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sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Apocalipse


A cama dele era larga, king size, sempre coube muita companhia, muitas meninas. Era considerado um apocalipse sexual. Alguém que faz das noites um exercício incendiário, de pura e imoral luxúria. Colecionou amantes, ficantes, peguetes e piriguetes. Foi um deus em carne, um lobo faminto e insaciável. Os anos não sossegaram seu ímpeto, mas seu corpo sim. Algumas dores pontuais e localizadas se tornaram mais intensas e crescentes. Era o pior possível. Um câncer. Tratamento longo e excruciante. Quimioterapia, remédios, internações... Era um filme de terror e drama que se tornava real. Era preciso ter fé e esperança para sair daquela chama. O diabo lhe convidada para a dança e ele só queria escapar. Em seu leito, poucos amigos e alguma família. Era a única gente que com ele se importava. Muitos tinham seu contato, sabiam de seu estado, mas não apareciam. Fingiam não saber de nada, desconversavam quando o nome do enfermo era citado. Um gigante esquecido, talvez um Great Gatsby revivido. Abandonado, mas também fortalecido por aqueles que lhe tinham como querido. A improvável recuperação aconteceu. Seu organismo enfrentou o mal e o extirpou. Foi um milagre científico. Mas não para ele. Jamais se esqueceu de cada segundo daquela batalha, uma guerra mundial travada no íntimo de seus tecidos. Deixou o hospital como alguém que nasce das cinzas, renasceu em seu próprio cadáver. Teria muito a viver? Como seria o futuro? As festas, as bebidas, as mulheres ou a paz das companhias valorosas que lhe sustentaram em luta? Poderia conciliar os dois ou renunciar a ambos?  Ele respondeu a tais questionamentos com um sorriso e partiu em direção ao nada, sabendo bem o que procurava. 

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