Para ser sincero, eu não
quero mais. Não quero mais brigar, não quero mais sofrer. Esse nosso processo
torturante, quase dialético, não nos faz bem. Só quero paz, amor e compreensão
mútua. Quero só que sejamos felizes, próximos ou distantes. Seja como for, vai
ficar tudo bem. Somos maduros e conscientes. Não precisamos ficar olhando para
trás, nos angustiando por algo que já ficou para Alá. Ali na frente, bem à
frente, há uma linda e bela jornada aguardando cada um de nós. Ali é que será
jogado esse desafio chamado Destino. Enfrentá-lo, acima de tudo, é uma
obrigação e não um luxo ou uma experiência lúdica. Assim, vamos até Ele. Que nossas armas sejam um sorriso no rosto,
um coração sereno e a melhor das intenções. Do resto, ele, o Destino, se
encarrega, entregando a cada um de nós o que realmente fizemos por merecer,
como uma criança que só é contemplada pelo Velho Noel quando o comportamento anual
assim permitiu.
Esse blog é uma gota de meu sangue, um plasma de meus sentimentos. Poesia, humor, política, dor, frustrações. É um espaço onde sou o que deveria ser ou o que nunca fui. É um lugar onde sou um personagem e uma entidade em vida. Sou um rio e também as pedras. A angústia perdida ou um sorriso espontâneo. Sou eu em múltiplas formas ou em forma alguma.
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terça-feira, 18 de dezembro de 2018
Arrombado
Não
me diga o que fazer nem para onde ir
Sou
dono do meu próprio destino, sou dono do meu próprio nariz
Vamos
lá, pode rir, pode se divertir
Se
minha desgraça é engraçada, então sorria
Mas
eu não vou me fazer de rogado nem bancar o educado
Quer
saber? Vai se foder, vai tomar no seu cu
Poeta
que regula palavra é o mesmo que baixa a cabeça e mostra o rabo
Não
estou aqui para agradar e sim para irritar
Não
estou aqui para pedir benção e sim para roubar o cofre
Não
me quer por perto? Então me exorcize ou me mate
Se
nada você fizer, aqui ficarei com meu livre arbítrio
Pronto
para em desatino erguer o dedo médio
E
mandar que o enfie no meio do seu butão sujo
Ou,
nos termos que você prefere, no cerne do seu reto fétido
Mas
isso me desonraria perante Bocage, Bandeira e Gregório
Então,
em bom português, eu digo e repito
Meta
esse dedo grosso no seu toba e roda, filho da puta de merda
Seu
arrombado do caralho
Impostora
Cecília,
parecia linda, parecia ilha
Mas
o ilhado fui eu,
Dos
meus melhores sentimentos, das melhores intenções
Como
víbora faminta, atraiu meu olhar e devorou sem pensar
Meus
sonhos, minhas magias e as tantas alegrias
Que
eu havia planejado para nós
Cecília,
a poetisa, jamais deixaria você manchar esse nome
Cecília,
a original e única, valorizaria quem a tanto eterniza
Você,
a Cecília que conheci, nada mais é do que impostora,
Nada
mais é do que uma usurpadora
Se
você tivesse um terço do preço da matriz
Quem
sabe, assim, teria me feito sorrir
Em
vez de tanto lamuriar e condenar
O inferno momento em que
nossos caminhos se entrelaçaram
Pegadas
Que palavras usar para você de novo me amar? Que palavras tecer para você saber que ainda a quero? De letra em letra, ainda me esqueço que não sei recomeçar. Porque talvez isso deva ser feito sem você e sem você ainda não sei onde estou ou aonde quero chegar. Triste destino de andar em desatino querendo o que já tive, buscando o que mais me aflige. As duras memórias e as doces lembranças ainda se misturam, se embaralham como partes de um jogo desconexo e incompleto. Ainda tento lembrar e isso é estranho porque eu jamais esqueci. Mas eu persisto e a recordação insurge tão intensa no horizonte mental que olhá-la diretamente me cega, me devasta. Agora fico prostrado, um tanto inerte e um tanto amargurado. E lá de longe se vai o vazio do que me pertenceu e hoje não mais faz parte de mim. Lá ao longe se vai a minha chance de ser feliz. Mas o que eu quis? Não foi esse mesmo o caminho que trilhei, não foi essa fronteira que cruzei? Agora faço de mim meus pedaços por aí espalhados como cacos de uma vidraça quebrada que jamais será a mesma novamente, que jamais será mais uma vez inteiriça e plena por si mesma. O que se vai jamais volta, não do mesmo jeito, não com a mesma graça. E aí me pego surpreso, por mais mesmo que eu já soubesse que tudo tem um preço, às vezes um alto demais para cobrir, qualquer que seja meu patrimônio, qualquer que seja minha disposição a correr riscos. A vida não é uma jogatina, uma série de apostas; a vida, em si, é simples, é apenas o desdobramento lógico que tudo que fiz, conforme minhas pegadas demonstram. E aí fica a pergunta: essas pegadas me levam para longe ou para perto de você?
terça-feira, 11 de dezembro de 2018
Receituário
Eu te amo. Você sabe
disso e sempre soube. Nunca escondi meus sentimentos, nunca escondi minhas
emoções. E tudo estava bem, calmo, seguindo seu devido curso. Até que ela
apareceu. Revirou meu mundo, bagunçou meus desejos e me fez deserto que antes
era habitado pela mais bela flor. Explica agora o que faço, explica agora como
me acho em meio a esse caos que ela provocou em nossas vidas. Eu juro que
queria ver as coisas diferentes, eu juro que não queria estar passando por isso.
Mas não tivemos escolha. Ela apareceu e roubou tudo. Ela despontou no horizonte
e o Sol jamais voltou a brilhar diante de nossas vidas. Agora ela se vai,
arrastando você pelas mãos, prometendo um novo mundo e uma nova geografia. Já
eu fico aqui, triste, desidratado e totalmente remendado. Ainda tento entender
o que não tem explicação. Ela simplesmente era a pessoa certa e eu agora me
amargo, sabendo não ter sido a melhor das companhias e o melhor dos
companheiros. Talvez seja assim mesmo. Ela pode fazer você feliz da forma que
jamais fiz. E assim é o universo e a humanidade, a cada dia uma nova surpresa
nessa jornada ingrata chamada vida e autoconhecimento. Talvez um dia eu também
ache essa pessoa que ela agora vai ser para você e, assim, talvez, eu me
surpreenda por ser alguém totalmente diferente dos rótulos e prescrições que
esses tantos doutores me receitaram.
O beijo...
O beijo. Sim, aquele definitivo, final e intransitivo. Não precisa de
complementos ou explicações. Ele apenas se justifica quando os lábios explodem
no encontro mútuo, quando as faíscas são expelidas e recriam toda a fascinação.
O beijo, aquele em que as línguas se abraçam como se fossem os amantes
prometidos desde o início. O beijo, aquele com gosto, com aroma, com sabor. O
beijo que começa nos lábios e desce por todo o corpo em forma de palpitações e
sinestesias que jamais saberíamos descrever. Esse beijo, o beijo, é o beijo que
não pode ser emprestado, transferido ou terceirizado. Apenas quem já sentiu
sabe o que é, entende o pleno significado do ato. O beijo, sim, o único e inesquecível,
é um presente para quem sabe amar e para quem saber escolher. É a dádiva de
quem espera pela presença certa e não fica pulando de boca em boca, como
afogado em desespero por uma brisa de ar. O beijo é não apenas o selar de
lábios, mas também é o reencontrar de corpos e almas. É a reunião de quem já se
conhecia muito antes de saber da existência alheia. O beijo é isso, é obra de
arte, é transcendência, é a imortalidade traduzida no pecado a que todos nós,
amantes do amar, estamos destinados, seja por escolha, vocação ou,
simplesmente, rebeldia.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2018
Floral fantasia
A
beleza está no riso incontido, no abraço apertado, na gentileza oferecida. A
beleza é o elogio sincero, a correção moderada e o reconhecimento atendido. Nada é
mais poético do que as mãos dadas, do que o beijo espontâneo, do que o carinho
não requerido. Tudo na vida é por si mesmo magnífico e lindo, basta ter os
olhos e corações abertos. O pássaro canta e quantos não escutam? O Sol nasce,
proporcionando uma linda aquarela de luzes, cores e formas. E quantos dormem
sem conseguir assistir? A criança brinca, se diverte, faz gracejos. Quantos adultos
realmente prestam atenção? Quantas vezes só se percebe a criança quando ela
chora ou faz alguma má criação? A vida, todos os dias e em todos os momentos,
nos brinda com tantos presentes e com tantas belezas. Porém, muitos de nós,
fechados em nossos calabouços da rotina e da pressa infundada, despercebemos
todo esse espetáculo que a vida nos entrega de graça. Então, sejamos mais
atentos, sejamos mais solícitos. Quando se descobre o mundo por trás daquele
outro que nos prende, tudo se torna muito mais fácil e lírico. E, daí em diante,
a vida se faz mais natural e espontânea, formando uma apoteose de
fatores construtivos, capaz de nos unir e de nos somar em um processo constante
e contínuo. Para tal, basta nos permitirmos e nos revestirmos de toda essa
floral fantasia com qual encontramos todos os dias.
A linha certa
Quando não havia nada, veio você. Quando achei que tinha tudo, você se
foi. Entre perdas e ganhos, entre acertos e erros, vejo que a vida não é
escrita a grafite, mas a tinta. Podemos até vacilar, trocar os pés pelas mãos;
então, quando isso acontece, amargamente descobrimos que não vale a pena sair da
linha, quando o objetivo é justamente nos manter nela. Podemos até enganar a
linha ou quem a observa, simulando que estivemos ali, retilíneos, o tempo todo.
Mas é possível enganarmos a nós mesmos, fingindo ser quem não somos e fingindo
fazer algo que está bem distante da realidade? Aí vem a verdade e nos bate com
a porta na cara, de uma vez só. O inchaço e o dolorido nada mais são do que
lembretes de que tudo o que presta merece esforço e sacrifício. Quem prefere as
linhas tortas sempre está desiludido, sem saber por onde anda e ignorando aonde
quer chegar. As linhas tortas, enfim, só são um disfarce para quem adia tanto o
momento de crescer e se realizar. Aí, quando a ficha cai e a conta chega, não
teremos a menor garantia de que a linha certa ainda estará ali à nossa espera.
Então, por que enrolar? É para já andar o caminho justo para chegar mais longe
e com quem amamos ao nosso lado. É o único jeito, ou então tudo será
descaminho, tudo será tempo perdido.
quinta-feira, 6 de dezembro de 2018
Trincheira
Não diga nada. Nada. Simples assim. Siga em frente e enfrente
o que está porvir. Feche os olhos e se concentre para buscar forças. Mas quando
a batalha começar, esteja de olhos abertos e bem atento a tudo. Será doloroso e
você sairá um tanto machucado. Porém, sairá vitorioso. Não pense que acabou. O
inimigo, ainda que vencido, não está morto. Você precisará lidar com os ardis e
com as armadilhas. Serão muitos os desafios e perigos à sua volta. No entanto,
você, confiante e engenhoso, saberá lidar com os espinhos, transformando-os em
caminho para a investida final. Agora sim, a vitória é sua e definitiva.
Celebre, abrace, brinde e se satisfaça. Não foi fácil chegar até aqui, não foi de
graça cada cicatriz. Agora, sorria e se permita feliz. Só não se esqueça de
quem o acompanhou até o desfecho. Não deixe de reconhecer todos que colaboraram
e que tornaram tudo possível. Como muito bem nos lembra Hemingway, o caráter do
seu companheiro de trincheira é mais importante do que a própria guerra.
Derradeira
Esse fogo que me queima,
essa paixão que me transborda
Com seus beijos, me aceso
e me aqueço
O frio da indiferença se
afasta como fantasma assustado
E a luz de sua presença
me alcança e me acalenta
Fazendo de mim mais
feliz, fazendo de mim quem eu quis
E com seu corpo em meus
laços, vivemos longa e intensa abrasão
Na manhã seguinte, me
vejo solitário e desvalido
Interrogações e dúvidas
me tomam os horizontes
Não sei mais se foi
quimera, devaneio, ilusório amor
Ou se de fato a tive em
meu peito, intercalando uivos e afetos
Diante de tal distúrbio,
me refaço e me levanto
E assim repito todo o
ritual do dia anterior
Na vã e tola esperança
desesperançada
De tê-la de novo junto a
mim por mais uma noite
Ainda que seja em sonho,
ainda que seja em carbono
Pouco me importa a
natureza de sua matéria
Apenas me basta que seja
você, novamente, por entre meus braços
E assim nos deliciamos em
uma madrugada que pode ser a derradeira
Ou quem sabe, num sopro
de otimismo, de tantas a primeira
sexta-feira, 30 de novembro de 2018
A dobra do egoísmo
Amor não se dá, não se vende, não se oferece. O amor simplesmente
aparece, é uma conquista, uma doce magia. Amor é algo que se compartilha, que
se põe à mesa para duas pessoas. Amor, enfim, é o elo entre duas vidas, é a
dobra do egoísmo em favor de algo muito melhor.
quarta-feira, 14 de novembro de 2018
segunda-feira, 12 de novembro de 2018
Vem comigo
Bora, levanta, sacode a poeira e joga a tristeza ao vento. Bora recomeçar, fazer de novo, fazer melhor. Na vida, não tem game over; na vida, o que tem é o dia seguinte e a oportunidade de se reinventar. Então é assim: diga sim ao que vem ao seu encontro, ao que lhe procura rezando por uma chance. Aquele tempo perdido que foi investido onde não teve nada é só uma lição que deve ficar escrita em letras garrafais em algum diário vazio. Agora não dá mais é para chorar pitangas enquanto o trem passa sem ninguém embarcar. Meu bem, deixa disso; desapega e sossega esse coração aflito. Nada mais é do que já foi. Ninguém é maior do que o próprio reflexo no espelho. Então, não esquenta; relaxa e deixa a banda passar. Tudo vem por um motivo e também se vai por algum outro motivo. Tudo certo, sem problema. O que não pode acontecer é aquele desânimo que pensa que é cunhado e, em vez de ficar dois dias, acaba completando um semestre de permanência indesejada. Não deixa isso acontecer, desaloja esse folgado e volta a viver os seus melhores dias. Eu nunca disse que seria fácil, eu disse sim que sempre foi possível. E ainda é. Mas não vai acontecer com você se acomodando e buscando outros culpados. Deixa de frescura e arregaça as mangas. Chegou a hora de transformar os limões azedos em caipirinha. Você coloca sua doçura e eu a minha loucura. Quando tudo estiver junto e misturado, aí basta servir e ganhar uns trocados. Bora, então ser feliz? Eu chego comigo e você vem sozinha. Juntando nossas companhias, somos uma multidão de alegria. Eu disse, você lembra? Não basta muito para se realizar. Um sorriso, alguns abraços e taí: o mundo voltou a ser colorido e repleto de delícias. Então, partiu ser feliz? Não? Vem comigo, no caminho eu explico, não sem o risco de alguns beijos roubados e o vestido amarrotado.
sexta-feira, 9 de novembro de 2018
Quanto vale a vida?
Rapaz talentoso. Com a bola nos pés, tudo se tornava mágico e
óbvio. Os passes precisos e os gols não tão numerosos, mas decisivos; o
catapultaram à condição de camisa 10 dos sonhos de qualquer time. A crise
financeira e moral que assolou o seu clube à época, o Botafogo, permitiu que
rompesse o contrato. Se em General Severiano o salário já era vultuoso, a
assinatura de contrato com o São Paulo lhe materializou a fortuna. Com o
estrelado, também vieram as brasas da vaidade, consumindo sua carreira e sua
imagem. Jogar em um clube tricampeão da Libertadores e do Mundo arrancou sua
condição de anônimo. O rapaz agora é atleta de primeira grandeza, pé de obra do
escudo mais poderoso do futebol brasileiro. Assim, o assédio explodiu como
pólvora ao fogo. As garotas, antes reticentes, agora se tornaram acessíveis. Os
amigos, tão sumidos nos tempos menos generosos, se multiplicaram. Tudo parecia
roteiro de um filme com final feliz. Mas veio a lesão no joelho, a incômoda
fraqueza que o acompanharia até fim dos dias. O joelho ferido foi como um
choque de realidade. As oportunidades no time principal do São Paulo
encolheram, até sumirem de vez. Para ser aproveitado, foi testado em outros
clubes. O jovem envergou as camisas da Ponte Preta, do Coritiba e do São Bento.
Nessas paragens, não brilhou intensamente, como o fizera com a camisa gloriosa
da Estrela Solitária. Mas, badalado, conheceu muitas pessoas, participou de
muitas festas e se tornou alvo de muitos interesses. Na capital paranaense, em
especial, conheceu uma moça primaveril e bela. O magnetismo sexual foi intenso
e imediato. Passaram a se encontrar com frequência. As famílias foram envolvidas
e tudo parecia muito confortável. Quando a carreira lhe tirou do Sul do país, os
contatos foram mantidos. Algumas vezes se reencontravam, sempre com a mesma
chama e o mesmo ardor. Agora, no entanto, o rapaz já não é aquele menino tão
tímido de outra época. A fama e a fortuna o forjaram de autoconfiança. As
tantas garotas com quem dorme são expostas em grupos privados de rede sociais
como troféus. Ali, desafios e picardias sexuais são numerosos e recorrentes.
Sempre há um novo alvo para ser abatido e exibido. Enfim, esse jovem se
transforma em um garanhão, em um puro-sangue capaz de tantas proezas no campo
da sedução. Nos gramados, já não é tão proativo e seguro. E isso talvez tenha
sido a perdição desse promissor atleta. Focado não mais na carreira
futebolística, mas em uma vida sexual movimentada; recebe a chance de rever sua
querida moça do Sul. Era aniversário dela. Mas, provavelmente, dele seria o
maior dos presentes sob os lençóis. Na festa, tudo bem, tudo certo. Bebidas,
beijos, fotos, bajulação: o roteiro básico de quem já se afamou sob os
holofotes da bola. Quando a celebração parece encerrada, uma proposta de after
party. Parecia legal, por que não? E lá foi rapaz para uma casa bastante
requintada e afastada do espaço noturno original. Lá, mais bebidas, mais beijos
e mais tentações. A mãe da aniversariante, uma senhora de beleza interessante,
abandona os festejos para descansar. Nas redes sociais, o rapaz está se gabando
com os amigos e promete a eles que apresentará mais uma conquista sexual. De
fato, ele se reúne a ela sob lençóis. Mas em quais condições? Teria sido sexo,
abuso ou só mesmo uma mera brincadeira pueril de quem queria inflar o próprio
ego perante os amigos? Não dá para saber ao certo. As fotos postadas no grupo
não são conclusivas. As mensagens textualizadas pelo rapaz sim. Elas dão conta
de que, supostamente, ele teve momentos de sexo com a adormecida mulher. Sem qualquer sobreaviso, o quarto é subitamente
invadido. O jogador é dominado por pessoas sedentas de sangue e brutalmente
agredido. E ali, entre a chuva de punhos cerrados e solados furiosos, ele
vislumbra o começo da carreira, nas categorias de base do Cruzeiro e depois do
Botafogo. Ele relembra os gols, os títulos, as amizades e todo o desfiar de sua
carreira que parecia tão futurosa e destinada ao estrelato. Se pudesse imaginar
como seria o próprio fim, jamais preveria que seria daquele jeito: sendo
desfigurado por agressores irascíveis, em meio ao olhar assustado de cúmplices
acovardados, no esplendor da sua jovialidade. Não demora até que tudo se torne
turvo e opaco. A Divindade, do alto de sua misericórdia, arranca o jovem de seu
corpo mutilado, antes que ali lhe fossem produzidos os ferimentos mortais e
sádicos. Do lado de fora, ele consegue se ver já sem vida e completamente destruído. Bem diferente das fotos de jornais,
sites e revistas. Bem diferente do sorriso que lhe estampava a face quando em
companhia de familiares e entes queridos. Aliás, mesmo distante deles, consegue
captar cada angústia e cada dor, até que a verdade se revela e a todos choca.
Sem poder amparar aos que ama, o rapaz reflete. Terá mesmo valido a pena morrer
por tão pouco? Para onde estamos caminhando, se a tecnologia, em vez de
auxiliar, se transforma em instrumento de narcisismo e desinformação? Uma
carreira tão abençoada deveria mesmo ter conduzido àquilo? Será mesmo que as
mulheres supérfluas e os amigos de aparência foram a melhor escolha? Quantas
amizades genuínas e amores cristalinos se perderam por entre as sombras do
egocentrismo e da soberba? Quanto vale a vida? Tão pouco a ponto de seres
humanos subtraírem a vida de outro por ciúme e vingança? Uma vida é descartável
a ponto de ser destruída de forma tão psicótica e doentia por mera frivolidade?
Onde estavam aqueles que prometeram lhe acompanhar até o final? Onde estavam os
amigos que honrariam sua memória e sua história? As tantas reflexões foram interrompidas
quando mãos radiantes tocaram o ombro do rapaz. Ali sim estavam seus amigos de
verdade, aqueles que vieram lhe trazer consolação e reconstrução. Então, à luz
da sabedoria, o jovem entendeu que ali se formava uma nova chance de recomeçar,
que ali estavam não as trevas e o ostracismo, mas sim a esperança e o renascimento,
permitindo-lhe converter todos os descaminhos em acertos, todos os medos em convicções
para um novo ser e uma nova era.
Nota: Esse texto é uma reflexão e uma homenagem à memória do atleta de futebol Daniel Corrêa Freitas, brutalmente assassinado. Que sua trajetória nos sirva de lição e de ponderação sobre os tempos em que vivemos hoje, de muita intolerância e de desrespeito a valores basilares como amor, empatia, amizade e solidariedade.
quarta-feira, 31 de outubro de 2018
Coragem
Coragem. Coragem
para permanecer na luta, coragem para aceitar a derrota. Coragem para resistir
e fazer oposição ao que for ofensivo e deletério. Coragem para seguir em
frente, de cabeça erguida, com a certeza de que se fez a mais consciente das
escolhas. Coragem para enfrentar desafios e, por vezes, pisar em espinhos.
Coragem para mudar o que for necessário e para conviver com que for
obrigatório. Coragem para buscar novos caminhos e para contornar os numerosos abismos.
Coragem para buscar os mesmos sonhos sem pessimismo ou revanche. Coragem para
ser tolerância sem jamais ser conivência. Coragem para não desistir e batalhar
pelos valores da democracia e da república. Coragem para ser a diferença onde a
igualdade sufoca. Coragem para não ser indiferente a desmandos, transgressões e
violências. Coragem para exercer a cidadania que o país tanto precisa em tempos
que podem ser de dura travessia ou de inesperada calmaria. Coragem hoje,
coragem em todos os dias. Coragem sempre.
segunda-feira, 15 de outubro de 2018
A próxima refeição
Não
faz diferença. Ou melhor, faz toda a diferença. Aqueles dois números mágicos
que você vai digitar no dia 28 de outubro serão cruciais para o futuro do país.
Realmente, não devemos pregar que se trata de uma escolha entre democracia e
ditadura, entre criação e destruição. O cenário que nos apresenta é mais de uma
escolha entre continuísmo e ruptura. Mas continuísmo de que? De acertos ou de
erros? Só mesmo uma pessoa com a visão sectária não reconhece que a gestão
interrompida pela trupe de Temer teve seus acertos e também seus tantos erros. É
deles que Haddad iniciará uma eventual gestão petista? A resposta está no
programa no candidato e no que por ele foi feito em seus tempos de Ministro da
Educação e Prefeito de São Paulo. Foram gestões que também balançaram, e muito,
entre correções e deslizes. Por isso, uma análise cuidadosa e com muito
critério se faz pertinente e muito bem-vinda.
Do
outro lado, temos uma candidatura que é bastante radical no seu discurso, e
ainda mais radical quando se vê ataques a minorias protagonizados por seus
partidários. Bolsonaro não é mesmo responsável direto pelo que seus eleitores
fazem, mas seria de bom-tom que dele viessem palavras de calmaria e de
serenidade. Não ajuda aos indecisos que adeptos de um lado esfaqueiem e
espanquem discordantes. Na verdade, isso explica muito o contexto. Esses
valentões de meia tigela, que só assim o são em maioria ou armados até os
dentes, não lutam por uma mudança de paradigma, entregando à sociedade um
governo aliado da boa gestão e da quebra com os elos corruptivos. Para eles, o
negócio é estancar a sangria da justiça social que o PT, verdade seja dita,
engendrou por questões muito mais eleitorais do que humanitárias. Ainda assim,
na gestão de Lula/Dilma muito se observou de avanços no que tange a direitos de
minorias e desfavorecidos.
Esse
progresso social e econômico das classes emergentes desagradou tanto às “elites”
que a colunista Danuza Leão traduziu em palavras o sentimento dessa turma, ao
dizer que não tinha mais graça ir a Nova Iorque porque lá haveria o risco de
encontrar o porteiro do próprio prédio. Pois bem, é muito positivo, em um país
eivado por desigualdades e indiferenças aos desprotegidos, que porteiros e demais
classes trabalhadoras possam frequentar aeroportos e desfrutar de roteiros
turísticos internacionais.
Eleitores
de Jair Bolsonaro têm todo o direito de enxergar nele a melhor das opções,
depois de analisar o programa e o discurso do candidato. Mas, por favor, não
votem no atual deputado para se vingar de minorias e de emergentes. Fazer isso
é como criar cobras para acabar com roedores. Agindo assim, realmente, não
teremos mais roedores, mas e quanto às cobras? Quem vai se livrar delas, quem
vai lidar com elas? Antes mesmo de se ensaiar a resposta, saiba que elas já
estarão, na primeira madrugada possível, enroscadas em seus pescoços, prontas
para a próxima refeição.
sexta-feira, 28 de setembro de 2018
O padrão
Eu
não inventei o padrão. Muito menos me encaixo nele ou ali encontro as respostas
de que preciso. Então qual a razão dos padrões e das regras tão rígidas? Quem
sai ganhando com isso? Eu fico, mesmo, com a impressão de que o padrão foi criado
para dar vantagem a quem o criou, agindo à margem dele em benefício próprio.
Nesse caso, nossos deputados e senadores já exemplificam tudo isso, porque eles
legislam e lucram fortunas subvertendo o que eles próprios estabeleceram.
Parece contraditório, e é. Muitas vezes, quem inventa a regra ou quem a defende
com tamanho afinco é justamente quem tem algo a ganhar para além dela. Não
estou dizendo que as normas e padrões devam ser lançados às favas, entornando
em todos nós uma atmosfera de anarquia e caos. Não é assim que funciona.
Precisamos de referências e de parâmetros. Mas a questão é: quais referências e
quais parâmetros? E quem as decide? Não questionamos a existência as regra e sim
quais delas devem realmente ser estabelecidas. Em um mundo onde se vive uma
inversão brutal de valores, é necessário interpelar a intenção e os interesses
de quem delimita o que é lei e o que não é. É preciso enxergar que a regra não
deve favorecer A ou B e sim beneficiar toda a sociedade. Agora, com isso em
mente, se pergunte com verdade nos olhos: são todas as leis que realmente
beneficiam a todos? Se a resposta for não, então reflita sobre o seguimento
fiel a elas e depois, se for caso, batalhe para mudá-las. Decisões erradas e
fortuitas não podem, para sempre, prejudicar a maioria de nós. Vamos à luta e
vamos em frente.
A grande mágica
Amor vende-se em
dose? Então quero mais, quero até a última dose, overdose. Amor vende-se em
caixas ou pílulas? Que bom seria ter a cura de todos os males comprimida em
cápsula. Que bom seria desembalar o sentimento, tirá-lo da caixa, vivê-lo por
completo. Eu bem que gostaria de vender amor, ser o mercador do bem, o dono do
armazém de esperanças. Mas não sou nem posso ser. Não vendo sentimentos nem
pessoas, mas posso exportar otimismo, fazer crer que a vida é um poço sem
abismo. Posso servir uma dose de amor? Não, não rola, mas posso convidar você a
se abrir com entusiasmo para o dia, a deixar rolar os sentimentos, os abraços
e, assim como quem não quer nada, esbarrar naquilo que pode ser a grande mágica
que não se acha nas caixas nem nas cápsulas.
quinta-feira, 27 de setembro de 2018
Obstinação
É para ter
coragem, garra e atino
Viver não é
descer para o playground
E sim encarar
cada desafio, cada descaminho
As coisas
quase nunca serão fáceis ou suaves
Aprender,
crescer e empreender requer obstáculos
Somos como
pipa que as crianças soltam pelos ares
Subimos nunca
a favor, mas sempre contra o vento
E não venha
reclamar, inventar contratempo
Desculpas
foram criadas pelos preguiçosos e ociosos
Quem é de
fazer, pega, faz e esquece o que foi empecilho
Eu sei, à
vezes complica, às vezes sufoca
A vida é
assim: um tanto misteriosa, um tanto provocativa
A resposta
nossa é que precisa ser firme e consistente
Diga sempre
sim ao desenvolvimento e ao trabalho
Diga sempre
sim quando o impossível for uma certeza
Quando
chegamos ao alto da montanha, já ofegantes
É que olhamos
para baixo e entendemos
A subida não
era assim tão irresistível
Nosso medo é
que impôs a maior dificuldade
E nossa
obstinação é que transformou a conquista em realidade
quarta-feira, 26 de setembro de 2018
Meu infinito
Beijo meu, beijo seu
Uma união de lábios sedosos
Que sela nossos destinos libidinosos
Quando sua boca encontra meu corpo
Quando minha língua percorre seu escopo
Eu me sinto livre, eu me sinto solto
Solto para amar e voar
Solto para existir e participar
Desse nosso jogo misterioso
Dessa nossa fantasia colorida
Estar em seus braços é meu melhor lado
Que dele eu nunca mais me liberte
Que desse enlace se crie o eu equilibrado
Onde tanto me multiplico e me divido
Para, enfim, ter você como infinito
quarta-feira, 19 de setembro de 2018
Palavras
As
palavras são companheiras aladas
Criaturas
cósmicas que nos visitam o pensamento
De
tempo em tempo, a todo o momento
Palavras
são sentimentos engasgados em letras
São
símbolos que carregam muito mais do que significado
Palavras
são melodia, metáfora, sinergia
São
duendes que nos traem em nossa tirania
Mas
que também nos salvam em noites de agonia
Palavras
são mágicas, são confetes, são contagiantes
Se
você saca da alma uma palavra de bem e de edificação
Todos
ao seu lado estarão em harmonia, trabalhando
Mas
se você pega uma que não seja de benevolência
Aí
verá o ambiente ser tomado pela pesada e sonora turbulência
Então
não esqueça: palavras não são armas, não são facas
Elas
só ferem quem lhes dá pleno ouvido
E
só são letais nas mãos de quem ainda nem sabe soletrar
quinta-feira, 13 de setembro de 2018
Triste sinfonia
Questiono
à triste e ingrata sinfonia
Que
é viver exilado de seus abraços e afagos
Como
faço para merecer seu sobreaviso?
Para
ter de você mais do que um olhar lascivo e perdido?
Estou
certo de que a solidão me ronda
Como
besta-fera a rosnar e perseguir
Quem
dela não se afasta quase de imediato
Mas
meus sentimentos me tornam perigosamente tolo
Me
dotam de uma coragem antes não existida
E
fico aqui, encarando o perigo e procurando seu abrigo
Tudo
em vão, você me sorri e se vai furtivamente
Entre
outros braços, mergulhada em outro sorriso
A
melancolia me abate e me destrona
E
agora só me resta soluçar como criança contrariada
E
me guardar na esperança de que um novo coração
Estará
em meu desatinado destino, como se fosse chão
quarta-feira, 12 de setembro de 2018
Como se fosse fim
Minha paz é você, seu sorriso
Entre tantas belezas, meu colírio
Uma criação linda e divina
Que tenha para chamar de minha
Posso ser ambicioso por querer você
Mas qual homem também não quereria?
Qual homem seria capaz de lhe largar a mercê?
Se eu não fizesse algo, eu não mereceria
Ter seus olhos juntos aos meus
E sua respiração me encarando, como se fosse um
adeus
Se fosse para ser mais um, mais uma noite esquecida
Eu asseguro que não mais me importaria
Mas me importo porque você é luz para quem está de
guarida
Você é sossego para quem de amor, para quem vê
desespero
Eu tenho a serenidade de olhar e sentir você em
mim
E a certeza de que entre todas as coisas do mundo
inteiro
Você é aquela que me traduz melhor, como se fosse
um fim
Alento
Às
vezes, quando o pensamento soma,
O
ato se assombra e deixa de existir
Por
isso, pense bem, mas não tanto
O
quanto se pensa não se sustenta
Na
necessidade do mundo real
Seja
racional, mas também seja ágil
Afinal
de contas, você é mesmo humano?
Ou
só mais um entre tantos?
Você
é mesmo feito de carbono?
Ou
só mesmo mais um mero engano?
A
resposta será seu juízo final
Porque
das ações nascem o imperal
Daquilo
que vivemos e sofremos
E
sofremos porque ou agimos rápido
Quase
um baleio desavisado, a esmo
Ou
retardamos tanto e por tanto tempo
O
que nos deriva à felicidade de um alento
terça-feira, 4 de setembro de 2018
Indigna nação
O descaso acabou com a História
Não foi o fogo quem destruiu o museu
Mas sim a incompetência e a desonra
De quem golpeou o país em troca de nada
Agora só resta lamentar, soluçar
Por tudo que se foi, por tudo que ficou
para trás
Como respeitar um país que não respeita
a si mesmo?
Como respeitar o juízo tão penoso com
alguns?
E tão leviano com outros, entre eles
misóginos e bandidos assumidos?
O museu destruído, devastado, reduzido a
pó
Nada mais é do que uma triste e irônica
metáfora
Dos tempos que vivemos hoje, do país que
habitamos
Onde regras valem só para um lado
Onde o ódio e a intransigência
Tomam conta das instituições e das
agências
E eles, com os rostos impávidos e
lívidos,
Ainda acreditam mesmo que não tem nada
com isso
Que é só uma mera e singela coincidência
Um país que se vende aos interesses de
poucos
Sempre acaba assim, desse jeito
Com sua história entre escombros e
cinzas
Com trajetória rompida por bastardos
inglórios
É para revoltar a qualquer um, é
indignação
Ter de aturar essa gente no comando
Nos transformando em indigna nação.
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