelével, um toque de naturalidade, de uma autenticidade inconfundível. A TV e seus agentes, a TV e seus produtos são agora a nova ordem, o novo paradigma. Não ser nunca esteve mais na moda. Ser nada nunca significou tanto. A TV inverteu valores e transformou conceitos. Abriu as portas para a internet se tornar a grande Meca da improdutividade.
Depois da TV, tudo mudou de lugar. A música é o barulho de outrora, o texto sem sentido agora é um roteiro genial. A notícia não importa tanto quanto o decote provocante da apresentadora. O pecado é a salvação, a luxúria, o ritual e a maça, o toque angelical.
Deus inventou a TV. Talvez por ter ficado tão entediado com a monotonia dos céus, resolveu dar uma sacudida aqui embaixo e mudar a decoração. Ele conseguiu. Mais nonsense é impossível.
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