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quarta-feira, 9 de maio de 2012

Entre tapas e beijos

Não é novidade eu dizer que não vejo TV. Como todos sabemos, nada de rico ou construtivo pode ser encontrado nas ondas que invadem nossas antenas. Se ligo a televisão, é para ver futebol e olhe lá.
Bem, por não sintonizar meu televisor, acabei perdendo a briga de cachorro grande que marcou o último episódio da edição brasileira do reality show “The Ultimate Fighter”.
Tudo bem, não tem problema. A internet está aí para salvar a humanidade em situações assim. Dessa forma, lá fui eu ao computador com a missão de acompanhar o desdobramento do episódio em que Vítor Belfort e Wanderlei Silva, lutadores de MMA e treinadores de dois times rivais no programa, entram em violenta rota de colisão, chegando quase às vias de fato.
 A razão da discórdia é bem discutível: Belfort, seguindo as regras do jogo, escolhe os lutadores que devem se enfrentar em um dos combates promovidos pela atração, sendo um de sua equipe e outro da de Wanderlei. A celeuma se dá pelo vínculo de amizade entre os dois atletas selecionados, que já treinaram e moraram juntos.
Wanderlei fica possesso com a escolha de Vítor, pois considera que amigos não devem lutar entre si, a não ser na luta final do programa ou em alguma circunstância inevitável.
Por seu turno, Vítor Belfort defende a ideia de que lutadores profissionais devem colocar as questões esportivas acima das pessoais. 
Que dilema. Os dois argumentos são válidos. O MMA é um esporte violento, de golpes que machucam e ferem. Amigos de verdade não se espancam, não saem no tapa como se isso não significasse nada para ambos.
Por outro lado, no esporte, o que vem em primeiro lugar é a disputa, a concorrência. Um lutador não pode deixar de evoluir na carreira, caso esteja em uma categoria em que existem muitos amigos e companheiros de treino. Ele deve sempre lutar visando ao cinturão, às glórias máximas que podem ser conquistadas.
O cume dessa questão emblemática do MMA foi a recente luta pelo título dos meio-pesados do UFC entre John Jones e Rashad Evans. Evans, ex-campeão da categoria, treinava com Jones e sempre alegava que jamais enfrentaria o amigo. O problema foi a rápida ascensão de Jones na mesma divisão. Questionado sobre a possibilidade de enfrentar Evans para chegar ao título, o rapaz não titubeou: afirmou que encarava o amigo sem problemas. Resultado: a amizade ruiu e os dois se enfrentaram em um combate cheio de tensões e mágoas mal resolvidas.
Jones claramente travou seu jogo, respeitou Evans como não fez com os adversários anteriores, a quem tratorizou sem dó nem piedade. Em suma, a luta entre os dois foi bem aquém do esperado porque havia muita carga emocional em jogo. Jones ganhou, mas nem de longe convenceu, nem de longe demonstrou que estava mesmo a fim de esmurrar seu ex-parceiro de treinos.
Com isso, eu posso dizer que, em casos assim, vale o bom senso. Lutador que não enfrenta amigo deve deixar isso bem claro desde o início da carreira, batendo o pé e impondo seu ponto de vista. E, como o próprio esporte exige, tem de ser muito macho para suportar as pressões contrárias.
Já quem não vê problemas em encarar parceiros de treino e amigos, pode, então, calçar as luvas e subir no octógono para estapear os colegas.
É um brutal esforço psicológico. Eu mesmo não conseguiria descer a marreta em um amigo. Mas, eles, que são lutadores, que se entendam e se matem. Um dos dois sairá vencedor (ou não).

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