Total de visualizações de página

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Eles se beijaram...


Eles se beijaram sem pensar. Foi intenso e explosivo, como fogo e óleo juntos. Nunca houve pensamento ou desejo entre eles, eram amigos de longa data, sabiam os segredos um do outro, compartilharam vitórias nos esportes, foram parceiros em conquistas amorosas.

Mas naquela noite algo estava diferente, pulsante. Não foi pelo álcool ou pelo ambiente, não foi pela luz ou pela atmosfera. Simplesmente se olharam e o encontro de lábios aconteceu em um estalo.

O susto foi inevitável. Afastaram-se perplexos, chocados por um ato que tantas vezes condenaram quando feito por outras pessoas. Respiraram fundo, lavaram o rosto e foram embora.

Não pregaram os olhos por um segundo. Cada um em seu respectivo abrigo refletiu sobre os significados daquele beijo. Não confessaram, mas bem que se excitaram com os lábios em frenético choque, com as línguas se cruzando na escuridão da balada.

Não se falaram por algum tempo e tal ato acabou se tornando uma sessão de tortura. Por mais que não quisessem, não paravam de pensar um no outro. Não esqueciam o beijo, os lábios, os olhos em contraste.

Em uma madrugada de segunda, sem nada combinar, sem telefone, mensagem ou recado, se encontraram em uma esquina. Os corações explodiram em batidas de agonia e êxtase. A timidez fez-se presente, mas o desejo foi mais forte.

No interior de um dos carros, tiveram a primeira noite de amor sincera e sem tabus. Entregaram-se ao colo daquilo que sentiam e não confessavam. Jogaram-se de cabeça em algo tão especial quanto encantador.

Os encontros clandestinos, os amanheceres nos braços um do outro foram se multiplicando, a ponto de fazer com que ambos perdessem as contas. Não havia uma data de início nem hora para acabar. Apenas se amavam enquanto juntos.

Aos poucos, foram assumindo o que eram, foram colocando o reflexo para fora do espelho. Foi tudo tão doloroso quanto catártico. Por um lado, a vergonha de ser algo que tanto combatiam, por outro, a liberdade de, enfim, poder expressar o que, no fundo, eram.

As famílias não aceitaram. Por força e prazer, mudaram-se, encontraram um mesmo teto para um mesmo amor. Com os anos, vieram a naturalidade e a segurança. De vez em quando, terminavam, mas nunca conseguiam se afastar. Sempre choravam e prometiam amor eterno a cada reenlace.

Adotaram um filho, o amaram e o ensinaram a assumir o que o coração lhe apontasse. Morreram em lágrimas quando ele passou no vestibular, desandaram em alegria quando ele lhes apresentou a primeira namorada. Deram-se as mãos e se beijaram, quando ele anunciou o casamento. Levaram-no ao altar e ele lhes deu um par de netos que nunca teve vergonha ou medo dos avôs que tanto amaram.

Um comentário:

  1. Adorei esse texto,algumas amizades são assim não tem explicação e ninguém entende o porque delas, mas são as verdadeiras que permanecem por longas datas.

    E se existe a possibilidade de um acontecimento parecido com o do carro,porque não fazer.. :)


    RL

    ResponderExcluir