Eu
poderia dizer tanto, mas qual o significado das palavras nessas horas, que
diferença faria? Não sei dizer, talvez um sentido protocolar, um indicativo de
que nos importamos minimamente. A verdade, porém, é que ainda nem sei como
reagir. É como perder a noção de tempo e espaço, sem sair do lugar e com o
relógio no pulso. É como perder o sono e, mesmo assim, continuar na cama. Essas
dores são o que desafiam o senso comum e nos tornam tão iguais. O sofrimento
nivela por baixo, nos rebaixa aos instintos e a nossa ascendência primata.
Agora, eu vejo como o luto e a luta estão próximos. Lutamos para manter a
dignidade, os pés no chão, ainda que o mundo tenha acabado de desmoronar.
Lutamos para receber cumprimentos e condolências, sendo que nossa vontade é
também de ir para o fundo da cova. A sensação que desabrocha é a de que devemos
nos manter eretos, talvez porque seria esse o desejo de quem se foi. Enfim,
nessas horas, ligamos o piloto automático e nos deixamos guiar pelo acaso. O
coração sangrento precisa se recuperar, mas quem nos dá o tempo para fechar as
feridas e as sangrias? É tudo muito raso quando se trata da lembrança que arde,
queima e maltrata. É preciso que nossa cabeça não se solte do corpo, embora o
peso para que isso ocorra ganhe uma força motriz descomunal. Se de pé
resistimos, é sinal de que ainda não há descanso para quem fica. É preciso ir
para algum lugar, mesmo que seja de preto e com os olhos encharcados.
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