Ano
passado, escrevi um texto sobre o fim do sofrimento corintiano na Libertadores. Na
época, escrevi que o triunfo alvinegro poderia representar a possibilidade de
títulos para outras equipes brasileiras que ainda não levantaram a taça da
Libertadores. Era como se o título dos paulistas tivesse rompido o lacre que
selava o tabu da competição.
E
o que acontece esse ano? Sim, o Atlético-MG, que ainda não tinha uma taça à altura
de sua história e tradição, conseguiu colocar a faixa no peito. Conquistou o
título que o rival Cruzeiro tanto ostentava para humilhá-lo. Agora, o campeão
do Gelo também é campeão da América.
E
como um time sem expressão internacional (em termos de títulos) conseguiu
superar as excentricidades da competição sul-americana? Simples, o Atlético-MG
jogou como Atlético-MG, foi forte, vingador e indomável. Mesmo nos jogos mais
difíceis, não faltaram vibração, confiança e foco. Se houve derrota fora de
casa, o troco veio no Horto, um verdadeiro poleiro em preto e branco.
Não
acho que o cara do Atlético-MG foi Ronaldinho Gaúcho. O R10 só brilhou na
primeira fase e nas oitavas de final, contra o São Paulo. Fora isso, foi um
jogador apático e “normal”. Nas decisões, nos momentos agudos, quem deu a mão,
literalmente, à palmatória foi Victor. O goleiro atleticano operou milagres e
pegou pênaltis decisivos. Tornou-se um monstro à frente dos atacantes e
batedores. Foi o camisa 1 que todo torcedor sonhava.
As
“torres gêmeas” Réver e Leonardo Silva também se destacaram. Seguraram a onda
lá trás e ainda apareceram na frente para ajudar o ataque. São preciosidades no
cenário atual do futebol brasileiro. Se não concorda comigo, pergunte a um
são-paulino, que sabe muito bem o que é sofrer com Lúcio, Tolói, Paulo Miranda,
Edson Silva... Caso ainda não esteja satisfeito, questione um torcedor do Fluminense
sobre o futebol de Gum, Leandro Eusébio e Digão.
Fiquei
decepcionado com Tardelli e Bernard. Embora talentosos e esforçados, acredito
que jogaram muito menos do que sabem. Se repetissem o bom futebol da fase de
classificação, com certeza, Cuca e atleticanos não teriam sofrido tanto.
De
resto, destaco a luta dos volantes Pierre, Leandro Donizete e Josué. Jô,
Alecsandro e o polivalente Luan também contribuíram muito com gols e vibração.
Marcos Rocha foi fundamental com sua correria e poder de marcação. Guilherme
teve seus momentos de glória contra o Newell´s Old Boys, nas semifinais.
Richarlyson, para mim, foi o pior. Grosseiro e estabanado, atrapalhou muito
mais do que ajudou e só se manteve no time por teimosia do Cuca.
Por
falar em Cuca, ele é um caso à parte. Treinador cheio de manias e superstições,
ele mereceu cada palmo dessa conquista. Ao contrário de muitos colegas de
profissão, é simples, dedicado e estudioso. Sabe armar equipes ofensivas, que
jogam bonito e convencem. Porém, Cuca tinha a cruz de perdedor, de vice. Isso
tudo foi pelo ralo porque ele soube ter ousadia, mexeu as peças e a disposição
tática da equipe. Chorou, pulou, rezou, acreditou e venceu. Colocou seus
conceitos acima das vaidades, fez o Atlético-MG jogar com alma e personalidade.
Enfim,
como se vê, foi uma conquista de muitos heróis e protagonistas, como bem deve
ser em uma equipe compacta, bem armada e equilibrada. É resultado também de uma
profunda reformulação do Atlético-MG que, hoje, paga bem, em dia e oferece a
melhor infraestrutura do futebol nacional.
Sem
dúvidas, Cuca e Atlético-MG podem ser orgulhar do que têm na estante. Essa
Libertadores está nas mãos de quem a merece. Em suas trajetórias, Cuca e
Atlético-MG já foram muito sacaneados por arbitragens maldosas e perderam
títulos importantes por entre os dedos. Agora não. A América é alvinegra e
atleticano algum precisa mais olhar a grama do Cruzeiro, achando-a mais verde.
A inveja, em Belo Horizonte, mudou de lado e de cores.
Agora,
com a constante alternância de campeões brasileiros da Libertadores, qual time
você acha que vai levantar a taça ano que vem? Será que vai pintar uma nova
surpresa, um campeão inédito? Será que algum time já campeão vai retomar a taça?
Será que o Cruzeiro, enfurecido com sucesso do Galo, vai brigar pelo título? Ou
o Atlético-MG vai mudar a escrita e faturar o bicampeonato? Faça sua aposta. A
corrida pela Libertadores 2014 já começou.
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