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segunda-feira, 30 de julho de 2012

Tudo ou Nada




Edu levava a vida numa boa. Depois de encerrar um longo relacionamento, dedicava-se com estoicismo às bebedeiras e às garotas. Todas as noites eram temperadas de extravagâncias e de sexo. Nunca mergulhara tão fundo no labirinto da luxúria e da perdição.

Uma rotina baseada em uma liberdade incontida, um carpe diem sem hora ou lugar para acontecer. Um dos principais aliados do rapaz era a internet. Através de chats e redes sociais, ele conhecia as moças e os points. Sempre tinha onde e com quem ir.

Em uma dessas interações sociais, conheceu Soraya. Uma jovem bonita e cheia de sonhos. Começaram a sair e logo se envolveram. Edu, no entanto, sempre fazia questão de frisar que não era sério. Nada além de curtição, boa companhia e sexo agradável. Soraya concordava, procurava não se iludir, mas seus sentimentos por ele cresciam cada vez mais.

Um dia, Edu apareceu magoado, carregando uma tristeza que parecia impossível. Chorou nos braços de Soraya, desabou suas dores no colo da parceira de noites e amanheceu sob os carinhos de mãos femininas.

Depois daquela noite, algo mudou. Edu distanciou-se. As ligações e os papos virtuais rarearam de forma repentina. Soraya tomou o impulso de ir atrás, mas domou seus instintos e deixou que o tempo passasse. Decerto, se Edu se afastou, foi por razões que não cabem a ela, talvez precisasse de um período sabático para reencontrar algo em si.

Meses depois, Edu reapareceu. Soraya não se importou com perguntas. Apenas saíram e deliciaram o que podiam proporcionar mutuamente.  Deitado com a cabeça da moça sobre o peito, Edu respirou fundo antes de falar: - Tô namorando.

Soraya sentiu o chão desmanchar. Por alguns segundos, perdeu os sentidos e o senso de direção. Refeita, após a martelada em seu coração, arguiu: - Achei que você não queria nada sério. Mas, na verdade, você não queria nada sério era comigo, não é?

Edu passou a mão pelos cabelos ondulados e depois coçou a barba por fazer: - Não é isso. Eu não queria nada sério com ninguém. Mas certas coisas acontecem e não podemos fugir delas.
Antes de questionar, Soraya contou até dez: - Ela tá grávida?

Edu endureceu o olhar e sua expressão petrificou-se: - Não. Ela não tá grávida e eu não estou apaixonado. Mas, como disse, de certas coisas eu não posso fugir. E também não posso falar o porquê.  Só posso mesmo te dizer que estou namorando.

Com as mãos na cintura, a garota interrogou: - E você está me contando por quê? Qual o sentido do que aconteceu agora?

O rapaz manteve o olhar rígido: - Contei porque, se a gente for continuar se vendo, vai ter que ser nessa condição.

Soraya conseguiu conter as lágrimas por pouco: - Condição de amante, né? Condição de vadia pra você se divertir e sair da monotonia do namoro, né?

Com discrição, Edu engoliu a seco: - Sei que não é fácil nem justo, mas as coisas aconteceram dessa forma. Não pude evitar.

Gestos dramáticos sublinharam as palavras que escapariam dos lábios de Soraya: - Eu posso mesmo entender que você está com outra, que você preferiu outra pessoa. Mas do jeito que você fez, do jeito que você me tratou, isso não é algo que se faça com uma garota, mesmo que ela não seja sua namorada nem sua amiga. Você tem ideia de como vou sentir quando essa ficha cair? Você sabia que vou passar meses me sentindo usada, me sentindo um lixo? Parabéns, se você queria me arrasar e acabar com tudo aquilo que eu podia te proporcionar, você conseguiu. Mas não foi exatamente pelo que você fez, mas pelo jeito com que você fez.

Não restou nada a Edu dizer. Ele apenas rebaixou os olhos e a cabeça, como quem reconhece um erro e pede desculpas. Os meses se passaram e os dois não se viram por um bom tempo. Pode até ser que não se vejam mais, mas pode ser também que se reencontrem com o furor acumulado por tantos dias de afastamento mútuo.

Quem sabe o que será do Destino desses jovens amantes? Tudo ou nada estão logo ali, de braços cruzados, em uma esquina qualquer, esperando a chance para embarcar nas narrativas que cada um carrega consigo a cada vez que se levanta pela manhã ou pela noite.

Um comentário:

  1. Eu já sei bem o que é está na pele da Soraya já passei por situação muito parecida. E manter sangue frio em momentos como esse é muito difícil passa varias coisas na sua cabeça das piores coisas possíveis de se imaginar.

    Viver isso e complicado e não e para qualquer um tem que ter uma cabeça muito boa, e saber separa os sentimentos.

    Mais acredito que no final dessa historia depois de anos isso vai mudar, o jogo vai virar.
    Bom texto.

    RL bjs

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