Eles
se beijaram sem pensar. Foi intenso e explosivo, como fogo e óleo juntos. Nunca
houve pensamento ou desejo entre eles, eram amigos de longa data, sabiam os
segredos um do outro, compartilharam vitórias nos esportes, foram parceiros em
conquistas amorosas.
Mas
naquela noite algo estava diferente, pulsante. Não foi pelo álcool ou pelo
ambiente, não foi pela luz ou pela atmosfera. Simplesmente se olharam e o
encontro de lábios aconteceu em um estalo.
O
susto foi inevitável. Afastaram-se perplexos, chocados por um ato que tantas
vezes condenaram quando feito por outras pessoas. Respiraram fundo, lavaram o
rosto e foram embora.
Não
pregaram os olhos por um segundo. Cada um em seu respectivo abrigo refletiu
sobre os significados daquele beijo. Não confessaram, mas bem que se excitaram
com os lábios em frenético choque, com as línguas se cruzando na escuridão da
balada.
Não
se falaram por algum tempo e tal ato acabou se tornando uma sessão de tortura.
Por mais que não quisessem, não paravam de pensar um no outro. Não esqueciam o
beijo, os lábios, os olhos em contraste.
Em
uma madrugada de segunda, sem nada combinar, sem telefone, mensagem ou recado, se
encontraram em uma esquina. Os corações explodiram em batidas de agonia e
êxtase. A timidez fez-se presente, mas o desejo foi mais forte.
No
interior de um dos carros, tiveram a primeira noite de amor sincera e sem
tabus. Entregaram-se ao colo daquilo que sentiam e não confessavam. Jogaram-se
de cabeça em algo tão especial quanto encantador.
Os
encontros clandestinos, os amanheceres nos braços um do outro foram se
multiplicando, a ponto de fazer com que ambos perdessem as contas. Não havia
uma data de início nem hora para acabar. Apenas se amavam enquanto juntos.
Aos
poucos, foram assumindo o que eram, foram colocando o reflexo para fora do
espelho. Foi tudo tão doloroso quanto catártico. Por um lado, a vergonha de ser
algo que tanto combatiam, por outro, a liberdade de, enfim, poder expressar o
que, no fundo, eram.
As
famílias não aceitaram. Por força e prazer, mudaram-se, encontraram um mesmo
teto para um mesmo amor. Com os anos, vieram a naturalidade e a segurança. De
vez em quando, terminavam, mas nunca conseguiam se afastar. Sempre choravam e
prometiam amor eterno a cada reenlace.
Adotaram
um filho, o amaram e o ensinaram a assumir o que o coração lhe apontasse. Morreram
em lágrimas quando ele passou no vestibular, desandaram em alegria quando ele
lhes apresentou a primeira namorada. Deram-se as mãos e se beijaram, quando ele
anunciou o casamento. Levaram-no ao altar e ele lhes deu um par de netos que
nunca teve vergonha ou medo dos avôs que tanto amaram.
Adorei esse texto,algumas amizades são assim não tem explicação e ninguém entende o porque delas, mas são as verdadeiras que permanecem por longas datas.
ResponderExcluirE se existe a possibilidade de um acontecimento parecido com o do carro,porque não fazer.. :)
RL