Eu sou aquilo que lhe
falta. Sou a roupa que você não tem, o sapato que ainda não comprou e o relógio
que incompleta a sua coleção. Sou a viagem dos seus sonhos, a fantasia do seu
consumo, tudo aquilo que suas mãos não alcançam. E jamais alcançarão. Luxos e
luxúrias não equacionam nosso vazio existencial. Tudo aquilo que o dinheiro e
os pés tocam não são suficientes para responder aos nossos anseios ancestrais,
às interrogações abissais. Assim, a paz e o sossego só se tornam nosso refúgio
quando entendemos que nossa busca é em nós mesmos, em nossa própria essência e
em nossa própria reconstrução. Nada contra os prazeres desfrutados e desfrutáveis
através do que honestamente conquistamos. Nada contra os passeios e as compras,
afinal, trabalhamos para termos onde investir e aplicar. Mas isso somente não fecha
o arco de nossas inquietações. Para se explicar e se entender, o ser humano
precisa se aceitar. Isso não vem de fora, não vem do que adquirimos. Isso vem
do que fazemos e de como interpretamos nossos próprios atos. Ao entendermos o
que fazemos, podemos tomar isso como um caminho certo ou como descaminho. Sendo
caminho certo, temos a paz necessária de seguir nele e de aperfeiçoá-lo. Se for
descaminho, teremos de reajustar a rota e reedificar a estrada, tornando-a o
elo para algo maior e mais profundo. Seja como for, a paz interior e a plenitude
final são frutos daquilo que somos a partir de como agimos. Procurar soluções
existenciais nas prateleiras do mundo é apenas paliativo que trata o sintoma,
alimenta a causa e torna a identificação do problema ainda mais longínqua e
fugaz.
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