Torcer por uma equipe de futebol é como integrar uma grande família. Passa-se a integrar o grupo formado não só pelos torcedores de um único time, mas sim por todos os torcedores, por todos que acompanham e respiram o esporte bretão.
Dessa forma, torcer para o Botafogo (entreguei, agora, né?) não significa apenas estar em sintonia com os botafoguenses, mas também com tricolores, vascaínos e flamenguistas. Quando um dos quatro gigantes do Rio joga, os torcedores dos rivais diretos também param para ver, só que para "secar", ou seja, cruzar os dedos pela derrota do "inimigo de quintal".
Esse é um dos momentos mais saborosos e folclóricos do ato de torcer. Ver a equipe rival se afundar enche um "secador" de júbilo e êxtase. Mal termina a partida, e lá vai ele disparar ligações e zoações via redes sociais para os amigos que torcem pelo time derrotado. É uma festa de esculhambações e bullying.
Não à toa que meu irmão Davi, certa vez, me disse não achar graça nos jogos de Copa do Mundo, pois não haveria a quem sacanear depois dos jogos. Bom, essa sensação provocada pela seleção da CBF remete mais a um sentimento tribo-nacionalista que todos nós carregamos. Esse delicado assunto merece um texto à parte. Voltando ao meu irmão, faz mesmo sentido o que ele diz. Futebol sem zoação é como churrasco sem cerveja. É legal, mas fica com aquela impressão de que falta alguma coisa.
Portanto, caímos naquela velha dialética: não existe antiflameguista sem o Flamengo, mas também o Flamengo, na forma como o conhecemos, não existiria sem a legião de secadores oficiais do Urubu. Trata-se, enfim, de uma roda gigante que nunca para de girar, pois é movida por paixões e furores, unindo inimigos e separando amigos, promovendo uma redefinição de valores que só é mesmo possível através do esporte.
Assim, estamos todos nós torcedores casados uns com os outros, constituindo uma bela e grande família. Flamenguistas, tricolores, botafoguenses, vascaínos, cruzeirenses, atleticanos, colorados, gremistas, corintianos, palmeirenses, santistas, são-paulinos, etc: todos já subiram ao altar e disseram um eloquente sim, mesmo que ainda não saibam ou não reconheçam. Que sejamos felizes para todo o sempre.
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