Não é novidade eu dizer que
não vejo TV. Como todos sabemos, nada de rico ou construtivo pode ser
encontrado nas ondas que invadem nossas antenas. Se ligo a televisão, é para
ver futebol e olhe lá.
Bem, por não sintonizar meu televisor,
acabei perdendo a briga de cachorro grande que marcou o último episódio da
edição brasileira do reality show “The Ultimate Fighter”.
Tudo bem, não tem problema. A internet está aí para salvar a humanidade em situações assim. Dessa forma, lá fui eu ao computador com a missão de acompanhar o desdobramento do episódio em que Vítor Belfort e Wanderlei Silva, lutadores de MMA e treinadores de
dois times rivais no programa, entram em violenta rota de colisão, chegando quase às vias de fato.
A razão da discórdia é bem discutível: Belfort, seguindo
as regras do jogo, escolhe os lutadores que devem se enfrentar em um dos combates promovidos pela atração, sendo um de sua equipe e outro da de Wanderlei. A celeuma
se dá pelo vínculo de amizade entre os dois atletas selecionados, que já
treinaram e moraram juntos.
Wanderlei fica possesso com a
escolha de Vítor, pois considera que amigos não devem lutar entre si, a não ser na luta final do programa ou em alguma circunstância inevitável.
Por seu turno, Vítor Belfort defende a ideia de que lutadores profissionais devem colocar as questões esportivas acima das pessoais.
Que dilema. Os dois argumentos
são válidos. O MMA é um esporte violento, de golpes que machucam e ferem.
Amigos de verdade não se espancam, não saem no tapa como se isso não
significasse nada para ambos.
Por outro lado, no esporte, o
que vem em primeiro lugar é a disputa, a concorrência. Um lutador não pode
deixar de evoluir na carreira, caso esteja em uma categoria em que existem
muitos amigos e companheiros de treino. Ele deve sempre lutar visando ao
cinturão, às glórias máximas que podem ser conquistadas.
O cume dessa questão
emblemática do MMA foi a recente luta pelo título dos meio-pesados do UFC entre
John Jones e Rashad Evans. Evans, ex-campeão da categoria, treinava com Jones e
sempre alegava que jamais enfrentaria o amigo. O problema foi a rápida ascensão
de Jones na mesma divisão. Questionado sobre a possibilidade de enfrentar Evans
para chegar ao título, o rapaz não titubeou: afirmou que encarava o amigo sem
problemas. Resultado: a amizade ruiu e os dois se enfrentaram em um combate cheio
de tensões e mágoas mal resolvidas.
Jones claramente travou seu
jogo, respeitou Evans como não fez com os adversários anteriores, a quem
tratorizou sem dó nem piedade. Em suma, a luta entre os dois foi bem aquém do
esperado porque havia muita carga emocional em jogo. Jones ganhou, mas nem de
longe convenceu, nem de longe demonstrou que estava mesmo a fim de esmurrar seu
ex-parceiro de treinos.
Com isso, eu posso dizer que,
em casos assim, vale o bom senso. Lutador que não enfrenta amigo deve deixar
isso bem claro desde o início da carreira, batendo o pé e impondo seu ponto de
vista. E, como o próprio esporte exige, tem de ser muito macho para suportar as
pressões contrárias.
Já quem não vê problemas em
encarar parceiros de treino e amigos, pode, então, calçar as luvas e subir no
octógono para estapear os colegas.
É um brutal esforço
psicológico. Eu mesmo não conseguiria descer a marreta em um amigo. Mas, eles,
que são lutadores, que se entendam e se matem. Um dos dois sairá vencedor (ou
não).
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