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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Predadora


Tem um cara parado ali, no canto, à espreita. Ele sorri e lhe acena com a cabeça. Seu sorriso é lindo, um rosto másculo, mas com malícia de moleque. Você se rende e deixa que ele lhe pague um drinque. Talvez até dois. A conversa rende, ele é inteligente, interessante, viajado. Tem respostas para todas as suas perguntas e faz perguntas que você sempre quis responder. O rosto dele se aproxima do seu e ele lhe beija no canto dos lábios. Você estremece, sente uma corrente elétrica lhe atravessar as vértebras. Ele sorri novamente, a barba por fazer lhe deixa ainda mais intrigada. Ele segura suas mãos, faz você se sentir protegida, acolhida. Ouve seus desabafos sobre um dia difícil, estimula você a se abrir. Logo, ele já sabe muito de você, talvez mais do que deveria. Você não se importa, ele é legal, parece muito confiável. Não demora e, quase como em um encanto, você está no apartamento dele. Não lhe incomoda o fato de ser um imóvel vazio, sem plantas ou objetos de decoração. Não há fotos nem livros. Só pouca mobília e alguns eletrodomésticos. Ele diz ser divorciado, pai de três gatinhos. Você acha adorável o jeito como ele diz o nome dos bichos, com aquele carinho de quem ama e cuida. Ele lhe beija e você se entrega. Logo, suas roupas estão espalhadas pelo piso, enquanto seu corpo adormece ao lado do dele. No dia seguinte, você acorda sozinha. As roupas dele se foram como em um toque de mágica. Mas, logo, a silhueta dele cruza a porta da sala. Ele chega com pães frescos e suco natural. Vocês tomam café, trocam algumas palavras e os números de telefone. Ele sorri e salva o contato no smartphone. Mal ele sabe que já está apaixonado, mal ele sabe que vai lhe ligar tantas vezes em vão, mal ele sabe que você não era a presa frágil de uma noite de sorte, mas sim a predadora cruel que acabara de lhe arrancar o coração com a ponta das unhas.

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