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terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Velho Noel



Para ser sincero, eu não quero mais. Não quero mais brigar, não quero mais sofrer. Esse nosso processo torturante, quase dialético, não nos faz bem. Só quero paz, amor e compreensão mútua. Quero só que sejamos felizes, próximos ou distantes. Seja como for, vai ficar tudo bem. Somos maduros e conscientes. Não precisamos ficar olhando para trás, nos angustiando por algo que já ficou para Alá. Ali na frente, bem à frente, há uma linda e bela jornada aguardando cada um de nós. Ali é que será jogado esse desafio chamado Destino. Enfrentá-lo, acima de tudo, é uma obrigação e não um luxo ou uma experiência lúdica. Assim, vamos até Ele.  Que nossas armas sejam um sorriso no rosto, um coração sereno e a melhor das intenções. Do resto, ele, o Destino, se encarrega, entregando a cada um de nós o que realmente fizemos por merecer, como uma criança que só é contemplada pelo Velho Noel quando o comportamento anual assim permitiu.

Arrombado



Não me diga o que fazer nem para onde ir
Sou dono do meu próprio destino, sou dono do meu próprio nariz
Vamos lá, pode rir, pode se divertir
Se minha desgraça é engraçada, então sorria
Mas eu não vou me fazer de rogado nem bancar o educado
Quer saber? Vai se foder, vai tomar no seu cu
Poeta que regula palavra é o mesmo que baixa a cabeça e mostra o rabo
Não estou aqui para agradar e sim para irritar
Não estou aqui para pedir benção e sim para roubar o cofre
Não me quer por perto? Então me exorcize ou me mate
Se nada você fizer, aqui ficarei com meu livre arbítrio
Pronto para em desatino erguer o dedo médio
E mandar que o enfie no meio do seu butão sujo
Ou, nos termos que você prefere, no cerne do seu reto fétido
Mas isso me desonraria perante Bocage, Bandeira e Gregório
Então, em bom português, eu digo e repito
Meta esse dedo grosso no seu toba e roda, filho da puta de merda
Seu arrombado do caralho

Impostora


Cecília, parecia linda, parecia ilha
Mas o ilhado fui eu,
Dos meus melhores sentimentos, das melhores intenções
Como víbora faminta, atraiu meu olhar e devorou sem pensar
Meus sonhos, minhas magias e as tantas alegrias
Que eu havia planejado para nós
Cecília, a poetisa, jamais deixaria você manchar esse nome
Cecília, a original e única, valorizaria quem a tanto eterniza
Você, a Cecília que conheci, nada mais é do que impostora,
Nada mais é do que uma usurpadora
Se você tivesse um terço do preço da matriz
Quem sabe, assim, teria me feito sorrir
Em vez de tanto lamuriar e condenar
O inferno momento em que nossos caminhos se entrelaçaram

Pegadas


Que palavras usar para você de novo me amar? Que palavras tecer para você saber que ainda a quero? De letra em letra, ainda me esqueço que não sei recomeçar. Porque talvez isso deva ser feito sem você e sem você ainda não sei onde estou ou aonde quero chegar. Triste destino de andar em desatino querendo o que já tive, buscando o que mais me aflige. As duras memórias e as doces lembranças ainda se misturam, se embaralham como partes de um jogo desconexo e incompleto. Ainda tento lembrar e isso é estranho porque eu jamais esqueci. Mas eu persisto e a recordação insurge tão intensa no horizonte mental que olhá-la diretamente me cega, me devasta. Agora fico prostrado, um tanto inerte e um tanto amargurado. E lá de longe se vai o vazio do que me pertenceu e hoje não mais faz parte de mim. Lá ao longe se vai a minha chance de ser feliz. Mas o que eu quis? Não foi esse mesmo o caminho que trilhei, não foi essa fronteira que cruzei? Agora faço de mim meus pedaços por aí espalhados como cacos de uma vidraça quebrada que jamais será a mesma novamente, que jamais será mais uma vez inteiriça e plena por si mesma. O que se vai jamais volta, não do mesmo jeito, não com a mesma graça. E aí me pego surpreso, por mais mesmo que eu já soubesse que tudo tem um preço, às vezes um alto demais para cobrir, qualquer que seja meu patrimônio, qualquer que seja minha disposição a correr riscos. A vida não é uma jogatina, uma série de apostas; a vida, em si, é simples, é apenas o desdobramento lógico que tudo que fiz, conforme minhas pegadas demonstram. E aí fica a pergunta: essas pegadas me levam para longe ou para perto de você?

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Receituário



Eu te amo. Você sabe disso e sempre soube. Nunca escondi meus sentimentos, nunca escondi minhas emoções. E tudo estava bem, calmo, seguindo seu devido curso. Até que ela apareceu. Revirou meu mundo, bagunçou meus desejos e me fez deserto que antes era habitado pela mais bela flor. Explica agora o que faço, explica agora como me acho em meio a esse caos que ela provocou em nossas vidas. Eu juro que queria ver as coisas diferentes, eu juro que não queria estar passando por isso. Mas não tivemos escolha. Ela apareceu e roubou tudo. Ela despontou no horizonte e o Sol jamais voltou a brilhar diante de nossas vidas. Agora ela se vai, arrastando você pelas mãos, prometendo um novo mundo e uma nova geografia. Já eu fico aqui, triste, desidratado e totalmente remendado. Ainda tento entender o que não tem explicação. Ela simplesmente era a pessoa certa e eu agora me amargo, sabendo não ter sido a melhor das companhias e o melhor dos companheiros. Talvez seja assim mesmo. Ela pode fazer você feliz da forma que jamais fiz. E assim é o universo e a humanidade, a cada dia uma nova surpresa nessa jornada ingrata chamada vida e autoconhecimento. Talvez um dia eu também ache essa pessoa que ela agora vai ser para você e, assim, talvez, eu me surpreenda por ser alguém totalmente diferente dos rótulos e prescrições que esses tantos doutores me receitaram.


O beijo...



O beijo. Sim, aquele definitivo, final e intransitivo. Não precisa de complementos ou explicações. Ele apenas se justifica quando os lábios explodem no encontro mútuo, quando as faíscas são expelidas e recriam toda a fascinação. O beijo, aquele em que as línguas se abraçam como se fossem os amantes prometidos desde o início. O beijo, aquele com gosto, com aroma, com sabor. O beijo que começa nos lábios e desce por todo o corpo em forma de palpitações e sinestesias que jamais saberíamos descrever. Esse beijo, o beijo, é o beijo que não pode ser emprestado, transferido ou terceirizado. Apenas quem já sentiu sabe o que é, entende o pleno significado do ato. O beijo, sim, o único e inesquecível, é um presente para quem sabe amar e para quem saber escolher. É a dádiva de quem espera pela presença certa e não fica pulando de boca em boca, como afogado em desespero por uma brisa de ar. O beijo é não apenas o selar de lábios, mas também é o reencontrar de corpos e almas. É a reunião de quem já se conhecia muito antes de saber da existência alheia. O beijo é isso, é obra de arte, é transcendência, é a imortalidade traduzida no pecado a que todos nós, amantes do amar, estamos destinados, seja por escolha, vocação ou, simplesmente, rebeldia.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Floral fantasia



A beleza está no riso incontido, no abraço apertado, na gentileza oferecida. A beleza é o elogio sincero, a correção moderada e o reconhecimento atendido. Nada é mais poético do que as mãos dadas, do que o beijo espontâneo, do que o carinho não requerido. Tudo na vida é por si mesmo magnífico e lindo, basta ter os olhos e corações abertos. O pássaro canta e quantos não escutam? O Sol nasce, proporcionando uma linda aquarela de luzes, cores e formas. E quantos dormem sem conseguir assistir? A criança brinca, se diverte, faz gracejos. Quantos adultos realmente prestam atenção? Quantas vezes só se percebe a criança quando ela chora ou faz alguma má criação? A vida, todos os dias e em todos os momentos, nos brinda com tantos presentes e com tantas belezas. Porém, muitos de nós, fechados em nossos calabouços da rotina e da pressa infundada, despercebemos todo esse espetáculo que a vida nos entrega de graça. Então, sejamos mais atentos, sejamos mais solícitos. Quando se descobre o mundo por trás daquele outro que nos prende, tudo se torna muito mais fácil e lírico. E, daí em diante, a vida se faz mais natural e espontânea, formando uma apoteose de fatores construtivos, capaz de nos unir e de nos somar em um processo constante e contínuo. Para tal, basta nos permitirmos e nos revestirmos de toda essa floral fantasia com qual encontramos todos os dias.

A linha certa



Quando não havia nada, veio você. Quando achei que tinha tudo, você se foi. Entre perdas e ganhos, entre acertos e erros, vejo que a vida não é escrita a grafite, mas a tinta. Podemos até vacilar, trocar os pés pelas mãos; então, quando isso acontece, amargamente descobrimos que não vale a pena sair da linha, quando o objetivo é justamente nos manter nela. Podemos até enganar a linha ou quem a observa, simulando que estivemos ali, retilíneos, o tempo todo. Mas é possível enganarmos a nós mesmos, fingindo ser quem não somos e fingindo fazer algo que está bem distante da realidade? Aí vem a verdade e nos bate com a porta na cara, de uma vez só. O inchaço e o dolorido nada mais são do que lembretes de que tudo o que presta merece esforço e sacrifício. Quem prefere as linhas tortas sempre está desiludido, sem saber por onde anda e ignorando aonde quer chegar. As linhas tortas, enfim, só são um disfarce para quem adia tanto o momento de crescer e se realizar. Aí, quando a ficha cai e a conta chega, não teremos a menor garantia de que a linha certa ainda estará ali à nossa espera. Então, por que enrolar? É para já andar o caminho justo para chegar mais longe e com quem amamos ao nosso lado. É o único jeito, ou então tudo será descaminho, tudo será tempo perdido.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Trincheira



Não diga nada. Nada. Simples assim. Siga em frente e enfrente o que está porvir. Feche os olhos e se concentre para buscar forças. Mas quando a batalha começar, esteja de olhos abertos e bem atento a tudo. Será doloroso e você sairá um tanto machucado. Porém, sairá vitorioso. Não pense que acabou. O inimigo, ainda que vencido, não está morto. Você precisará lidar com os ardis e com as armadilhas. Serão muitos os desafios e perigos à sua volta. No entanto, você, confiante e engenhoso, saberá lidar com os espinhos, transformando-os em caminho para a investida final. Agora sim, a vitória é sua e definitiva. Celebre, abrace, brinde e se satisfaça. Não foi fácil chegar até aqui, não foi de graça cada cicatriz. Agora, sorria e se permita feliz. Só não se esqueça de quem o acompanhou até o desfecho. Não deixe de reconhecer todos que colaboraram e que tornaram tudo possível. Como muito bem nos lembra Hemingway, o caráter do seu companheiro de trincheira é mais importante do que a própria guerra.

Derradeira



Esse fogo que me queima, essa paixão que me transborda
Com seus beijos, me aceso e me aqueço
O frio da indiferença se afasta como fantasma assustado
E a luz de sua presença me alcança e me acalenta
Fazendo de mim mais feliz, fazendo de mim quem eu quis
E com seu corpo em meus laços, vivemos longa e intensa abrasão
Na manhã seguinte, me vejo solitário e desvalido
Interrogações e dúvidas me tomam os horizontes
Não sei mais se foi quimera, devaneio, ilusório amor
Ou se de fato a tive em meu peito, intercalando uivos e afetos
Diante de tal distúrbio, me refaço e me levanto
E assim repito todo o ritual do dia anterior
Na vã e tola esperança desesperançada
De tê-la de novo junto a mim por mais uma noite
Ainda que seja em sonho, ainda que seja em carbono
Pouco me importa a natureza de sua matéria
Apenas me basta que seja você, novamente, por entre meus braços
E assim nos deliciamos em uma madrugada que pode ser a derradeira
Ou quem sabe, num sopro de otimismo, de tantas a primeira