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quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Coração realizado



Traga para mim sua doçura
Nossos lábios se esbarram no infinito
Nossos corpos se enlaçam, como se fosse uma dança
Dança que você domina como poucas
Seus movimentos, seus timbres, seus toques
Me fazem tremer e me fazem gemer
Um gemido, assim, diferente, repentino
Como se eu sofresse, como se tomasse um tiro
Apesar dos decibéis, nada sofro, nenhum arranhão
Apenas você se balança, se contorce
E me traz para fora do meu corpo, novo alcance
Em delírios, flutuo por um novo existir
Assim se resume o todo que trocamos
Naquele quase escuro, naquela noite de terça
Fomos amantes perfeitos,
Fomos sinceros e traiçoeiros
O produto desse processo fálico
Nada poderia ser que não
De um, aquele sorriso discreto
E do outro o coração realizado

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Melhor das camas



Que hoje seja o primeiro dia de mudanças e de revoluções. Tudo pode mudar: mudar agora, mudar de verdade. Não precisa marcar no calendário. É só chegar e fazer acontecer. A vida é assim, quando se calcula demais o ato, a matemática do fato já se foi. Então, não protele, não se boicote, apenas faça e se realize. A vida é transformada mais por quem faz do que por quem só sonha. Se há sonho, há também o meio de realizá-lo. Que seu escritório seja a melhor das camas e que você não precise fechar os olhos, para, enfim, enxergar o que tanto busca.

Número primo



Quer me ver? Chega mais. Quer me ter? É só pegar. Mas não quer? Então caia fora. Não tenho tempo a perder com quem não me valoriza. Amor próprio eu tenho de sobra. Mas só não tenho para gastar com quem só quer fazer hora. Então é assim mesmo, pode ir embora se você não conhece a mágica da soma. Aliás, se for para fazer contas, não se esqueça: eu não sou mais uma nessas suas equações fajutas. Ou eu sou seu número primo ou que você se divida com essas tantas frações que se acham potências.

Recompensa



força bruta da busca costuma machucar o perseguidor. E aí pergunto: Quem dele cuidará? Talvez a resposta não seja clara. É preciso muito cuidado com a luta obstinada, com a guerra declarada. Às vezes, damos tudo de nós por algo ou alguém. E, quando conseguimos, o costume é relaxar, dar uma pausa. O perigo está aí, no descanso descuidado, na fragilidade desavisada. Nesse momento é que nos tornamos presas de tiranias, algumas nossas, outras tantas alheias. Não se diz, por isso, que a busca deve ser cancelada. Pelo contrário, ela precisa existir, ela precisa ser construída. Mas tudo no seu tempo e com a devida previdência. Um passo de cada vez para não sofrer nenhum estiramento. Um respiro após cada investida, essa é a receita para seguir à frente sem ceder aos perigos. Então vamos, mas com calma e repouso. Recarregar as energias é tão importante quanto a coragem para se lançar aos desafios. Não esqueça, toda batalha vencida merece uma portentosa recompensa.


terça-feira, 21 de agosto de 2018

Via marginal



Obscuro desencanto
Quem você deseja ser, quem você deseja ferir?
Assim como quem nada busca, você seduz e desvirtua
Você reproduz loucos devaneios enquanto se perde do roteiro
Quem a anseia, escravo se torna de um sentimento profano
Quem a ambiciona, cativo se torna de um pensamento assanho
Eu nunca quis me juntar a isso, eu nunca quis pertencer a você
Mas sofro de amor à indiferença, de apetite ao que me desavença
E dessa forma você me enclausurou nesse calabouço estranho
Perdido entre calculismos que não mais entendo
Queria você tão distante quanto você está agora
O problema é essa imaginação que lhe busca onde quer que seja
Essa bússola maldita, esse GPS em perfeito funcionamento
Mas acredito ainda ser possível me livrar de tudo isso
Basta ser dito aquilo que ainda foi, aquilo que traz aflito
Você não é nada demais, você não tem nada de especial
Não é mais bonita das mulheres, nem a mais artística
Ainda menos a mais inteligente ou mais fervorosa
Tudo em você é comum ou trivial
É facilmente encontrado em qualquer outra
Em qualquer amor furtivo em noite de carnaval
Então agora está escrito, fodido e assinado
Não tem mais volta, não tem mais acostamento
Nessa estrada de merda, nessa via marginal
É tudo mão única, guiando todos a lugar algum
E nela me perco porque longe de você
É o melhor lugar para me reencontrar


Louco recomeço



Novos limites e novos cenários
Sempre incisivos, sempre necessários
Circular o próprio mundo e expor as fronteiras
Expor não; agora é preciso transpor, transbordar
Fazer das Minas secas algo que se tem de mar
E assim refazer aquilo que a geografia se negou
Ir além é um risco e também um presente
Quem não se desafia se torna transparente
Mas daquela transparência invisível
Sem graça, sem gosto, algo do tipo incólume
É mesmo preciso fazer tudo para ser tangível?
Sim, é preciso seguir a trilha incandescente
Que só se torna possível após o fósforo riscado
Quer mesmo deixar sua marca, seu legado?
Então saia do lugar, saia de si mesmo
Pelo menos experimente, por um momento
Ser algo diferente, sem as mesmas roupas
Sem o mesmo sorriso ou as mesmas dores
Experimente e se aumente
Nada se perderá, só se tem a ganhar
Então vá lá, diga adeus ao medo
Diga até logo ao apego
E faça de si essa nova busca
Esse insano e louco recomeço

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Margem do invisível



Somos artistas, somos poetas, somos déspotas de nossas próprias tiranias. Com letras e cores, com números e formas, com nudezas conservadoras, vamos abrindo portas e deixando marcas. Respiramos pelos poros da sensibilidade e da provocação pueril. Tudo nos fere, mas também tudo nos transforma. Somos filhos de horizontes expandidos e de sítios descortinados. Tudo que nos dizem, escutamos de outra forma; tudo que contamos, é escutado como aurora. Somos catalisadores do sintetismo, somos criadores do anarquismo. Somos profetas do infinito e negadores do apocalipse. Nada do que vemos faz sentido, tudo que enxergamos é ambíguo. Viver de arte e viver a arte dá nisso. Metamorfoseia aquilo que julgávamos ser e nos põe em condição de novo ser. Um ser tão louco e imprevisível quanto aquilo que condenávamos quando ainda éramos linhas de uma margem do invisível.

Humanize-se



Não é uma bobagem ou um caminhão delas que definirá quem você é. O erro é irreversível, mas a reparação não torna a busca pela compensação menos válida. Se você vacilou, tudo bem; sem problema. Isso só prova que você é um ser humano como qualquer um de nós. Somos assim mesmo, feitos de carbono, revestidos de moléculas e sustentados por ossos. Não ter razão é o risco diário que se corre apenas pelo simples direito de respirar. A questão não é o erro tão somente. Mas a insistência em repeti-lo, em reinventá-lo. O equívoco reclama pelo reconhecimento de si como desvio. E, para reconhecer o desvio, basta atentar para as dores provocadas ao redor. Se o que você fez abriu feridas, é porque foi um erro. Tudo bem. Aceite que você se precipitou. Peça desculpas sinceras aos ofendidos e parta em conserto ao que se danificou. Nada fará você “deserrar”, porém, fica a valiosa lição para que não se renove o ciclo vicioso. Quando alguém se excede e outra pessoa se machuca, essa pessoa magoada tende a descontar em quem está próximo e isso gera uma ampla corrente de calamidades e de sofrimento. Para não expandir a tragédia, é preciso que alguém aprenda e se torne maior do que o mal absorvido. E isso só é possível com aprendizado e com coração aberto. Portanto, não se escravize pelo erro cometido, supere-o, use-o como degrau para seu crescimento mental e humano. Humanos erram, mas humanos também aprendem e crescem através disso. Humanize-se.

Nossa coragem



Nada acontece por acaso. O que parece trágico e, até mesmo nos deixa mais fracos, tem sua razão de ser e existir. Cada empecilho, cada perigo, cada desvio: tudo isso nada mais é do que um aviso. Aviso de que devemos ser fortes e resistentes; resilientes e consistentes. Nossa coragem só advém quando o descaminho nos espreita, quando o mau agouro nos visita. É assim que se vive, por enfrentamento, por combate, por vendeta. Não estamos à deriva em mar aberto. Nosso destino não é aleatório ou randômico. O resultado da equação biográfica que nos sustenta é diretamente proporcional à postura adotada. Quem luta, resiste; quem desiste, enluta. Por isso, podemos dizer que o descanso não faz parte do direito existencial. Nossa evolução, nossos antepassados, nossas marcas no tempo, tudo provém de propugnação, de revolução, de ação contra as intempéries ambientais. Se ainda estamos de pé, é porque nos esforçamos para assim estar. A mensagem final é essa: seja sua fortaleza, seja seu próprio escudo. A sobrevivência jamais foi apenas por adaptação e sim também por negação ao fracasso. Insista, persista e invista. Estar aqui lendo esse texto já faz de você o vencedor que todos esperam. Apenas siga e diga a si mesmo que todas as batalhas dessa vida são batalhas vencidas porque você assim decretou.