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terça-feira, 12 de novembro de 2019

Antigo retrato



De todas as coisas que eu não disse, o pior foi não dizer que eu me importava, que eu sentia a mesma emoção, que meu coração já era seu muito antes de eu saber. Tudo parecia só sexo, só instinto, um choque animal. Apesar do prazer e do orgasmo, éramos muito mais do que o sexo-ato. Tínhamos ainda tanto a conhecer um do outro, tantas camadas a descobrir sob doces encantos. Mas você não me esperou. Deixou um gosto amargo de saudade nas minhas tardes e um desejo exposto nas minhas noites tão incríveis. Tentei com outras pessoas, tentei em outros corações buscar abrigo, aconchego, mas tudo que encontrei foi um vazio de não ter ali ao lado seu corpo aquecido e seus cabelos enroscados junto aos meus braços. Acordo, então, na ressaca, mas não de bebida e sim de melancolia. Meus dedos inquietos buscam o aparelho e ligo para seu número atrás do algarismo que me falta na mais perfeita equação. Do outro lado, escuto seu soluço aflito antes do ruído fatal. Mas uma vez você interrompeu meu desejo, meu deixou por um fio. Não sei mais por que tanto insisto. Se você não quer, por que não consigo deixar para lá? Por que não ofereço o mesmo vazio, a mesma maldade? Eu não compreendo, mas se eu compreendesse é muito certo que não estaríamos assim tão perdidos nessa álgebra imperfeita, nesse espelho quebrado, que, mesmo fragmentado, ainda persisti em refletir aquele nosso antigo retrato.

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