Edu levava a vida numa boa. Depois de
encerrar um longo relacionamento, dedicava-se com estoicismo às bebedeiras e às
garotas. Todas as noites eram temperadas de extravagâncias e de sexo. Nunca
mergulhara tão fundo no labirinto da luxúria e da perdição.
Uma rotina baseada em uma liberdade
incontida, um carpe diem sem hora ou
lugar para acontecer. Um dos principais aliados do rapaz era a internet.
Através de chats e redes sociais, ele conhecia as moças e os points. Sempre
tinha onde e com quem ir.
Em uma dessas interações sociais,
conheceu Soraya. Uma jovem bonita e cheia de sonhos. Começaram a sair e logo se
envolveram. Edu, no entanto, sempre fazia questão de frisar que não era sério.
Nada além de curtição, boa companhia e sexo agradável. Soraya concordava,
procurava não se iludir, mas seus sentimentos por ele cresciam cada vez mais.
Um dia, Edu apareceu magoado, carregando
uma tristeza que parecia impossível. Chorou nos braços de Soraya, desabou suas
dores no colo da parceira de noites e amanheceu sob os carinhos de mãos
femininas.
Depois daquela noite, algo mudou. Edu
distanciou-se. As ligações e os papos virtuais rarearam de forma repentina.
Soraya tomou o impulso de ir atrás, mas domou seus instintos e deixou que o
tempo passasse. Decerto, se Edu se afastou, foi por razões que não cabem a
ela, talvez precisasse de um período sabático para reencontrar algo em si.
Meses depois, Edu reapareceu. Soraya não
se importou com perguntas. Apenas saíram e deliciaram o que podiam proporcionar
mutuamente. Deitado com a cabeça da moça
sobre o peito, Edu respirou fundo antes de falar: - Tô namorando.
Soraya sentiu o chão desmanchar. Por
alguns segundos, perdeu os sentidos e o senso de direção. Refeita, após a
martelada em seu coração, arguiu: - Achei que você não queria nada sério. Mas,
na verdade, você não queria nada sério era comigo, não é?
Edu passou a mão pelos cabelos ondulados
e depois coçou a barba por fazer: - Não é isso. Eu não queria nada sério com
ninguém. Mas certas coisas acontecem e não podemos fugir delas.
Antes de questionar, Soraya contou até
dez: - Ela tá grávida?
Edu endureceu o olhar e sua expressão
petrificou-se: - Não. Ela não tá grávida e eu não estou apaixonado. Mas, como
disse, de certas coisas eu não posso fugir. E também não posso falar o porquê. Só posso mesmo te dizer que estou namorando.
Com as mãos na cintura, a garota
interrogou: - E você está me contando por quê? Qual o sentido do que aconteceu
agora?
O rapaz manteve o olhar rígido: - Contei
porque, se a gente for continuar se vendo, vai ter que ser nessa condição.
Soraya conseguiu conter as lágrimas por
pouco: - Condição de amante, né? Condição de vadia pra você se divertir e sair
da monotonia do namoro, né?
Com discrição, Edu engoliu a seco: - Sei
que não é fácil nem justo, mas as coisas aconteceram dessa forma. Não pude
evitar.
Gestos dramáticos sublinharam as palavras
que escapariam dos lábios de Soraya: - Eu posso mesmo entender que você está
com outra, que você preferiu outra pessoa. Mas do jeito que você fez, do jeito
que você me tratou, isso não é algo que se faça com uma garota, mesmo que ela
não seja sua namorada nem sua amiga. Você tem ideia de como vou sentir quando
essa ficha cair? Você sabia que vou passar meses me sentindo usada, me sentindo
um lixo? Parabéns, se você queria me arrasar e acabar com tudo aquilo que eu
podia te proporcionar, você conseguiu. Mas não foi exatamente pelo que você
fez, mas pelo jeito com que você fez.
Não restou nada a Edu dizer. Ele apenas
rebaixou os olhos e a cabeça, como quem reconhece um erro e pede desculpas. Os
meses se passaram e os dois não se viram por um bom tempo. Pode até ser que não
se vejam mais, mas pode ser também que se reencontrem com o furor acumulado por
tantos dias de afastamento mútuo.
Quem sabe o que será do Destino desses jovens
amantes? Tudo ou nada estão logo ali, de braços cruzados, em uma esquina
qualquer, esperando a chance para embarcar nas narrativas que cada um carrega
consigo a cada vez que se levanta pela manhã ou pela noite.