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segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Aquilo que lhe falta



Eu sou aquilo que lhe falta. Sou a roupa que você não tem, o sapato que ainda não comprou e o relógio que incompleta a sua coleção. Sou a viagem dos seus sonhos, a fantasia do seu consumo, tudo aquilo que suas mãos não alcançam. E jamais alcançarão. Luxos e luxúrias não equacionam nosso vazio existencial. Tudo aquilo que o dinheiro e os pés tocam não são suficientes para responder aos nossos anseios ancestrais, às interrogações abissais. Assim, a paz e o sossego só se tornam nosso refúgio quando entendemos que nossa busca é em nós mesmos, em nossa própria essência e em nossa própria reconstrução. Nada contra os prazeres desfrutados e desfrutáveis através do que honestamente conquistamos. Nada contra os passeios e as compras, afinal, trabalhamos para termos onde investir e aplicar. Mas isso somente não fecha o arco de nossas inquietações. Para se explicar e se entender, o ser humano precisa se aceitar. Isso não vem de fora, não vem do que adquirimos. Isso vem do que fazemos e de como interpretamos nossos próprios atos. Ao entendermos o que fazemos, podemos tomar isso como um caminho certo ou como descaminho. Sendo caminho certo, temos a paz necessária de seguir nele e de aperfeiçoá-lo. Se for descaminho, teremos de reajustar a rota e reedificar a estrada, tornando-a o elo para algo maior e mais profundo. Seja como for, a paz interior e a plenitude final são frutos daquilo que somos a partir de como agimos. Procurar soluções existenciais nas prateleiras do mundo é apenas paliativo que trata o sintoma, alimenta a causa e torna a identificação do problema ainda mais longínqua e fugaz.


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