Foi um jogaço. Viu-se em
campo todas as nuances emocionantes de uma partida de futebol, tudo aquilo que
torna esse esporte mágico e irresistível. De um lado, uma potência tradicional,
dona de quatros canecos da Champions League e de tudo que há de mais
emblemático no futebol alemão. Do outro, um rival inglês que, embora
tradicional, quase faliu, sendo salvo pelos investimentos de um bilionário
russo cuja riqueza é de origem misteriosa. Enfim, uma equipe montada por
jogadores de todos os matizes, credos e cores. Um time multinacional, mas sem
identidade, sem vínculo territorial com a representação pela qual trabalha
(salvo os xerifes John Terry e Frank Lampard).
Podia-se definir esse jogo
envolvendo Chelsea e Bayern como um duelo de Davi e Golias. Os ingleses,
nanicos e sem vergonha do feio "futebol de resultados", contra um
gigante germânico que eliminou o Real Madrid jogando de igual para igual, com
atletas talentosos e velozes (ou alguém ousaria disputar uma prova de 100
metros contra Robben ou Riberry?).
Lançada a sorte e todo o
favoritismo para o lado alemão, a partida revelou mesmo que a lógica estava
certa. Dominante e jogando em seu território, o Bayern de Munique encurralou o
Chelsea. Criou muitas chances de gol, mas esbarrou nas atuações seguras de
David Luiz e Cahill. Petr Cech também esteve irrepreensível. Demonstrou todo o
futebol que possui, mas uma pena que esse só surja quando o goleirão está feliz
com o treinador da equipe.
No entanto, com tamanho
volume de jogo, o gol alemão acabou saindo no final da partida. David Luiz e
Ashley Cole se confundiram na marcação e Müller irrompeu sozinho, na pequena área,
para fulminar o barbante londrino. Tudo bem, a cabeçada foi na direção do solo,
mas com tanta força que a bola explodiu na grama e depois subiu veloz para o
fundo do gol. Sem misericórdia para Cech. Era o gol do título. Era.
Com poucos minutos em
campo, Fernando Torres descolou um escanteio providencial. Seu compatriota Mata
bateu e lá estava o marrento Drogba para sacudir o rabo de cavalo e deixar tudo
igual. Gol injusto, água quente no chope bávaro. Mais uma zombaria do futebol
para cima da lógica, da matemática e da razão numérica.
Na prorrogação, Drogba
passou de Jesus para Judas. Pênalti desastroso em Riberry. Robben, amigo do
peito de Felipe Melo, bateu e... e Cech defendeu. Defesa impossível nos tempos
de Felipão e Villas-Boas à frente dos blues. Com a chance desperdiçada, faltou
ânimo para o Bayern chegar ao título. Já o Chelsea se arrastou como pôde até a
decisão por penalidades. Era tudo ou nada.
E foi tudo. Para os
londrinos. Com pontaria calibrada e um Petr Cech voador, os azarões levantaram
a taça. Com direito a Drogba encerrando as cobranças cheio de estilo,
deslocando o excelente Neuer. Palmas para os comandados do técnico interino
Roberto Di Matteo. Foi um título conquistado na raça, na garra, no suor e nas
lágrimas. Foi merecido.
Olhando bem de perto, deu
até mesmo para enxergar o DNA da seleção brasileira de 94. A feiura de
resultados deveria ter sido patenteada por Parreira. Drogba foi o Romário desse
Chelsea. Cech, pelo gigantismo nos pênaltis, lembrou muito bem o Taffarel. Além
do êxito e do método, pode-se enxergar outra semelhança entre os times: a
ambição dos jogadores. Da mesma forma como Parreira pouco influiu para o
triunfo na Copa de 94, Di Matteo foi apenas um tapa-buraco, sendo a Champions
League um produto muito mais dos atletas do que se seu treinador.
E se muito dessa final de
Champions me lembrou a final de 94, pelo menos, dessa vez, pudemos escapar dos
berros escandalosos do Galvão Bueno. Deus abençoe a TV por assinatura e a
internet. Valeu a pena se render à tecnologia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário