Total de visualizações de página

domingo, 9 de agosto de 2020

Livro aberto

 


Me beije se você estiver a fim

Me pegue se você estiver na vibe

Não culpe meus relacionamentos inexistentes

Para justificar sua falta de atitude

Eu sou, assim, livro aberto e alma leve

Se você tanto quer, então me carregue

E me faça feliz, me faça sorrir

Se você conseguir, serei toda sua

Se não, estarei por aí, do meu jeito

Desapegada, sossegada, bem resolvida

Pulando de galho em galho

Descendo de estação em estação

Até descobrir alguém que, de verdade

Desnude e decifre o meu coração


sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Tesouro

 

Eu não te amava nem poderia

Quando te conheci, ainda de outra pessoa gostava

Talvez eu ainda goste, não sei ao certo

O que sei é que, de tempo em tempo,

De momento em momento

Você ganhou meu miocárdio

Você passou a ser presença onde só havia ausência

Então, ao menos por justiça, dei a você o benefício

Não o da dúvida, ainda era muito cedo

Mas sim o da desconfiança, o da curiosidade

E você soube explorar o vácuo, soube penetrar a pele

E, sem perceber, eu já queria seu corpo cada vez mais

Queria seus beijos sem nada por detrás

E, logo, você me cativou de fato

E não mais quero viver sem você para abraçar

Meu fim de dia só é melodia quando seu sorriso me canta

E quando meu corpo te encontra

Aí sei que, enfim, encontrei o elo perdido

Aquela pessoa especial que tanto me encanta

A corrente que me prende ao tesouro escondido

De volta

 

Só quero sair daqui
Só quero respirar um ar puro
Mas tudo lá fora parece impuro, imundo
Quero minha vida de volta
Quero sorrisos nos rostos, leveza no olhar
Quero bares cheios, baladas pulsantes
Mas, cheios mesmos, estão os hospitais
E também as instituições sociais
Temos fome e temos uma doença
Não há cura para tanto mal
Que, pelo menos, então
Possamos segurar nas mãos de Deus
E acreditar que ainda dá para resistir
E na luta inglória seguir
Porque essa batalha está longe de acabar
Estamos desafiando o vírus e o verme
E, com eles a bordo, não há o que prospere
Mas que tenhamos a sabedoria e a paciência
Tudo vai mudar, vai melhorar
Mas dessa vez em definitivo
Porque, de nós, os sonhos ninguém pode mais roubar


quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Coveiros

Que tristeza, que dor de cabeça

Não sei se é o fim do mundo ou o pandemônio

Só sei que certezas não há mais

Não há mais o amanhã, a segurança do despertar

Tudo agora é nebuloso, turvo, tácito

Nada preside a providência da ação

Estamos ilhados, acéfalos, acrônicos

Estamos nos alimentando do próprio caos

Nos tornando células de nossas próprias células

Estamos canabalizando, banalizando o mal

E, assim, de assopro em assopro

Geramos o tornado letal, o vendaval

Que nos toma e nos tomba aos milhares

Não mais em dezenas e sim em centenas

Estamos em guerra, mas não com outra nação

Sim com nossa própria noção de civilidade

E, qualquer que seja o resultado, muito se sabe

Somos nós, brasileiros, os maiores derrotados

Ceifados pelas nossas próprias lanças

Destruídos por nossa própria sombra

Coveiros de nossa própria tumba

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Entre motivos e razões



Sim, esse texto usa a série “13 Reasons Why” como trampolim. E claro que isso aconteceu porque a série chegou a sua temporada derradeira.  E eu sei que é foda falar de uma série que aborda suicídio, estupro, bullying, drogas, violência, entre outros temas draconianos. É realmente uma atmosfera pesada e sangrenta que permeia todos os episódios. Tudo ali gira em torno da ideia de morte. Os personagens, estudantes do ensino médio, não lutam para chegar ao assento universitário e sim para sobreviver. Exageros à parte, é uma narrativa que oferece muito espaço para discussão. Em especial com a faixa etária da sociedade em idade escolar. Mas não vou falar disso. Não é esse o objetivo. Como educador e professor, é evidente que tenho autoridade para discorrer sobre esse tema. Mas não foi essa minha intenção quando abri a tela do Word para digitar. A motivação foi a série em si e o como as mudanças da narrativa acompanharam mudanças na minha vida. Quem não percebeu como Clay Jensen mudou? Aquele menino assustado e injustiçado da primeira temporada se transforma, no fim, em um líder rebelde, praticamente um John Connor, da franquia “O Exterminador do Futuro”. Acontece muita coisa, claro, entre uma parte e outra do processo. Se marcarmos temporalmente, a primeira temporada aparece como novidade em 2017 e acaba, lindamente, em 2020. Vocês se lembram como era a vida de vocês em 2017? Conseguem estabelecer uma relação de análise entre processo-produto para entender o que está acontecendo agora em 2020? Para muito(a)s, talvez pouco tenha se alterado entre esses quatro anos. Mas para outro(a)s, tudo pode ter mudado, como uma reviravolta, como uma revolução. Para mim, foi assustador e nostálgico chegar ao fim da série. Quando cheguei lá, automaticamente, rebobinei os pensamentos até a primeira temporada, quando ainda tudo se dava em torno de Hannah Baker. Minha vida também, àquela época, girava em torno de uma pessoa. Por minha culpa, tudo mudou e a minha Hannah também saiu de cena, embora, graças a Deus, esteja muito bem. Dali em diante, tudo mudou muito rápido para mim. Assim como também foi para Clay. Por razões diversas entre si, perdemos nossas Hannahs e tivemos que reaprender a caminhar. Acredito que para Clay tenha sido bem mais difícil do que para mim. Ele estava inseguro, perdido, apaixonado por um fantasma. Eu, ao menos, sabia que minha Hannah estava a um telefonema de distância. Passadas as temporadas (a primeira e a última, épicas, a segunda, bem aquém, e a terceira, um pouco melhor), percebi que eu e Clay não éramos mais os mesmos. Estávamos diferentes, moldados pelo sofrimento, chegando a um fim de túnel que não necessariamente representa um lugar melhor do que aquele de onde partimos. Mas ainda assim, chegar ao fim do túnel e ao fim da série dá esperança de que talvez tenhamos aprendido, colhido as duras lições que só as dores entregam. Talvez Clay e eu possamos respirar aliviados, não por saber que a história chegou ao fim, mas por saber que ainda virão novos episódios e novas páginas pela frente. Nossas Hannahs sempre serão lembradas com muito amor e com muita saudade, mas, através delas, saberemos que podemos e devemos ser melhores, como homens, como seres humanos. Então, que assim seja, que todos nós homens; homens iguais a Clay, homens iguais a mim, possamos todos nos reinventar, nos aperfeiçoar. Enfim, crescer para o Futuro. Devemos agora largar as rodinhas e sustentar a bicicleta da Vida com o nosso próprio equilíbrio. Não será fácil. Nunca foi. Mas é possível e devemos tentar até conseguir. Porque, seja como for, todos nós temos nossas “Razões” para seguir adiante e acreditar. Que hoje todos possamos nos espelhar em Clay Jensen e em sua esperançosa visão de um mundo melhor.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Humanidade



Sorrir, sonhar, seguir em frente
Temos todo o tempo do mundo
Mas não temos tempo a perder
Perdido já foi esse ano
Com tantas dores, mortes e perdas
É preciso olhar além e ter coragem
Dobrar a margem e mudar de página
Não sabemos o dia de amanhã
Mas será melhor do que o de hoje
Porque hoje foi tragédia, terror e pânico
Passamos pelo mais terrível momento em anos
Que isso seja forma de aprendermos
Nada vale mais do que a vida
Somos todos iguais; nem melhores, nem piores
Então que daqui para frente nossa esperança
Tenha uma só cor, uma só tonalidade
A tonalidade que rima com humanidade


sexta-feira, 3 de julho de 2020

Solução



Poderei voltar, quando e se você quiser
E já quisemos, já pudemos, mas nunca reacontecemos
Sei lá porque não
Sei é que não rolou
E nem por isso estamos sofrendo
Estamos, sim; vivendo
Cada um em seu canto, cada um em seu momento
E se é assim que tem que ser
Que assim seja
Sinceramente, estou feliz
Por mim, por você, por nós todos
A vida não é um jogo em que só poucos ganham
Se formos sinceros e democráticos
Veremos que todos ganham, que todos podem ser o que são
Porque, do pouco que sei da vida, sei é que
Cada um aqui nasceu para ser
Não mais e não menos do que feliz
E se alguém aqui me contradiz
Então que se renasça e se repense
Estamos aqui para ser muito mais
Do que se pensou, do que se imaginou
Vida vai muito além da ferida, da avenida
Vida vai além da morte, além da certeza presumida
Vida é o que dela fazemos
O que dela aproveitamos
Então, vamos parar de reclamar e vamos fazer
Os que curam e seguem
Sempre são os que enxergam, antes do problema; a própria solução

THE ROAD SO FAR



Até aqui, a palavra que me cabe é orgulho. Não sou eu quem devo me consagrar, lógico. Mas, nesse momento de pandemia e de meia idade, reflexões são sempre bem-vindas. E a estrada até aqui é, pelo menos, justa. Estou em uma posição da qual não posso me queixar.  Tenho o emprego que fiz por merecer e nele me mantenho por muito trabalhar. Continuo consistente e firme nesse blog, mesmo não sendo remunerado e não tendo tantos leitores. Quanto à literatura, sigo escrevendo e sigo produzindo. Tenho meus livros e meus projetos. Que Deus me abençoe para que todos eles encontrem o devido escoadouro. Sei que há muito pela frente e nesse rumo seguirei, porque, como disse o Profeta, “...temos todo o tempo do mundo...”

Queda Mortal



...A segurança de não ser rejeitava jamais compensaria a frustração de estar diante do homem que ama sem poder expressar seus sentimentos. Não é possível ultrapassar sem o risco da manobra. Não é possível superar o desfiladeiro sem o risco da queda mortal...

(Nem) Foi Tempo Perdido..., página 42

quarta-feira, 24 de junho de 2020

O Egito é aqui



Uma palavra, um castelo de cartas. Um beijo roubado, uma vida assombrada. É tarde demais ou ainda é cedo. Não importa o tempo. A pandemia e o pandemônio nos tornaram acrônicos, cômicos e canônicos. Rimos da própria chaga e ela em retorno nos mata. Aos milhares por enquanto. Mas talvez chegue aos milhões. Melhor não subestimar o Mal, mesmo que ele esteja morando junto aos fantasmas do Palácio do Planalto Central. Pode ser que eles tenham feito algum acordo, algo tipo uma rachadinha de cômodos para abrigar a todos, inclusive os filhotes. E a nuvem de gafanhotos? Pois é, lá pelos lados de Israel, que inspiram tantos aqui nos trópicos, insetos atacando em massa sinalizam maldição divina. Um castigo pelo desrespeito e destemor ao Pai. Mas aqui é “Deus acima de todos”, certo? É mesmo? E qual Deus gostaria de abençoar uma pátria cujo presidente venera um psicopata e torturador? Qual Deus se orgulha de um patriota que chama de “gripezinha” uma doença que matou mais de 50 mil conterrâneos? Acho que essa é a hora de juntar o Brasil com o Egito. Não é que, no final, Beto Jamaica e Compadre Washington se tornaram profetas? O Egito é aqui, os gafanhotos vindouros não nos farão esquecer. E olha que depois deles, outras pragas virão, assim como foi nos tempos bíblicos. Mas de boa, porque a “verdade vos libertará”. Acredito que nos libertará, mesmo, é de quem nunca deveria ter chegado lá, afinal de contas.

Zen



Nada acontece além do fato
Nada desperta quando não mais se adormece
É vida que se joga como um game
É game que se joga como vida
Tudo ao contrário, de ponta-cabeça
Como um Revirão, um enfermo são
Enfim, são tempos de distanciamento
E de uma bruta redefinição
Os incompetentes agora lideram
Os doentes se tornaram doutores
E o País se perde e verte
Sangue pela calçada, coriza pelas esquinas
Mas tudo fica bem, suave
Quando o artista preferido faz mais uma live
Ou quando o futebol volta como se fosse tudo normal
Talvez seja, talvez esse seja o futuro
Futuro que poucos imaginaram
Em vez de carros flutuantes e robôs sofisticados
Temos caos generalizado, hospitais lotados
Ainda sim, vamos em frente, vamos adiante
Amanhã tem festinha clandestina
Churrasco e birita na piscina
E amanhã que se foda se aparecer
Mais um bando de infectado
Só encher de cloroquina o próprio rabo
E vai ficar tudo bem, tudo zen
Tudo como dantes no quartel de Abrantes

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Estar só


O que é estar só? No fundo, nunca estamos sós. Sempre há um além, uma transcendência a nos acompanhar. O viajante da noite fria no deserto traz consigo a companhia do céu iluminado, com estrelas bailando e cintilando no horizonte festivo do infinito. O monge isolado em seu recinto nunca está só quando ora a Deus por misericórdia pelos pecados humanos. Ali com ele estão presentes tantas almas e tantas energias, que o ambiente se faz tomado por multidões, ainda que invisíveis. No fim, nunca estamos só. Partimos como chegamos, sempre assistidos e acompanhados por tantos a esperar pelo choro de quem nasce como também pelo ressonar de quem renasce. O desfecho é só o recomeço e a restauração de um fio que segue sem rumo pelo mundo ilimitado que se projeta para além do olhar. Acostumem-se a perceber que estamos muito acima e muito abaixo do que possa imaginar nossa "vã filosofia".

sábado, 28 de março de 2020

Gripezinha


Eu estou repensando muita coisa. Sou obrigado. São tempos loucos. Ficar longe da família, abdicar das pessoas que amo para protegê-las. Nunca pensei em passar por isso. É loucura absoluta, estamos às portas do hospício. Que Deus nos proteja e que estejamos firmes na luta. Não será fácil, não será de graça. Mas venceremos. Temos que vencer. Seja como for. Seja com isolamento, seja com distanciamento, seja trabalhando de casa, seja cuidando da família em tempo integral. O importante é estarmos juntos e termos fé. Unidos e coordenados sairemos maiores e melhores disso tudo. Mas, independentemente de como terminar, que se saiba sempre: nunca foi só uma "gripezinha".


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Dilemas



Já estamos há tempos nesse embate. Trocamos muitos socos, praticamos esmero pugilato. Meus olhos estão roxos, o nariz torto e o lábio rachado. Você também está ferido. Testa cortada, dente quebrado, maxilar ferrado. Mas não desistimos e continuamos digladiando, como ferozes deuses em uma arena romana.

De longe, ela apenas sorri, enquanto pateticamente lutamos. Mas qual a graça, qual a comédia dessa batalha tão horrenda? Talvez a resposta seja tão óbvia quanto uma piada. Ela ri porque não temos nada. Não importa quem vencer essa parada. Ela não será minha nem sua. Ali, também gargalhando, já está outro cara. O terceiro elemento, o novo afortunado.

E assim aprendemos que não adianta brigar por quem não mais temos. Machucados e abraçados, encerramos a contenda e fomos embora para casa. Não sem antes de, envergonhados, vê-los se beijando enquanto ficamos na amargura. É assim que sempre termina para quem acha na violência a solução dos dilemas que a vida nos apresenta.

Vista serrana



Não. Você não está perdida. Talvez esteja apenas momentaneamente desiludida. Mas isso passa, assim como toda tragédia e toda farsa. O panorama nebuloso cessará da vista serrana assim que você se puser de pé à terra plana. Ou seja, quando você sacudir a poeira e arregaçar as mangas da existência pós-real. Pois o que lhe deve o caminho do sucesso é o pós-real e não o presente factual com suas tantas falhas e incongruências. É ali na frente, no vislumbre de uma manhã ensolarada, que estarão as soluções contornando todo esse nada. E nada a ver mesmo esse momento atual de desilusões e desesperos, de abismos e sobrepesos. O seu melhor momento está ali, mas você precisa enxergar e apanhar. Ele está à sua espera, mas ele não pode te alcançar unilateralmente. É preciso que você se enfrente e limpe sua mente de tudo que não agrega. E com a bagagem leve e a coluna firme, você reencontrará seu oásis. Sim, aquele que esteve sempre ali, bem pertinho. Onde você depositou seus sonhos, onde você plantou seus amores e onde você descobriu suas paixões. É o cantinho da felicidade, para onde você costumava se refugiar diante da escuridão do luto e do pessimismo. Mas nada deve lhe tirar do rosto o sorriso. Você só precisa reaprender a caminhar, a jogar fora as rodinhas da bicicleta com qual a vida lhe equipou. É no que você tanto deseja que ressona o que lhe salva. Então se salve, agarre a tábua e saia desse pantanal. As suas realizações ainda são possíveis, ainda são construíveis. Mas você tem de resgatar aquela confiança, aqueles sentimentos seguros e sóbrios que a acompanharam por toda a infância. Você cresceu, mas seus ideais não morreram. Eles continuam lá. Não importa no que você acredita, mas é importante acreditar, ter convicção e renascer pelo que move seus sentimentos. A vida é feita por quem abraça a causa e se apega ao futuro. Derrotistas e capachos são apenas exceções justificando a própria regra, que é ser feliz e crer no melhor sempre.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Sobreaviso



Você chegou diferente. Olhos perfumados e cabelos tingidos de rosa. Por dentro, eu ri e achei um tanto estranho. Mas você não estranhou quando me vi por instinto te beijar. Talvez tenha sido o efeito da pinta que sublinha sua boca, talvez tenha sido a vontade de ver se havia alguma outra mudança além da cor dos seus fios. Nossos lábios se agarraram brutalmente. Trocaram golpes de língua, como guerreiros espartanos em sangrenta batalha. Você arrancou minha camisa, rasgou meu tecido e lambeu meus mamilos. Eu te joguei sobre a mesa, destruí seu sutiã e me aventurei no seu busto. Depois, escorreguei por meio de suas pernas e sequestrei seu clitóris. Você se retorceu como uma serpente e com as mãos sacudiu meu caralho. Depois, me sugou e me engoliu em um rompante orgástico. Eu não resisti. Fiz você subir e ondular sobre meu corpo. Gritamos, uivamos, enlouquecemos. E quando nossos orgasmos coincidiram, em uma explosão de porras condensadas, nos lembramos, por um momento, onde estávamos. Era minha sala, minha mesa de trabalho. Dali em diante, nada mais tinha sentido e tudo estava valendo. Transar com você era livre de todos os perigos. Não importa que você fosse casada, não importa que eu fosse seu associado. Apenas gozávamos e nos permitíamos tudo aquilo que por muito tempo nossos desejos tanto camuflaram. Agora não mais. A toda hora você vinha me chupar, onde eu estivesse não importava. E vivemos essa relação errada, grotesca e intensa até que nossa noção de sobreaviso retomou de onde nunca deveria ter saído. E tudo voltou a ser como era antes. Ainda que, de tempos em tempos, nossos olhares se busquem em flagrante tesão mal resolvido.

Fantasma



Eu vejo um fantasma por trás de uma estaca metálica. Eu vejo seu espectro flutuando sobre a paisagem. Meu corpo se toma de pânico e pesadelo. Ele me encara agonicamente. Eu fico aflito, começo a suar frio. Ele esboça um sorriso. Eu apenas paraliso. Ele balança a cabeça e consigo perceber seus cabelos balançar. Um sentimento de terror me rouba o fígado. Lágrimas meu rosto inundam. Luzes pulsam violentas no horizonte. Ele apenas mexe os lábios de maneira sinistra e intransitiva. Para depois descer a ladeira quando a manhã se avizinha. Junto a ele, uma horda de zumbis também deixa o recinto. E eu fico em estado de êxtase e assombro. Sinto que está tudo declinante, que corro perigo. Até que o segurança me alerta que a boate está fechando e eu preciso me retirar.

Revelação



O que você achou? Dos versos, dos terços, dos sorrisos, dos abraços... De tudo que te dei de coração aberto e espírito livre? Será que você, mesmo por um segundo, se entregou ou ficou comigo só por vaidade? Será que houve alguma verdade em tudo que vivemos? Fico com esse gosto amargo na boca, com essa sensação insossa de ter vivido algo pela metade. Eu não sou assim, eu sou intensidade, sou natureza, sou plenitude. Não quero ficar com essa ânsia, com essa angústia. Por isso, deixo você ir. Deixo você se guiar. Que seus sonhos sejam mais profundos do que essa xícara em que você nos mergulhou. Que seus textos sejam mais verdadeiros do que suas atitudes. Enfim, que você seja para outro alguém uma pessoa melhor do que foi para mim. Você merece ser mais do que tem sido e quem estiver com você também merece isso. Apenas faça por onde e faça valer. Você é bem mais do que esse esboço triste com quem convivi nos últimos meses. Tenho certeza de que há uma pessoa acesa e pulsante por trás desse olhar frio e vazio. Apenas se permita mais porque você tem muito mais a revelar do que a esconder.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Resto de nossas vidas



É hoje. Eu e você. Juntos finalmente
Meu coração dispara, acelera em linha reta
Minha respiração fica intensa, sufocada
Mas você é leve e rara, linda e inusitada
Suas mãos buscam as minhas e tudo se acalma
Meus pensamentos são seus prisioneiros
E minha fé tem em você a sacerdotisa óbvia
Os dias vão ficando doces e serenos
E as noites se tornam chamas incendiárias
Quanto mais conheço, mais falta conhecer
Quanto mais eu vejo, mais eu quero rever
Você é o jogo que nunca termina
O brilho que me ilumina
Com você, tudo é melhor e mais nítido
Tudo é diferente e produtivo
Sinto que é meu destino, minha história
Estaremos juntos e será uma vitória
Ter você comigo para correr todos os riscos
Enquanto bebemos cerveja e de nós mesmos rimos
Juntos enfrentaremos um mundo de desafio
Mas não teremos medo de encontrar o vazio
Porque em você eu encontrei as respostas
Para as perguntas que nem mesmo existiam
E meu coração por você já batia
Sem que eu me desse conta de que esse dia chegaria
Nosso dia, nosso encontro, o date para o resto de nossas vidas

Chegada



Enfim, chegamos. Mas a chegada não representa o fim. Ela apenas marca o fim de um ciclo para que outro se inicie. E todo (re)começo é pontuado por inseguranças e calafrios. Isso é normal, faz parte de nossa humanidade. Só não podemos nos entregar ao medo e deixar de seguir no caminho. Uma nova chegada nos espera, mas só é possível quando respiramos fundo e vamos com tudo. Que esse novo ciclo seja o início de uma era de prosperidade e bonança. Não há mal que não passe ou tristeza que se eternize. Tudo passa e tudo recomeça. E assim podemos ter a chance de transformar os erros em acertos ou de melhorar aquilo que já estava correto. O importante é se oportunizar sempre, sem receio do porvir e sem largar a fé. O caminho pode ser longo e desafiador, mas nunca estamos sozinhos. A vitória é certa, só depende de continuarmos convictos e unidos. Até o fim.


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Grito



Sufocante sinceridade narcisista
Estampada nas fotos de um vício
Na estradas das redes antissociais e patológicas
Vamos vomitando vazio, vamos desenhando discos
Que nunca serão escutados de maneira ativa
Que nunca serão lembrados de maneira reflexiva
Estamos flertando com o caos, com o desnível
Mal percebendo que de post em post
Estamos nos transformando em aparência
Sendo seduzidos pelas lentes e não pelo espírito
E assim, nessa vida de ócios oscilantes
Desimportamos que uma hora chega o grito
Seja em forma de depressão devastadora
Ou de um estouro que prediz o advindo tiro
E as tragédias que se somam e se sucedem
A poucos comovem e a pouquíssimos interessam
E, no final, sobram só as lágrimas temperadas
De quem pouco caso fez pelas perdas
E agora pranteia por que enfrenta a própria cruz
Sem o alívio imediato de uma esperançosa luz

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Pulsão




O gozo, a dor, a porra e o pó
Tudo junto e misturado
Somos terrível e quimicamente castrados
O fogo, a faca, a força e o fim
Tudo puro abstrato substrato
Para enganar quem percebe se iludir
Sinestesicamente: perdemos, encontramos
Damos, fodemos, sofremos, jorramos
E que toda pulsão caralhística
Seja mais por dínamo de tesão pecaminoso
Do que por culpa de moralismo reprimido
Não obedeça às regras do prazer definido
O prazer é o início e o fim do próprio vício
É autofágico e autofálico
É o pau que enraba o próprio cu
É o cu que goza como água
O filme só acaba quando a tela escurece
O jogo só se encerra quando o apito indica
E o sexo só termina quando o esquife se aproxima