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sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Nitidez



Vocês não estão mais juntos
Mas não é por vaidade ou vontade
E sim por mais pura necessidade
Vocês se amam, e muito
Mas vocês têm objetivos diferentes
Missões muito distintas entre si
Isso leva a incompreensões, a atritos
Conduzindo vocês dois à triste condição
De meros desconhecidos
O jeito que foi: doído, dolorido, mal resolvido
Levou vocês dois a um novo momento
A uma única e incrível condição
Separados, vocês crescerão, prosperarão
O que os separa também é o que lá
Na frente, no futuro, no destemido
Os tornará vitoriosos, vitorianos e raros
E aí vocês perceberão que não se trata
De tempo perdido, de tempos fodidos
E sim de tempo bem vivido,
De tempo perfeito, tempo lindo
Que não lhes trará menos
Do que um futuro próspero
E muito nítido

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Tímido poema



Límpida criatura vaga
Meus olhos lhes espreitam, misteriosos
Como quem com fogo brinca
Como quem divaga diletantemente sobre o nada
Mas você é o oposto do nada
Você é o aposto de toda imensidão visual
Tenho lábios para beijos lhe enviar
Tenho mãos para as suas segurar
Tenho ouvidos para seu brado escutar
Meus sentidos são todos para lhe perceber
Essa poesia é o que dedico para minha vida
Que é você e sempre será
Sou vassalo de seus desejos
Sou soldado de seus ímpios comandos
De mim, tem todos os luxos e luzes
Para mim, atiça envolvente sedução
Suas pernas bailam para me ganhar
Seu corpo em ondas marinhas e vivas
Hipnotiza, magnetiza, polariza
E fico aqui, no fim desse tímido poema
Experimentando o dissabor da distância
Vendo outra atmosfera tomar seu ar
Enquanto cá me ligo ao glacial aéreo
Que me toma os poros e os cômodos da sala

Palavra final



Essa dor e essa angústia estão lhe comendo em vida. É sério. Não discuta, apenas escute. Você precisa se livrar desses sentimentos amargos e pesados. Trazê-los contigo é como carregar pedras. Se você não é construtor, elas não lhe servirão para fazer casas e sim para ferir os outros. Então, largue-as por aí, desabafe, converse com alguém de sua confiança. Não é saudável se prender ao que não acrescenta, ao que não agrega. Liberte-se do que lhe prende. Na maior parte dos casos você tem em mãos a chave do seu próprio cativeiro. Use-a e seja feliz. Não importa se o que lhe aprisiona é um emprego, uma dívida ou uma pessoa. A palavra final é sua e de mais ninguém. Então, por que não exercê-la? Por que não abrir esses calabouços? Não se esqueça. Seu ato pode servir de inspiração e de exemplo para outros cativos. Vendo você se soltar, eles podem fazer o mesmo por emulação, gerando uma corrente positiva e construtiva de liberação emocional. Vamos lá então? Solte essas pedras, pegue essa chave e destrave a porta. Bem-vindo ao mundo do livre arbítrio e da independência. Você está seguro e será muito feliz. Eu garanto.

Singelas linhas



Não tenha medo do final, do fracasso, do inesperado. A vida é livro aberto, obra em progresso, jogo indefinido. Portanto, faça a mais, seja diferente, não se contente com aquilo que só agrada ao olhar alheio. Suas respostas estão escondidas dentro da própria pergunta, suas dúvidas são sempre resolvidas quando você pensa na origem da questão. Então, fica assim: sorria, arregace as mangas e se ponha ao trabalho, seja qual for. O fim, que nunca o é e nunca chega, só lhe oferece a possibilidade de mudar, de se reinventar, de lançar a sua própria startup. Não importa a estrada e sim a caminhada. Não tenha preguiça nem coloque a pedra do “é tarde demais” no trajeto. Seus pés são o mais perfeito meio de transporte que existe. Assim, use e abuse deles. Enquanto você estiver fazendo sua própria história, outras histórias irão aparecer e se misturar com sua. Aproveite-as, explore-as, aprenda com elas. E, dessa forma, percorrendo e se envolvendo, vivendo e convivendo, você não verá o tempo passar e terá todo o tempo do mundo para tudo o que quiser. Inclusive, agora, lendo esse texto ou fazendo qualquer outra coisa que seja, para você, o mais existencial dos exercícios. Recomece, ressignifique-se, torne-se a mais apaixonada das criaturas. E não precisa ter filhos, plantar árvores ou escrever livros. Basta fazer aquilo que você ama. O amor volta para você em dobro, na forma da mais absoluta satisfação. Acredite em mim ou então peça de volta o tempo gasto lendo essas singelas linhas.

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Consciência



Hoje é de consciência, de abrir horizontes, ir além das aparências. Hoje é de dia de negros e pardos lutando do mesmo lado. Dia de todas as raças lutarem pelo fim do preconceito, do desrespeito, do sofrimento. É dia de todos se colocarem no lugar do outro, de refletirem, de entenderem que por trás de cada negro há uma história de 300 anos de escravidão e exclusão. Portanto, comecemos agora combatendo toda forma de racismo e de violência. Mas não só por hoje e sim para sempre. Para sermos justos, não basta não ser racista; é preciso combater o racista, não ser indiferente e não ter medo do enfrentamento. Injustiças só são superadas quando todos se unem por uma causa comum. Exterminar o racismo não é uma causa dos negros e sim de todas as cores e de todos os povos, passando por mim, por você e por tudo mundo.


terça-feira, 19 de novembro de 2019

Transformação



Eu sou assim. Sorriso largo, abraço apertado e, às vezes, beijo disfarçado. Eu sou assim. E nada faço para ser diferente. E é porque não quero nem preciso. Sou o que se vê ao nítido, o espelho refletido, a lágrima do incontido. E assim serei. Sem amarras, sem frescuras, sem neuras. Eu acordo, abro olhos, tendo entender onde estou e depois sigo em frente, traçando meu mapa enquanto percorro o próprio caminho. Minhas melhores aventuras não aconteceram sob encomenda ou devidamente planejadas. Foram experiências que apareceram do nada e me arrebataram como um carma. E eu adorei tudo. Até mesmo o que machucou porque ali algo aprendi. E assim vou. Motores ligados, vidros abertos e som no máximo. No caminho, o que eu encontrar é sempre desatino ou, quem sabe, golpe de mestre desse incensado Destino. Eu não tenho medo, eu não ligo para o perigo. Meu maior risco é ficar parado enquanto o tempo passa e nada acontece por inércia e também merecido castigo. Eu não quero isso. Viver é ser livre, é respirar pelo espírito. Quem muito pondera nada celebra. Quem muito enxerga nada observa. Sou muito mais do que cinco sentidos, muito mais do que do abismo fugitivo. Sou aquele cara parado na esquina, sou o cão que foge sem saber o caminho de volta. Sou o fogo que queima a água, a água que derrete a terra, o terra que banha o mar. Sou assim, um tanto verdade e muito da mentira. Porque a verdade vai além da verdade, da vaidade, da veleidade. A verdade vai onde está a vontade, onde coração palpita. Eu sou assim. Olhos que gritam, bocas que alimentam, pulmões que pulsam, ouvidos que transpiram. Não tenho nada a ver com as certezas platinadas de um sucesso. Meu êxito é ser, ainda que em fracasso, espontâneo e poético, cruel e romântico, visceral e atlântico. E assim, até que enfim, entre as flores de um jardim, acharei o significado de tudo e de todos os boatos. Do tanto dito e do infinito não confesso, o real valor de todas as somas é a estrada que me trouxe ao limite e tudo que dela absorvi. No fim, eu sou mais o caminho percorrido do que todo o tempo engolido. Sou mais aquilo que pisei do que no que me transformei.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Vendaval



Divisão nunca trouxe solução
Hoje tudo é assim: fragmentado e binário
Não há meio termo ou senso comum
É tudo ou nada, dente ou faca
E nesse vendaval de intolerância
Amizades foram quebradas
Mágoas foram reveladas
E ninguém ganhou nada com isso
Ainda pergunto, um tanto incrédulo
Onde isso faz sentido? Onde isso é bom?
No fim, estamos, assim, perdidos, brigados, fodidos
Lutando capoeira contra a própria sombra
Correndo como cão atrás da cauda
E nada encontramos, nada fazemos
Então vamos ter lucidez
Defender nossas posições com isenção
Sempre aceitando o contraditório, o alheio
Porque, no fim, só lucram com a guerra
Os vendedores de armas e os vencedores
Mas um país tão complicado quanto o nosso
Precisa também lidar com os vencidos e os oprimidos
É bom quando nos colocamos no lugar do outro
Empatia e solidariedade nunca fazem mal
A não ser para quem traz o ódio como ato político
Porque não tem nada mais para oferecer
A quem ainda insiste em lhe emprestar um pingo de atenção

Outubro




Eu deixo você ir
Não porque eu quero
Quero é seu bem, sua felicidade
Mas isso não está acontecendo
Você perdeu seu brilho no olhar
A vontade de viver e de lutar
Comigo, você apenas sobrevive
Um dia após o outro
Sem empolgação, sem entusiasmo
Nem parecemos mais nós mesmos
Algo se perdeu, algo se soltou
Não temos mais o mesmo encanto
Não temos mais a mesma poesia
Estou fazendo de você alguém menor
Não por querer, mas por conviver
Então, deixo você ir
Sei que lágrimas vão cair
Sei que seremos desespero
Mas quanto tudo isso passar
Você vai entender, vai acordar
E aí seremos livres
Para seguirmos em frente
Sem mágoas e sem abismos
E torcendo um pelo outro
Porque de nós o que fica
Mais do que as páginas coloridas
É o amor ou quase amor
Que nos uniu e nos juntou
No outubro de uma noite fria
Que ainda aquece nossos corações

Rejeição



Meus olhos são seus
Meu coração é seu
E tudo mais que tenho e carrego
Também é seu por direito
Mas o direito que você não tem
É de abusar e de usurpar
De sumir sem deixar pistas
E depois aparecer como se nada fosse
Você me tem, mas não é meu dono
Ainda tem de mim tudo o que quiser
Mas não para todo o sempre
E se algum dia, quando já tiver perdido
Ainda tentar me recuperar
Com lágrimas e olhos de crocodilo
Saiba que aí já estará tudo decidido
E não na forma de um beijo redentor
E sim na de uma angustiante rejeição
Ainda que me  cause a mais profunda dor
E a mais profunda depressão

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Antigo retrato



De todas as coisas que eu não disse, o pior foi não dizer que eu me importava, que eu sentia a mesma emoção, que meu coração já era seu muito antes de eu saber. Tudo parecia só sexo, só instinto, um choque animal. Apesar do prazer e do orgasmo, éramos muito mais do que o sexo-ato. Tínhamos ainda tanto a conhecer um do outro, tantas camadas a descobrir sob doces encantos. Mas você não me esperou. Deixou um gosto amargo de saudade nas minhas tardes e um desejo exposto nas minhas noites tão incríveis. Tentei com outras pessoas, tentei em outros corações buscar abrigo, aconchego, mas tudo que encontrei foi um vazio de não ter ali ao lado seu corpo aquecido e seus cabelos enroscados junto aos meus braços. Acordo, então, na ressaca, mas não de bebida e sim de melancolia. Meus dedos inquietos buscam o aparelho e ligo para seu número atrás do algarismo que me falta na mais perfeita equação. Do outro lado, escuto seu soluço aflito antes do ruído fatal. Mas uma vez você interrompeu meu desejo, meu deixou por um fio. Não sei mais por que tanto insisto. Se você não quer, por que não consigo deixar para lá? Por que não ofereço o mesmo vazio, a mesma maldade? Eu não compreendo, mas se eu compreendesse é muito certo que não estaríamos assim tão perdidos nessa álgebra imperfeita, nesse espelho quebrado, que, mesmo fragmentado, ainda persisti em refletir aquele nosso antigo retrato.

Aprendizado



Ela me beijou pela última vez, antes de ir embora. Deixou para trás um vácuo de saudades e dores repartidas. Ainda sozinho, entre as penumbras e as sombras, fico recordando como tudo se deu, como tudo mudou da magia para a tragédia. Não sei como pude me perder, como pude enveredar por entre descaminhos e labirintos. No fundo, de tudo que perdi, perdi a mim mesmo. Perdi a alegria de sorrir, a vontade de cantar e a luxúria pela escrita. Tudo que escrevo agora são linhas mentais e imaginárias que telepaticamente envio para minha antiga amada, como forma de perdão, como sussurrada depressão. Os dias passam, às vezes lentos, às vezes como um raio. Em muitos deles me deito e engulo a dor em forma engarrafada. O luto se perde em ressaca, em noite mal dormida, em manhã de dores e de agonia. Como ferro corroído, a dor instalada também se transforma. E essa nova forma ainda é enigma, ainda é incógnita. Não sei dela o que fazer nem mesmo o porquê de algo fazer. Só sei que vou indo, luz após luz, luar após luar, andando em frente, mas um tanto devagar. Talvez de tanto divagar, as respostas que tanto procuro me apareçam e aí esse triste pesadelo será tanto peso como um elo para algo que vivi e que com quem muito aprendi.  

Pêndulo insone


Quando a vida passa, não resta mais do que ficou
Quando tempo demora, resta nada mais do impaciente
E esse tempo que passa e esse tempo que fica
Em algum momento da existência dialética
Enfeixam-se, se cruzam e encontram fronteiras
Ou seriam não mais do que sólidas barreiras?
Seja como for, há de se aprender algo com eles
Do que passou, talvez fique a lição do arrependimento
Do que custa a passar, herda-se a noção do planejamento
E, assim, planejando em cima do que se arrependeu
Talvez daí se extraia a mais valiosa das lições
Porque não há tempo perfeito nem tempo perdido
O tempo passa e o tempo vem, como pêndulo insone
A nós resta balançar com esse pêndulo, aprendendo
O valor dos minutos que passaram
E a riqueza dos minutos que virão
No saldo desse ponteiro é que advirá
Tudo que temos por mérito construído
Sem mais tempo a perder, sem mais tempo a chorar