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terça-feira, 5 de outubro de 2010

A armadilha do segundo turno


Dilma (PT) não venceu no primeiro turno, desapontando as expectativas de institutos de pesquisa. Perdeu fôlego e votos na reta final para Marina Silva (PV). O motivo desse solavanco eleitoral para a petista atende pelo nome de Erenice Guerra. A ex-assessora de Dilma foi presa fácil para as armadilhas ocultas no labirinto das antessalas do Planalto.
O impacto foi direto nas intenções de voto da candidata de Lula. Fizeram sangrar eleitores no sentido Dilma-Marina. A verde gostou e conquistou, assim, um belo capital eleitoral. Seu apoio no segundo turno ganha cada vez mais importância, passa a ser decisivo para os rumos da República brasileira.
Nesse ponto, exatamente aí, é que reside o grande desafio para a senadora. Se aceitar abraçar um dos lados envolvidos nesse segundo turno, Marina trairá uma parte considerável do discurso que a fez obter quase 20 milhões de votos.
Dilma e o PT, envolvidos pelo pragmático exercício do poder, tornaram-se um cenário hostil para a verde. Oprimida, saiu da legenda da estrela vermelha. O peso do “Mensalão” e da operação para salvar o mandato de José Sarney (PMDB) foram insustentáveis diante do legado ético que Marina carrega. Portanto, apoiar Dilma é uma grave contradição de postura. 
Por outro lado, apoiar o PSDB e José Serra seria uma apunhalada nas costas dos valores que permearam toda a carreira política da senadora. Envolvida com movimentos e causas sociais, Marina sempre esteve do lado oposto ao dos tucanos, do lado oposto ao alinhamento ao capital, ao projeto puramente desenvolvimentista. Foram muitos anos legislando e lutando contra o que apregoou o PSDB nos anos em que Fernando Henrique ocupou a cadeira presidencial.
Desse modo, a escolha por Dilma ou Serra pode significar um risco abismal para o futuro político de Marina Silva. A melhor saída seria a neutralidade, permitindo aos correligionários e eleitores a particular decisão a favor de um dos lados. Assim, Marina teria a independência e a liberdade necessárias para fiscalizar francamente o vencedor(a), cobrando a irrestrita execução  do plano de governo e dos comprometimentos sócio-ambientais firmados.
O Brasil precisa de Marina Silva sóbria, isenta, efetivando o papel que lhe é destinado, o de seguir na elaboração de um novo projeto, um novo plano, capaz de atrair um novo universo de votantes, capaz de romper a dualidade PT-PSDB que tanto turva o horizonte político de Brasília.

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