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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Versos febris


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A manhã que me aquece
a solidão úmida desaparece
somos agora filhos do mesmo prazer
somos elos da mesma corrente
perdemos o que nunca conquistamos
morremos sem a experiência da vida
fomos enterremos sem  o corpo
uma mesa que vira
uma fúria calculada
um intenso além do breve
insatisfação além da greve
soldados marchando na escuridão
os lumes dos tiros que me atravessam o pulmão
não sinto nada
em minha absurda indiferença
não sinto nada
não sinto seu corpo
não sinto paixão
não tenho dúvidas
 não tenho ambição
não vejo sentido
quando vago na contramão
não vejo o vazio
quando fazem meu corpo ungido
quero morrer
quero seu corpo derreter
com o ódio que tempera meus desejos
quero ver seu corpo na terra
devorado pelos vermes amigos
quero ver seu sofrimento
quero ver sua corrupção
moral, sentimental, social
quero ver seu fim, sua inglória
construir de seus ossos
o meu templo de salvação

o meu palácio, meu Taj Mahal


sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O valor da amizade



O ano era o de 2007. Alguns dias antes ou depois do meu aniversário. Não importa a data exata. O importante foi a ligação dela, dizendo que não estávamos mais juntos. De imediato, megulhei num abismo sem fim, rodeado pelas sombras e pelo nada. A situação se agravou ainda mais a curto prazo, pois meu antigo emprego, com sua escala calcada na mais absurda exploração, me afastou daqueles que pensei serem meus amigos. Do mar de certezas, me sobrou apenas o deserto acre das dúvidas e da angústia.

Pela primeira vez, minha vida se chocava contra o profundo sentimento de estar só. Nas raras horas de folga, nenhum telefonema, nenhum convite. Nada. Nas festas e nos encontros, meu nome era esquecido. Para alguns, foi como se eu nunca tivesse existido. Essas dores, particulares e íntimas, me ensinaram a entender a importância de uma amizade sincera, de uma presença voluntária. Minha família e pessoas queridas não se afastaram. Não me abandonaram. Apesar desse apoio fundamental, tive de encontrar por mim mesmo os atalhos para escapar desse labirinto. Tive de rastrear as chaves e escancarar as portas.

Escrevo sobre isso porque me lembro com saudade e aflição de uma amiga. Ela não falava, não me ligava nem me acolhia nos braços quando eu enfrentava a tristeza. Mas ela estava sempre ali, sincera, fiel e carinhosa. Sempre disposta a dar o melhor de si para que sorrísemos. Era um ser incrível, generoso e repleto de docilidade.

Em um ano ruim (2009), de colheitas malditas, ela foi carregada pelos anjos dos ceús. Tornou-se um deles, pois carrega consigo todos os pré-requisitos para o cargo. Minha amiga deixou uma lacuna em aberto, um espaço em branco que não pode ser preenchido. A partida dela me fez lembrar de toda minha via crucis, na mais amarga solidão. A partida dela me fez entender como é bom amar e ser amado, ter amigos e compartilhar alegria. Tudo isso derrama lágrimas sobre meu teclado, mas não me impede de reverenciar essa grande companheira, imortal em nossos corações e pensamentos.


Te amo, Grandona. Amigos e pessoas queridas, amo de peito aberto todos vocês. Todos estão na minha alma e nas minhas lágrimas.

domingo, 27 de setembro de 2009

Luta e morte


Haverá esperança no amanhã quando a luz dos dias de hoje se apagar. A tocha desfalecida é o lume que guia nossos corações. Se não há esperança, não há mais nada. Se não há amanhã, hoje se resume a um abismo sem fim. Quando abrimos os olhos e estamos vivo, é porque o amanhã ainda não morreu. Só acaba a alvorada quando não podemos mais nos emocionar com a ida repentina dos que amamos, só acaba a vida quando não mais tememos a morte. Só acaba a luta quando nosso cadáver não pode ser mais carregado por quem nos ama. Só acaba quando desistimos, só acaba quando não há resistência. Luta até o fim, até o inferno irromper no horizonte. Que a espada jamais deixe de derramar o sangue e o fogo. O movimento não para, ainda que não acreditemos. Estamos juntos, de punhos cerrados e adagas cruzadas. O véu da escuridão nos aguarda e não vamos fugir.

sábado, 12 de setembro de 2009

Tudo pode piorar

 

Diz o ditado que tudo pode ficar pior do que está. Portanto, nada de reclamar da vida e blasfemar contra os deuses. Não há desastre que seja o fundo do poço, sempre existem alguns quilômetros abaixo do fundo, como se fosse uma espécie de pré-sal da catástrofe. Vejam, por exemplo, a Dilma. O câncer parecia ser a pior coisa que aconteceria, mas, então, surgiu a Lina.
Em verdade, meu assunto é o mundo da F1. Mais precisamente, a ética e a esportividade. Quando nos tempos de Ferrari, o Rubinho abria a porteira para o alemão subir no topo do pódio, ficávamos horrorizados. Quando Rubinho ajustava o carro para Schumacher voar pelos circuitos, sentíamos repulsa dos métodos maquiavélicos dos ferraristas.
Depois, veio a McLaren com sua espionagem. O Alonso, um santinho, contribuiu com as investigações, mas tudo pelo jogo limpo, tudo por puro espírito esportivo.
Agora, quando nada mais parece ser capaz de nos escandalizar, quando parece que já havíamos atingido o fundo do poço em relação à imoralidade e às condutas condenáveis, surgem a Renault e o caso envolvendo um suposto acidente proposital de Nelsinho Piquet para beneficiar o “Príncipe das Astúrias”.
Alonso, quem mais lucrou com o “acidente”, diz que não sabia de nada. Que bonitinho. Repetiu o Lula e sua ignorância em relação ao público e notório Mensalão.
 Já o Nelsinho, quem diria, mesmo tendo crescido junto a um tricampeão e em meios aos bólidos mais velozes do mundo, foi incapaz de entender o quanto participar de uma trapaça pode ser desastroso para si e para o seu sobrenome. Além disso, é de uma estupidez colossal tomar partido em uma atitude que, mal sucedida, poderia levá-lo à morte ou a um estado de invalidez irreversível.
O Briatore, um verdadeiro Hades da F1, não me surpreende. Vindo dele, espero as atitudes, as táticas e os ardis mais desonestos, mais hediondos, mais perniciosos. Nada importa para ele, a não ser as prostitutas, luxuosas e luxuriosas, e o dinheiro advindo de vitórias e títulos. Não são importantes custos e perdas, valores e comportamentos, o resultado, na miopia briatoriana, é o começo e o fim de tudo, é a esfera onde se esgota todo o processo dialético.
Claro que todo esse meu raciocínio é na hipótese dessa farsa ser mesmo verdadeira. Os fatos e os dados, por enquanto, não autorizam que se veja outro tipo de explicação para todo o ocorrido. Infelizmente, Nelsinho, Alonso e Briatore são farinha do mesmo saco, produtos estragados de uma mesma linha de fabricação.
Se confirmado tudo, Briatore e Nelsinho merecem ser banidos do esporte. Afastados das disputas e das pistas, onde não possam mais fazer mal ao esporte e a ninguém.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Por uma Argentina forte

 

Estou preocupado com a Argentina. O futebol sofrível apresentado pelos hermanos contra Brasil e Paraguai não deixa margem para discussões. É preciso renovar, mas não é uma renovação na comissão técnica. É uma renovação no elenco, nos critérios de convocação. Não dá para uma seleção com a envergadura da Argentina insistir com Heinze e Zanetti. Sebá, Verón e Mascherano também são casos a serem repensados.
É urgente olhar com uma nova perspectiva. Talvez seja hora de testar nomes como Zárate, da Lazio, Lisandro López, do Lyon, e Guiñazu, do Inter de Porto Alegre. É necessário também que os argentinos achem uma nova cara para a armação ofensiva. O time sofre a ausência de Riquelme e precisa de um novo nome. Se atravessasse boa fase, Dario Conca, do Fluminense, seria uma opção. Existem também futebolistas no Porto, de Portugal, que poderiam servir muito bem o time de Maradona. Na defesa, deveriam ser aproveitados elementos do Estudiantes, que faturou a Libertadores em cima do amarelado Cruzeiro. O único que vi hoje, em Asunción, além do Verón, foi Schiavi, no banco.
Minhas rugas de aflição com a Argentina não são antipatrióticas. Além de apreciar um bom futebol, coisa que os hermanos sabem fazer bem, me preocupo com a queda de qualidade desse esporte na América do Sul, processo iniciado com a decadência do Uruguai.
Caso os argentinos percam o peso que têm hoje no futebol mundial, o Brasil pode perder o seu grande referencial técnico. Somente nos jogos regionais contra a Argentina se revela o real nível do nosso selecionado. Nenhum outro time de futebol das Américas consegue servir de base, pois as outras equipes são fracas demais, quase infantis. Portanto, sendo fortes, Brasil e Argentina se ajudam mutuamente. Além de terem um adversário à altura, o que serve de parâmetro técnico, a rivalidade estimula ainda mais a amoladura de ambos.
Desse modo, uma Argentina forte é imprescindível para um Brasil vencedor. Que os hermanos sacudam a poeira, vençam seus próximos jogos e estejam na Copa de 2010. Lá, voltaremos a medir forças. Já estamos contando os dias para reencontrá-lo, El Pibe.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

E Deus inventou a TV

 

 Havia no mundo uma série de criaturas que, segundo as mais longevas profecias, deveria se dedicar às artes, à dramaturgia, à música, às representações. Porém, eram seres desprovidos da matéria-prima para tal: talento. Deus, ser benevolente e expoente máximo da misericórdia, decidiu que um eleito deveria, tal qual Noé com sua arca salvadora, construir um espaço para esses pobres seres chamarem de lar. O lar foi alcunhado de televisão (TV para os mais íntimos). Ali, naquele fórum democrático e includente, pessoas inexperientes, toscas, sem charme e carisma, puderam se ver e serem admiradas.
Os artistas sem obra agora passaram ter sua própria galeria, seu próprio ateliê. Os descamisados não são mais vagabundos, não são desocupados; agora eles são galãs da novela das 19h. Apresentadores espirituosos? Não mais. No formato atual, são rotundos e boquirrotos ou então narigudos e aloirados. Os anônimos de mentes vazias e corpos vitaminados são as estrelas das câmeras. São os referenciais da propaganda e do consumo. Os executivos não são mais os estudantes brilhantes, os líderes arrojados. São hoje os rostinhos bonitos de frente para o manager roboticamente performático.
Interpretar a si mesmo deixou de ser um defeito, é, em verdade, uma virtude indelével, um toque de naturalidade, de uma autenticidade inconfundível. A TV e seus agentes, a TV e seus produtos são agora a nova ordem, o novo paradigma. Não ser nunca esteve mais na moda. Ser nada nunca significou tanto. A TV inverteu valores e transformou conceitos. Abriu as portas para a internet se tornar a grande Meca da improdutividade.
Depois da TV, tudo mudou de lugar. A música é o barulho de outrora, o texto sem sentido agora é um roteiro genial. A notícia não importa tanto quanto o decote provocante da apresentadora. O pecado é a salvação, a luxúria, o ritual e a maça, o toque angelical.
Deus inventou a TV. Talvez por ter ficado tão entediado com a monotonia dos céus, resolveu dar uma sacudida aqui embaixo e mudar a decoração. Ele conseguiu. Mais nonsense é impossível.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Viva aos brasileiros



Hoje é Sete de Setembro. Viva à liberdade, viva aos que lutaram pela nobreza dessa pátria. Viva aos que enfrentaram espadas, tanques e exércitos. Viva aos que fizeram dessa terra sua “pátria amada e mãe gentil”. Viva aos que compuseram e aos que sabem entoar nosso hino. Viva a quem é brasileiro e bate no peito todos os dias, ainda que não seja Copa do Mundo nem Olimpíadas. Viva aos que beijam o solo e aos que beijam a bandeira. Viva aos que beijam os brasileiros. Viva ao azul, ao verde, ao amarelo, ao branco e ao futuro. Viva ao presente e aos que trabalham. Viva aos que mantêm a fé no Brasil, apesar do Sarney. Viva ao Brasil, viva a uma história cujo fim jamais existirá. Viva a todos nós, brasileiros e batalhadores, independentes e apaixonados.

domingo, 6 de setembro de 2009

Casas que choram

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Minha casa, minha vida. Meus deuses e meus orixás. Meus tabus e meus totens. Um movimento em ondas e curvas, uma física centrífuga e uma crença carnívora. Um elefante em meu prato e uma lança em meu coração. O esôfago sibilante e os neurônios em frenesi. Uma corrida de moluscos, uma nave sem escudos. Sentidos e centavos. Sorrisos encurvados. Minha direção é o satélite que gravita. Jornadas e Júpiter. Espinhos e dinossauros. Quero ser a pré-história de seu novo universo. A Europa e a América. A África e seus índios. Os negros da Oceania e a realidade de Atlântida. Quero horizontes e planos. Quero ser ingênuo em seus enganos. Sou a criança viajando na janela de ilusões. Um pulsar firme que nos torna multidões. Cozinha e costura. Mãos de mulher, trator e tesoura. Nesse ritmo, musical e gastronômico, carregamos as caixas de nosso destino. Mudança e morte. Mutação e massa. O norte de nossos desejos é o oeste de meu pesadelo. Bússola e bolha. Sua língua e minhas sementes. Minhas plantas e suas raízes. Caule e cabeça. Um novo ser, um novo desenho. O mapa-múndi do seu corpo e o cubismo de meus sentimentos. Um dedo e dado. Uma ferida e um quadrado. Quero voar pelo abismo, escalar as nuvens, mergulhar no penhasco e nadar nas labaredas. Sou um pouco de tudo, um grão de areia e o magma da Terra, uma gota de suor e uma molécula de desespero. Sou a vida transformadora e a passagem reveladora. Saltos quânticos e questões bubônicas. Dimensões e fulcros, peso e pilastra. Nossa casa, nossa vida. Saudade solitária. Amores refratários. Um fim de recomeço. Um adeus e seja bem-vinda.

Dialética


Nas desigualdades, é onde mostramos a indiferença. A chuva de meteoros é que prova a fragilidade de nossas telhas. As trevas do destino nos revelam como é dadivosa a força de um olhar. Os corações de vidro desmentem a fortaleza de um corpo robotizado. O masoquismo é o avesso do prazer e o sinônimo do orgasmo. Um abraço é a prévia da distância que separa os amigos. O beijo é o selo de um envelope anônimo. A busca é o caminho da resposta e o êxito da conquista é um convite ardiloso da inércia. O sol é a luz que cresta o impuro e o justo. A lua é órgão que excita amantes e homicidas. Seus braços são o conforto e a dor, meu ópio e horror.

Por que, Regina?


Regina, por quê? Por que sumiu depois de incendiar minhas noites e me deixar expelindo fumaça e cinzas? Por que me abandonou quando eu errei? Por que nos erros aprendemos as lições que os livros não estampam? Por que meu coração pensa tanto em você? Por que meu corpo sente ainda o seu? Por que nossos destinos não se cruzam nem quando nos vemos? Por que temos que viver a realidade, se podemos gozar a utopia anarquista dos sonhos? Por que sinto seu gosto e seu cheiro no meu edredom? Por que sinto um vazio pós-existencial quando vejo seus quadros? Por que teve que ser assim?