Seu
nome é Júlia Rebeca. Sim, você se chama Júlia Rebeca e é uma jovem de 17 anos. Fã
de Miley Cyrus, você tem planos e sonhos. Você é ingênua, acredita nas pessoas
e as mede por sua própria inocência. Talvez, algum dia, você tenha se reunido
com amigos e bebido um pouco além da conta. Mas tudo bem, afinal, eles são seus
amigos. Sob efeito de álcool, você acaba beijando um de seus amigos, é
engraçado, todos riem. Logo, todos estão brincando de salada mista e muitos
beijos acontecem. Na explosão de hormônios e na empolgação típica da
adolescência, alguém tira a roupa. O gesto se repete e não demora para que
todos estejam nus. Dos beijos, acontece sexo, a bebida e o êxtase do hedonismo
levam você a se entregar mais de uma vez e a mais de uma pessoa. Hoje, há
câmeras em tudo e todo lugar. Inevitavelmente, tudo é filmado. Mas todos se
prometem que nada sairá dali, que tudo é um pacto de amigos, uma diversão
confiável. Combinou-se que vocês veriam o filme, ririam de tudo e, depois, ele
seria deletado. Você está tranquila, seus amigos jamais a colocariam em uma
fria dessas. No dia seguinte, você acorda de ressaca e um pouco arrependida por
ter feito tudo aquilo. Mas tudo bem. Que adolescência não deixa marcas? Que
juventude não traz arrependimentos de uma vida explorada intensamente? Você vai
levando, um dia de cada vez, alegrias e aborrecimentos se alternando, como
sempre. Mas não dessa vez. Alguém liga para você. A voz aterrorizada. Uma
timidez muito estranha. Logo, a notícia. O despretensioso vídeo está na
internet, se espalhando pela rede, ganhando “curtidas” e sendo assistido por
milhares. O pânico toma conta de você. Como podem ter feito aquilo? Como podem
expor você a tanto? Mensagens e brincadeiras maldosas não param de chegar a seu
computador e a seu telefone. Piadas grosseiras, propostas indecorosas. Páginas
surgem com seu nome, anunciando Júlia Rebeca como a nova estrela do pornô
caseiro. O desespero toma conta. E sua família? O que diriam, como aceitariam
isso tudo? Você é apenas uma menina de 17 anos, sem estrutura psicológica para
suportar um baque desses, sem ter onde se escorar. Não há a quem contar algo
tão íntimo sem ser julgada, escorraçada. E agora? Até mesmo o telefone
residencial começa a tocar sem parar. Novas piadas, xingamentos, ofensas de
pessoas que há um segundo nem sabiam de sua existência. O seu mundo começa a desabar
e você não tem força para sustentar os escombros. Não há para onde correr ou se
esconder. Sua família vai descobrir, vai expulsá-la de casa, cortar relações.
Seus amigos vão chamá-la de vadia, piranha e coisas piores. Acabou. Você fecha
a porta. Chora, se acaba em pranto. Acabou. Onde estão aqueles que prometeram
protegê-la? Estão escondidos atrás de seus celulares e tablets se gabando, se
divertindo, posando de garanhões. Acabou. Nesse enredo, são todos heróis e você
a vilã, a prostituta de luxo. Você chora mais, seus olhos quase saltam do
rosto. Acabou. Você respira, não quer conversar, então, se despede de quem
talvez ainda possa se importar com você. Deixa uma mensagem em uma rede social.
Quem sabe, algum dia, poderão entendê-la, poderão compreender a agonia que não
a deixa em paz? Acabou. Você respira pela última vez, o corpo tomba em um sono
profundo e irreversível. Finalmente, talvez, pela primeira vez em toda essa
história, irão tratar você como vítima, irão tentar compreender sua decepção,
sua angústia, sua aflição. Talvez haja um lugar melhor lhe esperando, com
pessoas em quem você pode verdadeiramente confiar.
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