Como pode,
por tão pouco, apostar tudo? Como pode arriscar o valioso pelo efêmero? Não
entendo sua lógica nem seus planos. Tudo em você me deixa atônito, tonto. Você
vai, mas só compra a passagem de ida. Vai pela estrada, pede carona, se joga de
ponta. Eu não sei ser assim, tão de onda, tão vida louca. Você me assusta, mas
também me encanta. É meu elo perdido, minha maçã do pecado. É alguém com
histórias para contar e noites a perder de vista. Em algumas dessas noites,
você me visita e em outras não. Quase te odeio por isso, mas não consigo, não
resisto. Quando esse sorriso desponta em seus lábios, meu coração se desarma e
minha defesa recai. Você tem tanto que não consigo acompanhar, mas eu vou indo,
fingindo que não quero, botando defeitos em tudo, mas sem tirar os olhos de
você.
Esse blog é uma gota de meu sangue, um plasma de meus sentimentos. Poesia, humor, política, dor, frustrações. É um espaço onde sou o que deveria ser ou o que nunca fui. É um lugar onde sou um personagem e uma entidade em vida. Sou um rio e também as pedras. A angústia perdida ou um sorriso espontâneo. Sou eu em múltiplas formas ou em forma alguma.
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sexta-feira, 25 de outubro de 2013
Maturidade
Foi preciso esperar
para acontecer
Foi preciso o mormaço para trazer a chuva
Eu me escondi entre
arbustos
Retranquei meus
sentimentos
Não fui sincero com os acontecimentos
Você ia e voltava,
bailava e chorava
Acumulou as
experiências, sexuais também
De uma mulher
saudável na plenitude dos hormônios
Eu queria, mas não deveria ser de qualquer jeito
Não esperava curtição, beijos breves
Meu desejo era maior,
era vontade de amar
E você veio a mim
Tempos depois, já
preparada
Já experimentara as
aventuras e desilusões da vida
Já estava madura para
entender o que eu oferecia
Ficamos juntos, nos
amamos demais
Vez ou outra,
comentavam que você era rodada
Que rodou por muitas
camas até chegar à minha
Eu entendia,
caminhadas são normais
Nascemos ignorantes e
só aprendemos com os erros
É preciso percorrer muito mato
Até chegar ao solo
sagrado, à terra prometida
Os que riam não entediam meu sossego
Ser o último da fila,
bater a sopa de outros
Eles não entendiam de amor
Apenas de sexo
rápido, fácil e prático
Talvez por isso, só
por isso
Os anos me trouxeram
felicidade e boa companhia
E os deles apenas abandonos
e histórias repetidas
Mãos dadas
Não foi preciso dizer. Meus
olhos, inseguros e oblíquos, responderam por mim. Claro que eu ainda gostava dela,
claro que eu me importava. E ela sorriu, fazendo pouco caso de me sentimento,
me empurrando para mais sofrimento. De mãos dadas com outro cara, ela se foi e
nem me viu chorar. Não de tristeza, de dor. Foi de raiva por ainda gostar dela,
por ainda estar apaixonado. Bebi para esquecer, para entender, tudo se
misturou: recordações, emoções, beijos, brigas, pazes e decepções. Trocando
pernas, me arrastei pelas ruas. Procurei outras bocas, outros corpos, mas nada
resolveu. Só acabou quando entendi que, para esquecê-la, eu devia me lembrar de
mim. Eu não podia colocá-la antes de mim, de minhas necessidades, de minhas
vontades e de meus sentimentos. Ela jamais se colocou depois de mim; porque eu
não fazia o mesmo, porque eu sempre repetia o mesmo ciclo de amargura? Mas
agora aceitei, aceitei que, antes de mim, não há ninguém. E lá fui: roupa nova,
perfumado, drinque à mão, à caça de uma nova presença para minhas noites. Sem
correria, sem pressa, sem revanchismo, só mesmo uma pessoa com quem eu possa
partilhar meu melhor e caminhar ao lado, nunca à frente, nunca atrás, mas
sempre ao lado e de mãos dadas.
Entrar no jogo
Diferente
tudo está
Meu
coração virou mar
Antes
foi denso sertão
Meus
dedos já não contam mais
Suas
idas e voltas, nossas reviravoltas
Nosso
amor é um carrossel
Ele
gira, circula, pendula
É
literatura de cordel
Simples,
mas intenso e sagaz
Alguma
coisa ficou pra trás
Nossas
pegadas não explicam
O que
nosso peito carrega
A
saudade me invade
Esparrama
o que disse sobre nós
E
tudo volta ao início
Onde
sei que era bom
De
onde temos medo de sair
Mas é
muita bobagem
Viver
é viagem
É ir
além da margem
É
trazer quem gostamos pelas mãos
E se
jogar no que podemos oferecer
Então,
vamos ser diferentes
Vamos
começar de novo,
Começar
melhor, entrar no jogo
E ver
se é mesmo verdade
Que
nossa faísca arde,
Que
queima como ferro e fogo
Um novo recomeço
Era importante você estar ali. Você deveria enxergar com seus próprios
olhos. Por mais que eu conte, palavras não conseguem ser tão fiéis à realidade.
Sempre serão negligentes, incompletas. E foi espetacular o que aconteceu, foi
cena de filme, de romance, de algo que vai muito além de nossas chances. Jamais
esquecerei o que vi e nem sei como lhe contar. Mas feche os olhos e tente
entender. Não há maldade que transcenda ao perdão, não há vaidade que
transfigure nossa paixão. Então, acomode-se e acomode a realidade ao seu jeito
de ser. Não mude tanto por nada. Mude tudo porque aquela noite transformou
todos os nossos sentidos. Foi mágico e orgástico, foi uma peça de muitos atos.
E havia ali seu espaço, seu palco. Mas você não apareceu, não tomou parte do
show. Algo ficou para trás e, contando a você, sei que não vai acreditar e, se
acreditar, sei que não vai entender. Feche olhos, mas isso não basta, abra sua
mente, agora sim, o que aconteceu será a semente de um novo recomeço.
Pântanos de ossos
Como quem não quer nada, vamos descobrindo
os fatos, vamos descobrindo as piscinas de ratos e os pântanos de ossos. Você
tentou encobrir rastros, você tentou ocultar seus passos, mas eu te segui, te
rastreei. Sei tudo sobre você, o que já fez e o que ainda faz. Não, não vou
contar agora. O bom jogador esconde as cartas nas mangas e as usa nos momentos
decisivos. Aguarde e verá o que estou reservando especialmente para você. Será
delicioso, mas não necessariamente indolor.
Líquido
Depois daquele líquido diálogo
Tudo ficou diferente, transparente
Como se o nada fosse o que vivemos antes
E o tudo fosse aquilo que estava a vir
O absurdo agora é algo lógico e
corriqueiro
Nem dá mais medo de olhar ou de pedir
Tudo agora e aqui é tão natural e
espontâneo
É um dia de sol, mas que também poderia
ser de chuva
Não estamos mais descontentes, no máximo,
carentes
Não há mais para onde correr,
Mas também não há mais do que fugir
Depois de tantos desencontros e fechadas
Depois dos trânsitos e das alvoradas
Tudo parece ter renascido pronto, planejado
Como as janelas abertas em dias quentes
Como as panelas que filtram o calor de
nosso alimento
Como o beijo que tanto adiamos apenas
pelo simples prazer
Prazer de vê-lo acontecer na hora exata, no ambiente adequado
Ou seja, quando mais já não era esperado,
Quando mais já não era tempo
Tudo pelo prazer de inverter a lógica e
as verdades absolutas
Tudo pela vontade de fazer o que
queremos,
Como aves que voam à noite,
Como águias que caçam predadores
Enfim, nosso tempo é atemporal
Não temos segredos ou confissões
Apenas deixamos que nossos barcos velejem
Enquanto molhamos os pés na água e o
vento acaricia nossas faces
Poesia entreaberta
Poesia é meu sangue
e minha saliva. Minha liberdade e também fidalguia. Algo que posso fazer com a
mente, mas que faço no coração. Algo que de mim requer sempre mais, sempre
melhor. Um sacrifício, um sacrilégio, pano de fundo, cartão postal. É de mim
retaguarda e vanguarda. É fogo que esfria, gelo que sufoca. Minha poesia é sem
fim, ela gira, inspira, se locomove e nunca termina. Ela segue existindo nos
olhos que leem, nas vozes que declamam. É meu corpo, meu sangue, o vinho tinto
que preparo com muito carinho. Minha poesia me transcende, ela diz mais do que
meu corpo e meus atos. É meu segredo, meu DNA de pensamento. Minha poesia
mente, mas também sente. Ela engana, mas também revela. Ela é uma porta
entreaberta, um convite a quem é curioso e um não a quem não se arrisca.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Voz e vez
É tolice acreditar no
amor, no elo que nos prende a outras pessoas. Mas por que não acreditar? Somos
amorosos por natureza, por essência. Pode contar. O que mais fizemos na vida:
abraçar o próximo ou socá-lo? O que mais fizemos: elogios ou ofensas? Temos o
gene e o dom da aproximação. Somos societários porque gostamos de calor humano,
de aperto, de proximidade. O amor é isso e vem disso. O toque, o cheiro, o gosto,
a especialidade de aproximações fazem dos corações novas fusões. E assim somos:
dóceis, fofos e carentes. Violentos, estúpidos e facínoras são exceções, elos
fracos e frutos podres que não podemos deixar representar a todos. Temos
defeitos, somos imperfeitos, mas somos legado de amor e afeto. Não vamos deixar
que a excrescência de alguns sirva de molde para todos nós. Vamos lutar, enfim,
pelo que somos, pelo amor e melodia que há no peito de cada um. Façamos antes
que seja tarde, antes que as raízes raivosas e destrutivas nos calem a voz e a
vez.
Deusa
"Minha deusa", foi assim que te chamei, foi com
esse pretexto que fui me aproximando, tentando ganhar seu sorriso e sua
confiança. Mas, no fundo, quem se aproximou foi você, você se aproximou do meu
coração de forma tão perigosa e intensa que é até capaz de ouvi-lo batendo. Sua
proximidade me faz bem, me faz sorrir, acordar feliz, gostar das manhãs. Tal
qual barco lançado ao mar, estamos indo, velejando, singrando águas
desconhecidas. Cada pessoa é uma terra perdida, cheia de mistérios e fascínios.
Os seus vou tentando descobrir, isso quando você deixa, quando dá brechas. Seja
como for, está bem, está muito bom. Não posso reclamar, ter você por perto,
mesmo não sendo ainda do jeito que eu quero, é um presente. Um presente que
magnetiza, que sintoniza, que me faz olhar por horas a fio o embrulho fechado,
morrendo de vontade de abri-lo e, ao mesmo tempo, morrendo de medo de perder o
encantamento ao fazê-lo.
terça-feira, 15 de outubro de 2013
Reencontros
Em matéria de mulher,
prefira o simples, o prático. Não complique, não invente. Não entre nessa de
joguinhos, de sedução ritualizada, descrita em livretos escritos por
adolescentes. Apenas seja você, apenas se lembre de que a garota é o foco e é
ela que deve ser agradada e não seu ego. Ganhar a confiança de uma mulher
requer abertura, então, se abra, se permita frágil para que ela possa
protegê-lo. Mas também ofereça seu ombro e um sorriso sincero. Não abra mão de
uma boa conversa, de olhos nos olhos, de diálogos com começo, meio e fim. Fale,
mas também escute e escute com atenção. Não fique babando nos seios, no quadril
ou nas pernas dela. Você já pôde observá-la antes de começar a conversa. Não
confunda papo generoso com "deu mole". Mulher não dá mole, ela apenas
lhe dá a chance de provar que não é mais um rapazinho que bebeu todas para se
encorajar a falar com ela. Varie os temas, faça com que ela fale sobre tudo que
a agrada, perceba, fale sobre o que ela quer conversar e não você. No fim de
tudo, se não houver um beijo, um telefone anotado ou, ao menos, um abraço de
despedida, pelo menos saiba que haverá o consolo de ela ir embora sem a
sensação de que perdeu tempo com um idiota que ficou tentando
"pegá-la" de todo jeito. Ficará uma boa impressão e ela não será em
vão. Acredite, essa vida é feita de muitos reencontros.
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
Admiração
Por que perdi tanto tempo pensando em você? O que de especial eu enxerguei em você que me trouxe até aqui? Eu demorei a perceber, eu demorei a entender que havia um padrão em tudo isso. Você era mais nova, mais idealista, mais sonhadora. Foi como vislumbrar meu próprio espelho de anos atrás. No fundo, eu me enxerguei nos seus olhos e no seu coração. Eu também tinha aquele mesmo brilho nas pupilas, aquela mesma fome e intensidade pela vida. Eu também já quis mudar o mundo no primeiro parágrafo, reescrever a peça no primeiro ato. E admiro você por ser assim. Rogo para que a vida e as más experiências não a mudem, como fizeram comigo. Que você sempre se preserve ativa, altiva e atuante. Que suas lutas tenham começo, mas não tenham fim. Eu não a julgo, sendo sincero, até entendo você. Você me deixou, mas não me deixou por nada, por capricho ou crise de identidade. Você me deixou por afirmação, por saber o que deseja, o que impulsiona seus sonhos. Você correu atrás do que queria e com as próprias pernas. Jogou tudo para o alto, apostou pesado e não olhou para trás. De longe, eu fico aqui triste, mas admirado. Torço, sem mentira e sem hipocrisia, para que você seja muito feliz.
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
Descontinuidade
Eu desisti de tentar
entender. Eu desisti porque nesse caminho, nessa corrida insana, eu mais perdi
do que aprendi. Seus descaminhos e suas desconexões eram, de início,
interessantes, mordazes. Mas o tempo mostrou que não era charme, mas sim pura
descontinuidade. Eu falei, eu não sou daqueles que largam as tarefas pelo meio.
Eu vou até o fim, eu faço para terminar, eu entro para ganhar. Mas você não
quis jogar, você quis apenas me testar, me moldar. Não é assim que faço, não
são essas as minhas regras. Eu respeitei as suas, eu segui suas normas. E você,
como prêmio, me desligou, não atendeu minhas ligações, não respondeu minhas
mensagens, nem mesmo me disse que já era tarde. Eu não vou tentar entender o
seu lado. Eu não vou tentar entender o que não passa de mero e puro
desrespeito. Apenas vou aceitar que com você não dá mais e que isso tudo foi
muito mais longe do que deveria. Ou mais longe do que você merecia.
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
Alquimia
É muito carinho que
lhe dou, é muita alegria que eu tenho quando estou com você. Você é meu mar,
sou sua areia. Você já me tem, mesmo que não queira. Tudo é especial quando
temos um amor, uma força nominal e única. Meu desejo por você tem dois lados: a
paixão e o cuidado. Quero que a gente pegue fogo, mas também que tenha um sono
sossegado. É bom que role um beijo de cinema, mas também um cafuné sem
compromisso. Vamos assim, pingando amor em nossas vidas, espalhando um sorriso
incontido a cada dia e vivenciando as noites ardentes de nossa doce alquimia.
Mentiras reunidas
Leve de mim o que
é leve, leve de mim aquilo que você pode carregar. Não se apegue ao que não
tenho, ao que não posso dar. Se eu prometo para lhe agradar, a primeira
estupidez é minha, mas a última é sua, apenas por acreditar. Façamos o seguinte,
sejamos livres, sejamos felizes. Não precisamos contaminar um ao outro, vamos
apenas dividir o que é bom e a capacidade de ajudar um ao outro. É melhor a
parte boa de um todo verdadeiro do que um inteiro formado por migalhas de
mentiras reunidas.
Esquina com o nada
Quando eu te vi, era
alta madrugada, quase esquina com o nada. Seus olhos enxergaram algo além do
meu vulto. Você fugiu e eu te persegui. Enfiei-me por entre becos e bares,
vasculhei as pontes e os mares, mas nada encontrei. Era o fim da noite, aurora
do sofrimento, mais uma vez busquei o vazio de um passado que me salta aos
olhos como se ainda existisse.
*******************
Quando quis chamar o
amor de meu, ele me escorregou por entre os dedos. O amor não é objeto para ser
de alguém, ele não é adestrado nem pode ser controlado. Amor é imensurável,
desbeiçado e sem amparo. Ele é conquistado nos detalhes, nas pequenas
diferenças. O amor se faz todo dia, o amor vai e volta, passeia por entre nós e
tantas vezes não notamos. O amor é presente, mas pena que poucos o percebam
para dele desfrutar.
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Na garganta
E quem explica a sutileza de
um lábio, a maciez de um beijo, o brilho cósmico de um olhar? Talvez eu não
entenda tanto de amor quanto eu queira, talvez meu sentimento seja mais sincero
do que intenso. Francamente, eu não sei explicar. Apenas sei que sinto e vivo e
que me sinto mais vivo por, simplesmente, sentir. Quando meu rosto se aproxima
do seu, tudo perde sentido e faz ainda mais sentido. É quase como explicar a
teoria da viagem no tempo ou o segredo das pirâmides do Egito. A ciência não me
cativa, o que me motiva, de verdade, é essa explosão, é essa sinestesia. Tudo
tem gosto, forma, cheiro e textura, tudo tem um porquê, assim que te vejo,
assim que te percebo. Minhas palavras não dão conta do que se passa quando você
passa. E minhas pupilas te acompanham, tentam te dar as mãos. Tudo, assim,
tarde demais porque tentei entender o que sinto em vez de, agora entendo,
correr até você para dizer. Se ainda for tarde, talvez demais, vai doer ainda
mais, mas assumo o risco, pois não me cabe mais na garganta, não me aguento
mais de vontade da vontade de você. Então, feche os olhos e ouça o que eu digo.
Sinta como eu me sinto. Se não der certo, ao menos, terá sido pela razão de eu
me abrir, de eu me excluir desse imenso e insólito labirinto.
Doces perigos
Os olhos espelhando-se
mutuamente. O prazer aberto em fenda, irrefreável. Os movimentos, as
ondulações. O vai-e-vem explosivo e sinérgico, algo que vai além da lógica, do
racional. O gozo em ondas e formas múltiplas, em constantes e variáveis
pulsações. Sei que pode me sentir, sei que pode me controlar. Eu apenas suspiro
e me entrego ao seu jogo. E você se joga, de cabeça, se lança e volta, cada vez
mais constante, mais rápido, mais impactante. São espasmos e grunhidos, são
fogos de artifício. Sei que vou, sei que já fui, sei que vou mais uma vez e
tantas outras mais. Você sorri, me ironiza, demonstra seu poder e que me tem na
palma, nos lábios, nos recônditos. Uma curva de sua silhueta me envolve e, mais
uma vez, as trevas de seu edredom me enlaçam e me lançam ao abismo de seus
doces perigos.
terça-feira, 8 de outubro de 2013
Álgebra
O
amor é um todo, não são pedacinhos que se encaixam, não é um castelo de Lego.
Se quiser amar alguém, não ache que isso será feito apenas com gentilezas,
agrados e beijos. O amor é grandioso, é algo estonteante, que pega fogo. O amor
arrebata, toma por assalto corações desatentos e pessoas desavisadas. O amor é
um tombo feio, daqueles que machucam a alma e deixam sequelas. Portanto,
cuidado. Trazer o amor de alguém para si requer algo a mais, o óbvio leva
apenas ao campo batido da amizade, do coleguismo. Uma pessoa não se interessa
por quem não a surpreende, por quem não a comove, por quem não lhe traz para
fora da zona de conforto.
Esse
é o segredo dos cafajestes e o ponto fraco dos bonzinhos. Bonzinho é bom, mas é
calculado, previsível. O cafajeste não. Cafajestes são paraquedistas,
velocistas, malabaristas. Eles vão pelo avesso, confundem o radar das garotas e
só param quando já fizeram um pouso seguro em seus miocárdios e colchões. É
assim que funciona. Eles chamam para uma volta, mas acabam promovendo um world
tour, conseguem tirar o fôlego e a roupa das mulheres de uma forma tão despretensiosa
que até parece que aconteceu por acaso. Os cafajestes, então, entendem as
mulheres? Não, isso porque são incapazes de levar uma relação séria a longo
prazo, sem traumas ou hematomas. Mas entendem de amor, ou melhor, do que leva
garotas a se apaixonarem por alguém. Logo, percebe-se que paixão é combustível,
lubrificante das engrenagens envolvidas em um relacionamento.
O
que cafajestes não sabem é que o amor é como o fogo, precisa de alimento para
ser mantido e, nisso, eles são péssimos. Sua adolescência tardia impede que os
vínculos sejam fortalecidos e renovados. Amor, então, precisa de bonzinhos, de
gentilezas, agrados e beijos. Sim, o amor precisa também de amizade, precisa de
companheirismo, cumplicidade, mãos que se ajudam. Viu como não é simples?
Pessoas querem emoções fortes, devaneios, mas, em algum momento, também querem
colo e aconchego. Essa álgebra dos sentimentos é delicada. Requer ondas
agitadas, mas também calmaria; requer beijos de língua, mas também beijos na
testa.
Amor
é um conjunto maior, habitado pelas paixões, pelos sentimentos, pelas carícias
e carências. O balanço desse todo no espiral das consciências é que torna o produto
final como é. E essa equação pode levar a tantos resultados: felicidade, alegria,
tesão, delícia, tristeza, decepção, frigidez, mentira, amor, desamor, harmonia,
melancolia ou tanto mais ou tanto menos Eis o amor, um elo, um selo, um todo
que de nós tanto faz e tanto traz, um todo que pode ser uma mágica, uma solução
ou apenas uma desilusão, um convite ao recomeço. De toda a forma, de todo o
jeito, entender o amor e o que ele provoca, como nos sufoca ou nos invoca, nos ajuda
a dar um novo passo, sem o peso dos medos e dos choques que o passado legou.
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
Apocalipse
A cama dele era larga, king size, sempre coube muita companhia,
muitas meninas. Era considerado um apocalipse sexual. Alguém que faz das noites
um exercício incendiário, de pura e imoral luxúria. Colecionou amantes,
ficantes, peguetes e piriguetes. Foi um deus em carne, um lobo faminto e
insaciável. Os anos não sossegaram seu ímpeto, mas seu corpo sim. Algumas dores
pontuais e localizadas se tornaram mais intensas e crescentes. Era o pior
possível. Um câncer. Tratamento longo e excruciante. Quimioterapia, remédios,
internações... Era um filme de terror e drama que se tornava real. Era preciso
ter fé e esperança para sair daquela chama. O diabo lhe convidada para a dança
e ele só queria escapar. Em seu leito, poucos amigos e alguma família. Era a
única gente que com ele se importava. Muitos tinham seu contato, sabiam de seu
estado, mas não apareciam. Fingiam não saber de nada, desconversavam quando o
nome do enfermo era citado. Um gigante esquecido, talvez um Great Gatsby
revivido. Abandonado, mas também fortalecido por aqueles que lhe tinham como
querido. A improvável recuperação aconteceu. Seu organismo enfrentou o mal e o
extirpou. Foi um milagre científico. Mas não para ele. Jamais se esqueceu de
cada segundo daquela batalha, uma guerra mundial travada no íntimo de seus
tecidos. Deixou o hospital como alguém que nasce das cinzas, renasceu em seu
próprio cadáver. Teria muito a viver? Como seria o futuro? As festas, as bebidas,
as mulheres ou a paz das companhias valorosas que lhe sustentaram em luta?
Poderia conciliar os dois ou renunciar a ambos? Ele respondeu a tais questionamentos com um sorriso e partiu em direção ao nada, sabendo bem o que procurava.
Sujar as mãos
A vida pode
ser quietude, passividade e sossego. Pode ser à beira mar, com sabor de
pêssego. Mas vocês conseguem viver assim? Vocês conseguem largar tudo, se
alienar do mundo e partir por aí? Alguns sim e muitos com certeza. Mas eu não.
Jogo no time dos incomodados, dos inconformados, daqueles que se perturbam com
o status quo. Dizem que os
incomodados que se mudem. E estamos nos mudando, mas levando o mundo junto
conosco. Sempre acreditei na transformação, na necessária mudança. Não é mudar
por modismo, para criar tendência. É mudar por algo e por alguém. O modelo
atual ainda é invasivo, excludente, deprimente. Serve para poucos e não para
todos. Aí, eu enxergo a obrigação da mudança, da reorganização dos fatores.
Seria ilusão e ingenuidade querer tudo diferente de forma expressa, a jato.
Porém, dá para fazer, dá para mexer a massa, bater o concreto e encaixar os
tijolos. Precisamos da coragem para sujar a mão de graxa, fuçar nas
engrenagens. Não quero que todos tenham camaro amarelo, mas sim que haja um
teto para cada um, brasileiro ou não. Quero que comida seja algo natural no dia
a dia, quero que as empresas produzam, empreguem e cresçam. E também quero que
o trabalhador opere, prospere, mas que também descanse. Quero que as oito horas
se tornem seis, para que mais pessoas possam trabalhar e consumir. Quero que o
salário médio e o mínimo não ensejem sobrevivência, mas uma vida em que exista
o mínimo de conforto e recreação. Não é um sonho e sim uma meta. Talvez a
metade que ainda falta a fazer. Não sejamos alarmistas. O país melhorou,
progrediu, incluiu, mas ainda não o suficiente. Não atribua isso a Lula, Dilma,
FHC, Itamar ou Collor. O que fez o Brasil melhorar foi a democracia, com
eleições livre e diretas, com imprensa livre, com pluralidade de partidos e
ideologias. Sei que as pessoas ainda se confundem e confundem fazer político
com benefícios pessoais. Tudo bem, sem problema. A mudança vai varrer para
longe toda essa sujeira, toda essa corrupção de valores e de caráter. Apenas
tenhamos em foco que não se pode parar, as ruas não podem se acostumar ao
silêncio cidadão e ao ruído dos criminosos. Somos nós, é nossa responsabilidade
tomar as esquinas e avenidas e fazer a roda viva girar. Não se cale, não se
torne lobo de sua própria hipocrisia, a marcha, a dos democratas e civilizados,
deve continuar. O mar continuará onde está, continuará à espera depois nossas
lutas e embates.
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
Minha dor
Tenho uma dor no peito,
uma dor que hora cresce, que hora se acalma. Uma dor que me acompanha por dias,
meses e anos. Ela começou quando eu nasci, quando ganhei o mundo e um registro
oficial. De tantos nomes, tive um em especial. Dali em diante, fui acumulando
feridas, lesões e hematomas. Tudo se escondendo e se alojando nas brechas
cardiológicas. Agora, nem me lembro o quanto de dor eu carrego, mas vida
inteira pode ser contada a partir dela. Ela explica quem sou e como sou,
explica o que me move e o que me fere. Essa dor passa por minha família, meu
amigos, meus amores, ela também atravessa desafetos, antipatias e desilusões.
Tudo por uma noite, tudo para não lembrar mais. Mas eu me lembro e me lembro
também da bebedeira, das festas, das bocas, das camas e da manhã seguinte. Isso
também vai parar naquela dor no peito. Na verdade, minha vida é uma dor e o que
sou resulta desse atrito. Queria apenas esquecer quem eu sou, mas, para isso,
teria que abrir mão do meu caminho, do meu orgulho. Eu teria que recomeçar,
então, nesse ponto, eu me lembro. Terá sido assim tão ruim, não terá essa dor
me ensinado nenhuma lição, não terá essa dor sido acompanha de tantas alegrias
e emoções? No meu caso, bem especificamente no meu, a dor arrastou um pacote,
que inclui as maravilhas e as delícias de ser quem eu sou, meio louco, meio
tonto, mas plenamente feliz. Quer saber? Deixa quieto, minha dor me entende e
com ela convivo bem, não é a mais harmoniosa das relações, mas, juntos, crescemos,
aprendemos e evoluímos. Talvez sejamos nossas caras-metades, os dois lados do
mesmo mural. Enfim, somos felizes e doídos e isso nos basta.
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Pedaço
Eu não vou roubar
você de si mesma. Eu não posso te soltar, se você nem está presa. Eu não posso
perder o que nem tive. Eu tive de você atenção, palavras doces, algum carinho e
poucas noites. Sei que você não estava lá, que não se entregou, que não abriu
suas asas. Tudo bem, tanto faz. Não precisa ter medo, me evitar. Não sou ameaça
nem nunca fui. Apenas tentei ser especial para você, fazer você me ver como
desigual, como alguém para quem você aponta o dedo e diz: "Ele é o
cara". Quis ser seu cara, mas nem passei da metade da página. Sem
problema, eu sei que tentei, sei que não faltou meu esforço. Não era para ter
sido comigo, isso eu entendo. Apenas não se desfaça do que vivemos, do que eu
senti. Para mim foi importante, então não me negue, não me apague. Apenas me
aceite como um cara determinado, que fez parte da sua vida e agora não faz
mais. Fiz de tudo, me doei por inteiro e doeu por algum tempo, mas agora não
mais. Então, de boa, apenas aceite que da sua vida levo um pedaço e o orgulho
de ter sido uma pessoa que esteve, de verdade, ao seu lado.
Beijo secreto
Um
beijo
Silêncio
Dois
olhos inertes
Encarando-se
em dúvida
Não
era para ter acontecido
Não
foi ruim, mas foi trágico
Ela
estava na pior, desiludida
Ele
era um velho amigo, um querido
Foi
socorrê-la, dar consolo
Depois
de mais um término
Mais
um fim de namoro
Namorada
ele tinha
Mas
isso nunca foi problema
Eram
só amigos, não passava disso
Mas
naquela noite passou
A
relação passou a ter novo sentido
Tudo
muito confuso, embaralhado
Ele
agora era infiel
E
ela uma pessoa inconfiável
Não
podiam assumir nada
Nem
mesmo mais a amizade
Era
estranho, sombrio
Quase
uma frase sem sentido
Continuavam
o carinho, a cumplicidade
Somado
a isso um novo elemento
Um
novo inesperado tormento
Ele
não contou para a namorada
Manteve
o relacionamento
Ela
não mais quis vê-lo
Era
prudente manter distância
Apenas
se falavam por internet, telefone
Não
mais que isso, sem mais compromisso
Mas
aquele beijo não saía da memória
Não
era amor, paixão, rompante
Foi
apenas fraqueza, carência, momento
Mas,
mesmo assim, muito significava
Foi
o começo do fim para os dois
Foi
uma nova forma de se enxergarem
De
entenderem que por trás da amizade
Estavam
um homem e uma mulher
Duas
pessoas que não conseguiam mais separar
Duas
pessoas que não podiam mais evitar
E,
assim, mantiveram o beijo secreto
O
beijo que revelou que eram amantes
Não
entre si, mas do que tinham
Amavam
a amizade e a atração mútua que exerciam
Mas
esconderam tudo, como adolescentes assustados
E
assim tudo ficou: nublado, diluído e muito mal resolvido
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