A cama dele era larga, king size, sempre coube muita companhia,
muitas meninas. Era considerado um apocalipse sexual. Alguém que faz das noites
um exercício incendiário, de pura e imoral luxúria. Colecionou amantes,
ficantes, peguetes e piriguetes. Foi um deus em carne, um lobo faminto e
insaciável. Os anos não sossegaram seu ímpeto, mas seu corpo sim. Algumas dores
pontuais e localizadas se tornaram mais intensas e crescentes. Era o pior
possível. Um câncer. Tratamento longo e excruciante. Quimioterapia, remédios,
internações... Era um filme de terror e drama que se tornava real. Era preciso
ter fé e esperança para sair daquela chama. O diabo lhe convidada para a dança
e ele só queria escapar. Em seu leito, poucos amigos e alguma família. Era a
única gente que com ele se importava. Muitos tinham seu contato, sabiam de seu
estado, mas não apareciam. Fingiam não saber de nada, desconversavam quando o
nome do enfermo era citado. Um gigante esquecido, talvez um Great Gatsby
revivido. Abandonado, mas também fortalecido por aqueles que lhe tinham como
querido. A improvável recuperação aconteceu. Seu organismo enfrentou o mal e o
extirpou. Foi um milagre científico. Mas não para ele. Jamais se esqueceu de
cada segundo daquela batalha, uma guerra mundial travada no íntimo de seus
tecidos. Deixou o hospital como alguém que nasce das cinzas, renasceu em seu
próprio cadáver. Teria muito a viver? Como seria o futuro? As festas, as bebidas,
as mulheres ou a paz das companhias valorosas que lhe sustentaram em luta?
Poderia conciliar os dois ou renunciar a ambos? Ele respondeu a tais questionamentos com um sorriso e partiu em direção ao nada, sabendo bem o que procurava.
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