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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Grãos da incerteza


Se você se revelasse, eu teria coragem. O que bate por você em mim é muito forte, é um vendaval. Mas tenho medo do seu não, de você rir de mim como quem ri de um bufão. Tenho medo de falar de amor e você falar de amizade, como se eu fosse uma criança se declarando a uma mulher. Tenho medo de você me ridicularizar, de contar para suas amigas que eu queria algo com você, logo eu que sou sem graça, sem jeito e sem noção. É tanto medo que tenho até medo de ser feliz. Imagina você dizer sim, me beijar e me trazer junto ao peito? Sei que eu poderia infartar, morrer de amor, morrer por conseguir o que tanto queria. Mas é pura bobagem, jamais conseguiria. Você é bonita, descolada, gente boa e inteligente. Eu não sou nada disso. Nem mesmo esforçado. Ficar deitado de noite, pensando em você, é o que me resta. Resta também ficar ouvindo alguns caras dizerem que ficaram com você. Sei que é mentira, conversa fiada. E se não fosse? O que eles teriam demais, o que eles teriam que não há em mim? Coragem, músculos, jeitinho? Daria muito para saber a resposta. Seria mais fácil se eu perguntasse a você, a fonte direta e verdadeira. Mas aí me bate aquele medo, aquele friozinho na barriga. Tudo bem, o não eu já tenho e o sim seria um milagre. E daí? Tanto faz, melhor saber logo e sofrer de uma vez do que remoer os grãos da incerteza. E, para ter certeza, não vou ligar nem chamar no Skype. Prefiro que seja na lata, cara a cara. Depois de lavar o rosto dez vezes e banhar meu rosto outras cinquenta, lá vou eu. No risco, na coragem, eu vou. Bato a campainha, peço para você descer. Enquanto espero, me bate um pânico, quase faço xixi ali mesmo, no hall do prédio. Você aparece, minha garganta seca, minha língua se enrola em um nó. É agora, só depende de mim, vamos lá, olho no olho, vamos ver no que dá...  

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